Avenida Aguiar e arranjo de 1926: outro prédio anterior a 1904 junto ao Hotel Club, provável fábrica Dicca (1/2)

Começamos o artigo com uma foto tirada em frente ao antigo Hotel Club (Centro Franco Moçambicano) vendo-se ao fundo a baixa da cidade, o porto e o estuário.

FOTO 1 - vista para sul
Em 2004 - vista para sul da Av. Aguiar, depois D. Luiz, agora Samora.

A Av. Aguiar de que se vê na FOTO 1 a situação mais ou menos actual - suponho que num domingo de manhã sem movimento - foi traçada quando se decidiu urbanizar a cidade em quadrícula. Ela surgia já com propósito monumental no plano de expansão aprovado em 1895 e começou a ser construída nesse ano - ver esta mensagem muito interessante


Plano de A.J. Araújo de 1895
Azul claro: Av. Aguiar na direcção norte-sul vertical à baixa

o plano estavam desenhadas sem cores as estradas-caminhos anteriores ao plano. Vê-se que a Av. Aguia seguia mais ou menos na direcção da via verde para a direita que era a estrada das Mahotas e por aqui tinha passado também segundo o mapa de 1876 a Estrada de Lydenburg/Lidemburgo.
Vamos ver neste e no artigo seguinte as diversas alterações que foram acontecendo na avenida, umas maiores outras menores, desse tempos mais antigos até aos anos 30. 
A foto seguinte é de antes de haver eléctricos quer dizer antes de 1904 e por outros dados pode dizer-se ser se de antes de 1903

FOTO 2 - vista para sul
Hotel Club à esquerda. Avenida só com uma faixa de rodagem. 
Árvores dos lados, umas já crescidas, outras plantadas há pouco.

Na FOTO 3 tinha passado a haver carro eléctrico:

FOTO 3 - vista para sul
Fizeram-se passeios e as árvores pero da estrada tinham desaparecido. 

Na FOTO 3 ainda se usavam rickshaws e nota-se o esforço do condutor para carregar um casal de molengas na subida. Na descida à esquerda está uma concentração de árvores do jardim públicoAo fundo surge na paisagem o Capitania Building  do lado esquerdo = leste = nascente da direcção da Av. Aguiar.
A FOTO 4 seguinte foi tirada mais para baixo mas na mesma época da FOTO 3 pois tem as mesmas plantas do tipo sisal no passeio à esquerda. 

FOTO 4 - vista para sul
Surge pela primeira vez claramente o prédio Pott do lado poente = oeste
 da Av. Aguiar e onde esta se torna plana.

Na FOTO 4 vê-se que podia haver muito tráfego de carros eléctricos neste troço comum a todas as linhas desse tempo - ver o primeiro esquema, ao lado do PUBLIC GARDEN. As únicas linhas que não passaram aqui foram a da Baixa que durou poucos meses e a da Praia que foi muito posterior a estas primeiras fotos.
Na foto seguinte voltamos de novo à posição aproximada da FOTO 2 mas mais no topo da avenida que na altura era o seu cruzamento com a D. Manuel, na linha das actuais Rua da Rádio e Avenida Josina:

FOTO 5 - vista para sul (foto delagoabayworld)
Hotel Club com alpendre às riscas. Ao fundo o Capitania Building bem visível.

A FOTO 5 parece ser um pouco posterior às FOTOS 3 e 4 porque tinha-se voltado a plantar árvores na ponta interior dos passeios. Eram novas e e estavam ainda protegidas por madeiras. 
Pode-se voltar para a FOTO 2 e observar que depois do Hotel Club e do seu muro do lado da Baixa, há um prédio com telhado em V com uma parte recuada mais elevada, e com um alpendre à frente. Na FOTO 3 o alpendre foi retirado e na FOTO 5 pode-se ver que o prédio continuando sem o alpendre vê-se melhor que tinha três portas altas à frente. Podemos agora olhar para a FOTO 1 e ver que esse prédio está lá ainda (confirma-se pelo respiro que tem ao alto do telhado) e parece que com poucas alterações, supunho eu fazendo agora parte do Centro Franco Moçambicano. 
Diz Alfredo Pereira de Lima (APL) que no quarteirão triangular ao alto da Av. Aguiar (o que fica à esquerda nas fotos de cima e à direita no mapa de baixo) havia três talhões e que num foi construido o Hotel Clube, noutro a fábrica de limonadas de Dicca e no terceiro a primeira estação telefónica de Lourenço Marques. Isso pode-se observar no mapa de baixo em que reforcei a divisão dos três talhões.

MAPA de 1903 (fundo castanho) com incrustação de 1906 (fundo creme)

Creme: incrustação de mapa de 1906
Cinza: cruzamento que nos anos 40 se transformou em Praça
Amarelo: Hotel Club
Vermelho: prédio com telhado em V
Azul claro: Avenida Aguiar
Roxo: talhão onde esteveram cabines de operários (aqui na FOTO 1 do lado direito)


Pelo que me parece, APL ao referir-se a três talhões não está a contar com o de cima junto à Av. D Manuel (depois Rua da Rádio) pois esse devia ser do Estado. Assim podemos confirmar nos mapas que:
- (1) o primeiro talhão seria o do Hotel, 
- (2) o segundo seria o do prédio com telhado em V que seria a primeira fábrica Dicca. Dicca nos anos 20, quer dizer dos tempos fotografados nas FOTOS 2 a 5, comprou a fábrica de Cavallari na Av. Paiva Manso, actual Magaia, onde juntou a produção de cerveja à das limonadas e gelo iniciais e nos anos 30 essa empresa integrou-se na Reunidas. Com essas mudanças não sei que utilisação foi tendo este prédio depois da fábrica ter deixado de ser aqui e quando isso aconteceu exactamente.  
- o terceiro talhão seria na ponta sul do quarteirão e como o mapa de 1906 indica (incrustação no canto inferior direito) era o da central telefónica e foi na sua ponta de baixo que nos anos 60 foi colocada a Casa de Ferro
No artigo seguinte desta série vamos ver a Avenida Aguiar depois do grande arranjo urbanistico feito em 1926 a partir do qual passou a ter as 3 faixas de circulação que se vêm na FOTO 1. 

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