Sobreposição dos mapas de 1876 e de 1925/26 - A ilha, o pântano, a cidade e o porto.

Quando pensei nas cheias da Baixa da cidade de Lourenço Marques (LM), actual Maputo e no pântano que tinha rodeado a "ilha" natural e sido depois enxuto e aterrado, imaginei que as zonas de cheias deviam coincidir com o pântano. Tentei demonstrá-lo sobrepondo os mapas de 1876 (de antes do início da drenagem do pântano) e de 1925/26 (após a drenagem e semelhante ao traçado actual da Baixa). Ao ler depois o livro Xilunguíne vi que o consagrado historiador luso-moçambicano Alexandre Lobato (AL) tinha tentado o mesmo no seu tempo e que os resultados acabaram por ser mais ou menos semelhantes. Mas como agora precisava de mais certeza chamei o Chief Technical Officer (CTO) da HoM Inc e utilisando as melhores ferramentas informáticas do mercado conseguiu-se o seguinte resultado:

MAPA 1 - sobreposição do HoM (para a baixa de LM) - clique para aumentar
Mapa de 1876 (transparente com linhas a cor de vinho) sobreposto 
ao de 1925/26 (linhas cinzentas com as ruas preenchidas a cor de rosa) 
 Explica-se melhor em baixo. Pântano pintado a esverdeado.

A sobreposição baseou-se nas ruas marcadas a violeta do antigo centro da cidade (presídio) que sabe-se nunca foram alteradas. Como se fez a sobreposição de forma a que para aí as linhas das ruas dos dois mapas coincidam, para o resto da Baixa em que houve alterações de um para outro mapa (de uma para outra data) a sobreposição deverá também estar quase perfeita.
Destaco em baixo a zona da sobreposição que me interessa mais, reforçando algumas linhas originalmente do mapa de 1925/26 e só as da linha de defesa do mapa de 1876:

Pormenor do MAPA 1 HoM com destaques
Azul: Av. da República no mapa de 1925/26, actual 25 de Setembro
Carmesim: Av. D. Luis no mapa de 1925/26, actual Samora 
a norte da actual 25 de Setembro
Cinzento: esquina sudoeste do Prédio Avenida (Pott)/Avenida Buildings
Preto: Linha de defesa entre os Baluartes do mapa de 1876
(NB: as orientações geográficas escritas do HoM são sempre simplificadas)
Veremos agora o que AL tinha conseguido há mais de 45 anos, trabalhando imagino que com papel vegetal, sem informática e sem CTOs:

MAPA 2 - sobreposição de AL do livro Xilunguíne
Desenho publicado por AL no jornal Notícias de 20.5.1967.
O mapa detalhado para a situação actual era o de 1940. AL desenhou a 
linha de defesa e o ântigo pântano baseando-se no mesmo mapa de 1876 que o HoM.
Como se pode ver pela posição da linha de defesa em volta dos Baluartes 4 e 5 à primeira vista os meus resultados são muito semelhantes aos de AL. Nessa parte central a linha de defesa ocupava mais ou menos o que veio a ser o limite norte da Av. da República, o Baluarte 4 ficava sobre o que veio a ser a Av. Central/Manuel de Arriaga, agora Marx e o Baluarte 5 ficava sobre o que veio a ser a Av. Aguiar/D. Luís, agora Samora. 
Mas com um pouco mais de atenção vê-se que há diferenças entre as sobreposições do HoM e de AL que (olhando principalmente para a ponta da esquina do Prédio Avenida marcada a cinzento) se podem sumarizar assim: 
- pântano: pequena diferença no eixo norte-sul, para o HoM o norte da terra firme ou o sul do pântano ficavam 10 metros mais para sul do que para AL; 
-  linha de defesa: diferença um pouco maior no eixo este - oeste, para o HoM o Baluarte 5 ficava 50 ou 60 metros mais para nascente = leste do que para AL.
Mas apesar das informáticas actuais, olhando para fotos e texto que re-aparecerão noutra mensagem de facto parece-me que o Mapa de AL está mais preciso do que o do HoM pelo menos em relação à linha de defesa a qual pode estar demasiadamente puxada para a direita no HoM. Noto no entanto um problema com o mapa de AL que é dele não ter considerado que entre a linha de defesa e o pântano no mapa de 1876 existia a zona a "ponteado" que não se sabe o que era (transição variável entre terra firme e pântano?). AL considerou-a como integrada no pântano por isso aumentou-o (talvez) de pelo menos uns 10 metros no limite sul. 
Em conclusão tanto o Mapa do HoM como o de AL se usados com cuidado (precisão de +/- 25 metros, digamos) podem ser úteis para quem estude a antiga LM. E este é o momento para recordar o meu Prof. de Geografia Maurício do Nascimento do primeiro ano da Escola Joaquim de Araújo que quando eu tinha 9-10 anos me ensinou a ler mapas e o que eram escalas, longitudes, latitudes, etc. Muito obrigado.

Seguem-se os mapas originais que foram sobrepostos e a recapitulação dum pouco da História envolvente:
Mapa de 1876

Pequena "ilha" entre o pântano ao nível do café Scala e o estuário junto à fortaleza.
Este foi usado pelo HoM e por AL

O trabalho de drenagem do pântano deve ter começado pouco depois da chegada a 7 de Março de 1877 (daí o nome histórico da actual Praça 25 de Junho) da Expedição das Obras Públicas que trouxe de Portugal para Moçambique uma brilhante e esforçada equipa de engenheiros militares e operários. Como se pode imaginar esse projecto, essencial para que LM pudesse ser um local habitável em termos de saúde e se pudesse expandir era extremamente ambicioso e a tarefa a realizar seria enorme pois na altura não havia máquinas (por exemplo os cilindros a vapor para compactar estradas só começaram a ser produzidos na Europa a partir dessa altura). Depois de trabalhos imagino que ciclópicos pois não há imagens deles, começaram a aparecer os resultados e em 1890 a zona do pântano para a direita (nascente = leste) do Baluarte 5 estava seca e aterrada e foi possível construir aí os primeiros edifícios sobre o que tinha sido pântano.
Para completar mostro o mapa de 1925/26 usado a sobreposição já com o problema do pântano resolvido e com 
a cidade de LM bem delineada e estendida para norte da ilha inicial que na parte central (eixo da Av. Samora, antiga Aguiar/D.  Luís ) chegava até à Av. 25 de Setembro, antiga da República.
 Mapa de 1926/26
Foi o usado pelo HoM enquanto que AL usou o de 1940.
A vantagem deste é que integrava o de 1876 
o que em princípio daria mais precisão à sobreposição.
Noto que no MAPA 1 do HoM e também no MAPA 2 de AL registam-se não só a evolução para norte da ilha inicial para se cobrir o pântano mas também o aterro sobre o estuário feito para sul da ilha para se ter chegado ao porto actual (ver o seu resumo aqui).

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