Vila do Almoxarifado de 1938 - pequenas vivendas modernistas na Baixa de Maputo (1/2)

Mostramos nesta mensagem duas vivendas modernistas na baixa construídas em 1938 e que por coincidência foram demolidas poucos dias depois do blogue as ter fotografado no final de 2012. 
Ver a mensagem seguinteLamentávelmente o HoM cumpriu aqui um dos seus objectivos pois não conheço outras boas imagens destas vivendas e não sei que procedimentos se seguem em Moçambique para registar o que é demolido.
Estas vivendas formavam uma pequena Vila (do Almoxarifado para funcionários da Fazenda) que foi formada numa rua paralela à Av. 25 de Setembro (ex Av. da República) um pouco na continuação da Rua Joaquim Lapa depois desta cruzar a Rua da Imprensa. Ficavam por isso na zona do Hotel Tivoli mas do outro lado da Rua da Imprensa. 
O Arq. André Ferreira na já citada dissertação sobre OBRAS PÚBLICAS EM MOÇAMBIQUE, Inventário da produção arquitectónica executada entre 1933 e 1961 tinha incluído estas vivendas que por isso tinham certo valor histórico e arquitectónico.
Foto original do HoM - clique para aumentar
Vila do Almoxarifado - esta era a vivenda da direita  
(ao lado está o novo edifício da Direcção Nacional de Águas)
Foto original do HoM - clique para aumentar
Aqui a vivenda da esquerda fotografada da Rua da Imprensa
Por trás vê-se prédios altos da Av 25 de Setembro, antiga da República 
no quarteirão do Teatro Avenida
Agora uma foto de 1938 retirada de tese de Tiago Esteves com a devida vénia:
Duas vilas face à Rua da Imprensa
Aqui viam-se as 2 vivendas principais de cada lado duma entrada com portão para a Rua da Imprensa. Essa entrada continuava a existir na foto em baixo por isso a rua interior da vila nunca deve ter estado aberta directamente para a  Rua da Imprensa. 
Aqui em 2007 ainda bem conservadas:
Vista a 45 graus para a entrada da Vila do Almoxarifado
Para se ter ideia de quanto antigas eram estas vivendas e quanto do passado da cidade se perdeu ao demoli-las podemos ver na foto seguinte que estavam elas já construídas (o rectângulo amarelo) ainda o quarteirão do Prédio Cardiga, Rubi, Continental estava vazio (o losango vermelho) e ainda nada tinha sido construido na esquina do prédio da ex-Junta Comércio Externo na Praça 25 de Junho (ex 7 de Março) (o rectângulo rosa).



Na mensagem mostramos o plano da Vila de Almoxarifado.

Da já citada Dissertação do Arq. André Renga Faria Ferreira, OBRAS PÚBLICAS EM MOÇAMBIQUE, Inventário da produção arquitectónica executada entre 1933 e 1961, de Novembro de 2006. Páginas 37/38/39, recolho a seguinte informação e análise principal referente ao exterior das vivendas da Vila do Almoxarifado pois é o que se pode comparar com as fotos (leitura para quem queira fazer um esforço):
"Em 1938, a repartição técnica de Obras Públicas de Lourenço Marques projecta para a capital a Vila do Almoxarifado de Fazenda: um conjunto residencial fechado composto por seis moradias para condutores de automóveis e para o almoxarife. Ocupando um terreno plano de perímetro rectangular bastante simples, as moradias distribuem-se isoladamente dentro dos respectivos lotes, alinhadas ao longo de uma alameda central que atravessa toda a vila, constituindo o palco da sua dimensão social. De acordo com a hierarquia dos utilizadores, as moradias dividem-se em dois tipos: as duas habitações à entrada da vila, de frente para a via pública, correspondem ao tipo “A”, de dois pisos, e destinam-se ao almoxarife e ao condutor mais graduado; as restantes, destinam-se aos condutores menos graduados, e são do tipo “B”, de um só piso, térreo.
O factor de modernidade deste projecto não está no seu desenho urbano, mas na linguagem depurada das moradias, caracterizada pela justaposição de volumes puros, destacando-se nesta análise os edifícios do tipo “A”, pela sua configuração e implantação no terreno. … abre espaço no alçado para a plena visibilidade da parede curva da sala comum, que é sem dúvida o elemento mais característico do volume, predominante na marcação da entrada na vila. Menos conseguido é o recorte na fachada do corpo das escadas de ligação entre pisos, por interromper a continuidade no alinhamento entre os edifícios do tipo “A” e do tipo “B”, monumentalizar uma entrada que não corresponde ao acesso principal.
O recorte dos vãos nos alçados conjuga exemplos de grandes dimensões horizontais, próprias do desenho Modernista, com outras proporções menos radicais,num equilíbrio sereno pautado por ritmos constantes. A expressividade plástica da parede curva do alçado principal é salientada pelos frisos horizontais salientes que encimam os vãos. Também neste aspecto se destaca pela negativa o corpo das escadas, com um volume de linguagem classicizante, sem correspondência com o restante conjunto.
Em 1966, estes edifícios seriam alvo de um projecto de alterações. Para além de alguns ajustes na relação entre os espaços interiores existentes, a proposta sugere a edificação de mais dois quartos (um por piso)."

Comentários

Manuel (Manny) disse…
Depois de nascer (Janeiro de 1944)vivi na vila ate creio ate os 5 anos meu pai era motorista lembro-me bem e ainda tenho photos,quando miudo a brincar no quintal.A 'nossa' casa era do lado esquerdo a segunda.O nosso quintal dava para o quintal da Cruz do Oriente,(Snr infermeiro Bravo,(o pai)
Rogério Gens disse…
Caro leitor:
Tem mais informação sobre a vila aqui:
https://housesofmaputo.blogspot.com/2015/02/vila-do-almoxarifado-de-1938-pequenas.html
E sobre a Cruz do Oriente e essa zona aqui:
https://housesofmaputo.blogspot.com/2016/12/predios-na-baixa-de-lourenco-marques-no.html
Cumprimentos