Estrada para Lydenburg: o pântano e o jardim em 1885/86 em Lourenço Marques (1/2)

Lourenço Marques ao longe, possivelmente nas décadas de 1880/90 
(gravura semelhante à FOTO 1 explicada em baixo)

Esta é uma mensagem importante sobre os primórdios da actual cidade de Maputo. Graças a registos fotográficos de há mais de 125 anos podemos compreender muito melhor aquilo que até agora não eram mais do que vagas descrições do nascimento e formação da cidade. Foi para mim uma surpresa ser possível esta visualização para uma época e terra tão longínquas. Fundamentalmente devemos agradecer ao americano McMurdo (fundador da Delagoa Bay Co.) pois foi para o seu álbum da construção do Caminho de Ferro que C.S. Fowler fez em 1885/86 as fotos aqui analisadas.
Como já vimos na mensagem do HoM só em 1877 ou depois terão começado os trabalhos de drenagem do pântano pois foi essa a data da chegada da expedição das Obras Públicas a Lourenço Marques (LM). Na altura destas fotos de C.S. Fowler, em 1885/86, esses trabalhos ainda estariam em curso mas o pântano já estaria bastante drenado.
Nesta mensagem vamos consequir visualizar com a nitidez possivel:
a. o pântano que rodeava LM dos seus lados norte e nascente=leste;
b. a linha de defesa que limitava o burgo junto a esse pântano mas que em 1889/91, quer dizer pouco depois destas fotos, já tinha pelo menos em parte sido desmantelada o que foi arriscado pois o último ataque dos rebeldes africanos (vátuas) foi em 1894 e nessa altura a cidade foi pelo menos cercada. A linha de defesa do então Presídio de LM foi construída em 1867/68 delimitando o núcleo urbano litoral ao longo da futura Rua da Linha (depois Avenida da República, atual 25 de Setembro) - HPIP;
c. a única estrada para entrada/saida do burgo.

FOTO 1
Lourenço Marques em 1885/86 - clique sempre para aumentar
Imagem tirada da barreira mais ou menos a 200 ou 300 m
 do início da actual Av Lumumba
Paiol: o "castelo" em primeiro plano à esquerda
Verde: ntano ao fundo da barreira
Vermelho: Muros /casas rodeando o burgo.
Amarelo: Prédio da Alfândega antiga ao lado da ex Praça 7 de Março, 
próximo do estuário, para referência geral nesta mensagem
Preto: casa no limite norte do burgo que serve de referência para a próxima Foto

Para a foto seguinte deslocamo-nos para baixo e para a direita (para poente=oeste) da posição onde a FOTO 1 foi tirada aproximando-nos do pântano. Chegamos quase ao limite da encosta ou barreira mas num ponto ainda elevado em relação ao nível do pântano. 

FOTO 2
Preto: A casa que tinha sido marcada na FOTO 1 está muito mais próxima e naturalmente passou para a esquerda. É uma casa no limite do burgo junto à muralha e pela frente da qual passa a estrada (ver azul em baixo desta legenda) 
Vermelho: a muralha aqui mais bem definida que na parte nascente=leste da FOTO 1
Roxo: Um dos baluartes da linha de defesa (o n. 5)
Azul: é a estrada de saída/entrada do burgo.
É a única passagem visivel sobre o pântano. Passa em frente à casa marcada a preto ainda dentro da muralha, faz depois um desvio da muralha e sai do burgo passando depois do lado de lá (poente) das duas barracas que estão no pântano.
Verde: Paredes ou chapas possivelmente para forçar a água do pântano a correr para o dreno e deixar secar (para alargar) a estrada
Curso de água:  suponho que seja o canal para drenagem do pântano e para absorção da água da chuva tombada na zona alta. Por isso este era o sitío lógico para o colocar. Ficava no limite da encosta/barreira e correria para o estuário onde desaguaria na zona por trás donde foi depois construída a estação do Caminho de Ferro
A estrada passaria sobre o canal à direita da foto onde deveria haver uma ponte. 
FOTO 2 (original completa)
Clique para aumentar, para verificar melhor o que é indicado na legenda em cima

Falta agora localizar onde seria o local fotografado em cima e a estrada de saída/entrada no burgo.
Na FOTO 1 vemos a casa marcada a "amarelo" que era o edifício da alfândega antiga que ficava no lado poente da Praça ex 7 de Março (Praça da Picota na altura). Por isso a estrada de saída/entrada no burgo seria mais ou menos na perpendicular da Praça em relação ao estuário. De facto é por aí que ela já estava desenhada no mapa de 1876 que se vê na parte de cima da imagem em baixo (lembro que as fotos de cima serão de 1885/86).
Azul escuro: Estrada para Lydenburg-Lydenburgo-Lidemburgo

No mapa de 1876 em cima vê-se que a saída do burgo era chamada Estrada para Lydenburg-Lydenburgo-Lidemburgo e que ficava mais ou menos na direcção da Fonte (Rua da Fonte). No mapa de 1926, a saída ocuparia mais ou menos (enviezadamente) a parte poente do quarteirão do cinema Scala um pouco para o lado da actual Av. Samora, antiga D. Luís. A casa marcada a preto nas Fotos 1 e 2 estaria onde é agora o lado do novo edifício do Banco de Moçambique virado para os prédios Santos Gil (Continental) e Rubi.
A partir daí haveria uma muralha e depois seria a estrada aproveitando uma zona de terreno mais elevada pelo meio do pântano que em 1885/86 estaria já em processo de secagem. Com esta localização da estrada de saída/entrada no burgo, chegamos à conclusão de que a FOTO 2 foi tirada onde actualmente é o Jardim Botânico e que provávelmente a intenção principal deve ter sido mostrar a formação do jardim que efectivamente se deu nessa altura. Mas por coincidência a FOTO 2 dá-nos também uma vista única desses tempos da cidade.

Para que servia a estrada atravessando o pântano internamente? Na altura desta fotos, fora da muralha e fora do pântano por isso tendo obrigatóriamente de utilisar a estrada para ligação ao burgo existiam o paiol (que vemos na Foto 1), e também o hospital e a igreja paroquial que vemos na foto a seguir. Suponho que existisse também o cemitério.

FOTO 3
Foto de 1885/86 por C.S. Fowler 
A FOTO 3 foi de onde seria agora a Av. Lumumba (Hotel Girassol) e olhando para a Machava. Vemos mais claros que o resto da paisagem (bravia) a Igreja paroquial e mais à esquerda, o Hospital civil e militar o mais à direita.
Mais sobre a estrada até Lydenburg aqui.

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