Como já vimos a planeada estrada da circunvalação de Lourenço Marques em boa parte ou não foi construída (por exemplo na zona norte do Hospital) ou acabou absorvida pela expansâo da cidade de cimento por exemplo nas zonas do Self/Fontes Pereira de Melo, da Av. da Tanzânia, frente ao antigo Malhangalene e mais abaixo no Haffejee/Cordeiro.
Mas na zona que aqui vai ser abordada a antiga circunvalação que depois e até 1976 se chamou Avenida Caldas Xavier, actual Ngouabi continuou a ser a zona de separação física entre a economia e sociedade que foi formada pela intervenção "ocidental" em África centrada na "cidade de cimento" e a chamada "cidade do caniço" com uma sociedade africana formada por elementos locais mas na maioria por trabalhadores que afluiram das zonas rurais atraidos pela cidade de cimento e pelos seus empregos.
Por causas várias (económicas, educacionais, sociais, culturais, racismo) os africanos com empregos na cidade de cimento - salvo poucas excepções - não conseguiram (ou nalguns casos em que podiam ter conseguido optaram por não o fazer) ir habitar para dentro dela. E o planeamento colonial ou não previu o poder de atração da cidade de cimento sobre a população rural africana ou não se preocupou com ele (os "bairros indígenas" primeiro e segundo óbviamente seriam uma gota no oceano desse problema) e a divisão cristalizou-se no que respeita à separação física e diferenças de qualidade de vida entre o "cimento" e o "caniço".
Mas a "cidade do caniço" não era uniforme. O núcleo dos residentes africanos com mais aculturação e educação de tipo "ocidental" conseguiu na cidade de cimento empregos mais qualificados e usou esse ascendente para habitar mais perto desses empregos e também para beneficiar da proximidade de infraestruturas da cidade do cimento (ver chafariz suponho que criado para servir a zona nos anos 20, mas o acesso às escolas do cimento devia ser o mais importante). Assim foi mais junto da cidade do cimento (por exemplo nos bairros da Mafalala e Chamanculo) que a maior parte dos africanos que na terminologia da altura eram "assimilados" viveram e por isso onde as habitações e condições de vida não seriam tão más como em subúrbios mais distantes.
Por causas várias (económicas, educacionais, sociais, culturais, racismo) os africanos com empregos na cidade de cimento - salvo poucas excepções - não conseguiram (ou nalguns casos em que podiam ter conseguido optaram por não o fazer) ir habitar para dentro dela. E o planeamento colonial ou não previu o poder de atração da cidade de cimento sobre a população rural africana ou não se preocupou com ele (os "bairros indígenas" primeiro e segundo óbviamente seriam uma gota no oceano desse problema) e a divisão cristalizou-se no que respeita à separação física e diferenças de qualidade de vida entre o "cimento" e o "caniço".
Mas a "cidade do caniço" não era uniforme. O núcleo dos residentes africanos com mais aculturação e educação de tipo "ocidental" conseguiu na cidade de cimento empregos mais qualificados e usou esse ascendente para habitar mais perto desses empregos e também para beneficiar da proximidade de infraestruturas da cidade do cimento (ver chafariz suponho que criado para servir a zona nos anos 20, mas o acesso às escolas do cimento devia ser o mais importante). Assim foi mais junto da cidade do cimento (por exemplo nos bairros da Mafalala e Chamanculo) que a maior parte dos africanos que na terminologia da altura eram "assimilados" viveram e por isso onde as habitações e condições de vida não seriam tão más como em subúrbios mais distantes.
Foram estas as caracteristicas do bairro da Mafalala vizinho da Av. Caldas Xavier que o fez ter dinâmicas sociais muito próprias que são relatadas em alguns estudos. Por exemplo futuros lideres independentistas e futuras estrelas desportivas de clubes da cidade do cimento e mais tarde, como profissionais, da selecção de Portugal de futebol conviveram durante a juventude no Bairro.
Feita esta introdução vamos às primeiras fotos da antiga circunvalação na zona entre a rotunda da antiga Craveiro Lopes, actual Acordos de Lusaka e o antigo largo Albasini no Alto Maé.
Do lado sul da antiga Av. Caldas Xavier havia a cidade de cimento normal (por exemplo). Do lado norte ficava o bairro da Mafalala que tentámos caracterizar em cima com uma população de alguns europeus muito pobres, alguns asiáticos, mestiços e uma grande maioria de africanos, parte dos quais uma relativa elite do ponto de vista "ocidental" e onde se incuíam muitos migrantes de regiões distantes (norte de Moçambique).
Mesmo dentro da Mafalala a transição urbana era progressiva. Face à antiga Av. Caldas Xavier havia uma mistura de prédios de apartamentos e de casas de madeira e zinco mas não me lembro de ver aí habitações africanas tradicionais (palhotas) ou melhoradas que passavam a predominar digamos uns 200 ou 300 metros mais à frente (grosso modo).
Do lado sul da antiga Av. Caldas Xavier havia a cidade de cimento normal (por exemplo). Do lado norte ficava o bairro da Mafalala que tentámos caracterizar em cima com uma população de alguns europeus muito pobres, alguns asiáticos, mestiços e uma grande maioria de africanos, parte dos quais uma relativa elite do ponto de vista "ocidental" e onde se incuíam muitos migrantes de regiões distantes (norte de Moçambique).
Mesmo dentro da Mafalala a transição urbana era progressiva. Face à antiga Av. Caldas Xavier havia uma mistura de prédios de apartamentos e de casas de madeira e zinco mas não me lembro de ver aí habitações africanas tradicionais (palhotas) ou melhoradas que passavam a predominar digamos uns 200 ou 300 metros mais à frente (grosso modo).
FOTO 1
Prédio de apartamentos dos anos 50 ou 60 Fachada principal para a cidade do cimento, antiga Caldas Xavier Tem a fachada posterior virada para a cidade do caniço (Mafalala) |
Pensando com distanciamento pode-se dizer que, sendo conscientemente planeado ou não, de certa forma estes prédios logo a norte da circunvalação inicial serviam para esconder o caniço, onde noto que a construção em alvenaria não era autorizada. Óbviamente que o custo do terreno e a qualidade de construção neste local não se comparavam com os das zonas nobres da cidade de cimento e por isso os residentes de prédios como o de cima tipicamente seriam de classes com menor rendimento económico e aqui haveria mais mistura racial/cultural do que no resto da cidade do cimento.
Agora vemos as casas de madeira e zinco típicas e os negócios que intercalavam com as casas/prédios de alvenaria do lado norte da Caldas Xavier.
FOTO 2
Bate chapas/ferros velhos, que são normalmente localizados entre a cidade e o subúrbio e que não era excepção aqui. |
FOTO 3
Antiquérrima casa típica de madeira e zinco do lado norte da Caldas Xavier |
Na foto seguinte, para a esquerda da circunvalação ficam os prédios como o de cima mas estão escondidos pelas árvores e para a direita fica a cidade do cimento. Pode-se ver que as duas ruas fazem um ângulo agudo. Isto é porque a rua da direita foi originada pela quadrícula da cidade e a rua da esquerda é a antiga circunvalação (ver mapa em baixo)
Comparando a FOTO 5 com o passado penso que houve melhoria das ruas mas o problema de fundo continua. Não há comparação entre as infraestruturas e as residências aqui e as da cidade do cimento mesmo onde esta está degradada. E suponho que quanto mais longe da cidade do cimento será pior, em geral.
E se a cidade do caniço mostra alguns sinais de melhoria como vimos na FOTO 5, infelizmente a cidade do cimento nas suas proximidades mostra sinais de degradação como se podia já ver à direita na FOTO 4 e se confirma na FOTO 6.
FOTO 6
Rua da Munhuana na Cidade de Cimento e que desemboca na antiga Caldas Xavier. |
Como se pode adivinhar pelas moradias dos anos 50 circundantes, o piso aqui já foi em asfalto. Depois das árvores ao fundo desta rua vê-se o topo dum prédio que já fica a norte da circunvalação como o da FOTO 1. Essas árvores são das que se vêm à esquerda na FOTO 4.
Vimos até agora o que se passou na transição entre o "cimento" e o "caniço" e as condições negativas que levaram à separação abismal entre a qualidade de vida dum lado e doutro (económicas, educacionais, sociais, culturais, racismo). Mas o que se passa agora? Efectivamente os belos prédios privados e públicos, as sedes das empresas, as embaixadas, os shoppings, etc são na esmagadora maioria mantidos ou construidos na Polana/Ponta Vermelha/Sommerschield onde eram as zonas coloniais previlegiadas do cimento (e no aterro da Maxaquene que era uma zona na urbanizada mas que estava no coração dela), e não onde essas infraestruturas e serviços contribuiriam para que as diferenças sociais que existiam fossem abatidas, para mais sendo agora a populaçâo dum lado e doutro da "circunvalação" quase únicamente africana. Para quem vê de fora o desenvolvimento da cidade, dá ideia que o princípio é "quanto mais longe do subúrbio melhor" o que me leva a concluir que o pensamento "colonial" persiste muito mais que o "colonialismo" (ver mensagem).
Agora duas vivendas na zona marcada a laranja no mapa. Ficam do lado sul quer dizer dentro da cidade de cimento e nessa zona já não havia bairro de caniço em frente ou próximo como na zona vermelha do mapa. Em frente penso que era uma zona desabitada. que tinha no entanto o "ligeiro problema" de ser inundável. Esta zona tinha vivendas muito características (dos anos 40 ou 50) e estas fotos são dum filme dos anos 60 mas são a únicas que conheço de duas delas que suponho que ainda existam pois a febre do "Maputo que cresce" ainda não chegou aqui.
FOTO 7
Caldas Xavier, actual Ngouabi, antiga circunvalação Na zona plana próximo da Esquadra da Polícia da Rotunda no fim da Av. General Machado/Guerra Popular |
FOTO 8
Logo acima da casa da FOTO 8 subindo já para o Haffejee que fica no cruzamento com a antiga Manuel de Arriaga, actual Marx |
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