A visita do Príncipe Real e o Batuque Indígena - as casas na encosta (2/6)

Vimos na mensagem anterior o que tudo indicava ser uma encosta para a alta do lado poente = oeste da actual cidade de Maputo mas sem se saber se seria perto ou longe da Baixa no eixo este-oeste e isso seria necessário para poderemos localizar o terreiro do grande Batuque. Mas vamos ver que o assunto ganha uma importância própria e a meu ver ainda maior.  


FOTO 1
Em 1907, na cidade de Lourenço Marques actual Maputo 
qual era zona do batuque e da encosta ao fundo?
Vamos olhar para o centro-direita da FOTO 1 e vemos aí um edifício com uma torre de prismática de topo piramidal, um conjunto de prédios alinhados e talvez mais alguns que os rodeavam. Não nos lembramos ter visto este conjunto ou elementos separados noutras imagens, pelo menos com detalhe
Olhando daí mais para a direita temos umas palmeiras e arvoredo mais baixo e depois o surge o telhado complexo duma construção que se vê foi instalada numa zona já mais baixa do que os prédios alinhados mas que podemos confirmar ter dois pisos porque tem o seu topo pelo menos ao nivel das construções térreas à sua esquerda. Essa construção foi de facto a mais alta da cidade no seu tempo, é das mais históricas e é aqui que consigo confirmar a sua posição e pela primeira vez observar melhor o que a rodeava.


FOTO ESQUEMA  2
A cores a traseira da Casa de Ferro actualmente junto ao Jardim 
e sem ser a cores presumívelmente no local de origem
Penso que a ilustração fala por si. Este posicionamento da Casa de Ferro paralela à actual Av. Josina e com a traseira virada para a baixa (que era o pântano nos primeiros anos) é confirmada pela análise feita no ponto 4 desta mensagem com foto de cerca de 1929. Tinhamos contado a história da Casa de Ferro e sabíamos que ela tinha sido instalada num terreno fazendo face à actual Av. Josina, antiga 5 de Outubro. A zona tinha a poente = oeste a actual Avs. Luthuli, antiga Luciano Cordeiro que é a que passa em frente ao campo e à sede do Ferroviário e a nascente = leste a actual Av. Guerra Popular, antiga General Machado que é a que vai terminar na praça da Estação de Caminhos de Ferro. 
Suponho que as casas que se viam na encosta na FOTO 1 estavam já alinhadas com as novas avenidas das retícula/quadrícula, mesmo que estas materialmente não estivessem ainda executadas, algo que não se consegue distinguir a esta distância. Tudo leva assim a crer que as casas acima da torre com pirâmide estivessem viradas para actual Av. Luthuli. Portanto olhando de novo para o lado esquerdo da FOTO 1 e o seu agrupamento de construções, esse outro muro à esquerda deveria corresponder à primeira avenida paralela à Av. Luthuli para oeste = poente no eixo norte-sul e que é a actual Av. Romão Farinha, na altura Av. Tito de Carvalho e depois João de Deus.
Localizando o descrito da foto de 1907 em dois mapas, um anterior (de 1903 à esquerda) e outro posterior (de 1909 à direita) a essa data temos (PS: tendo em conta a foto do Hipismo pode ser no quarteirão para a direita desse indicado em baixo):


MAPAS de 1903 e 1909 da Baixa de Lourenço Marques
Amarelo: actual Av 25 de Setembro
Rosa: Av. Fernão de Magalhães, ficava para baixo das casas
porque é na Baixa e elas estão elevadas em relação ao terreiro.
Carmesim: actual Av. Josina, passava acima das casas alinhadas
Azul escuro: actual Av. Luthuli, era a rua das casas do lado centro-direita da FOTO 1
Laranja: actual Av. Farinha, era a rua das casas do lado esquerdo
Vermelho: actual Av. Guerra Popular
Branco: Casa de Ferro. O prédio para a sua esquerda e para cima 
era o de alvenaria da Agrimensura
Azul claro: posição possível das casas ao centro-direita da FOTO 1
Cinzento e preto: antiga Álvares Cabral, actual Manganhela
Quanto ao saber o que eram as casas na encosta em 1907, não sei o que eram nem as do lado esquerdo que marquei a roxo nem as do lado direito que marquei a azul claro, no mapa de 1909. Era ao Instituto Rainha D. Amélia que pertencia a Casa de Ferro nessa altura mas como se vê no mapa de 1903 o terreno do Instituto terminava antes da Av Luthuli e esse limite (encostado ao qual estava a Casa de Ferro) mantinha-se no mapa de 1925-26, já muito depois desse terreno e construções terem passado a pertencer à Agrimensura depois Instituto Geográfico e Cadastral. Por isso suponho que essa divisão no terreno tenha sido definitiva. Actualmente no lote encostado à Av. Luthuli há um prédio de média altura e comprido ao longo da encosta que não sei se é moderno ou antigo e pertence à Universidade Técnica. A zona aparece aqui com fotos actuais mas vista unicamente a partir da actual Av. Josina. Uma dúvida que tinha era se o Instituto de religiosas católicas tinha outros edifícios para além da Casa de Ferro e pelo que se vê tinha o de alvenaria da que depois pertenceu à Agrimensura e que tinha uma torre de observação provávelmente adicionada depois e que veremos em baixo.
Quanto ao prédio com torre piramidal que ficaria na diagonal entre a Av. Josina a nordeste e a Av. Luthuli a sudoeste, estranhamente dado o seu estilo peculiar, como disse não o vi melhor noutras fotos antigas. Com a FOTO 1 dada a distância e o declive da zona e falta doutras referências não se consegue saber se estava mais para cima ou mais para baixo nessa diagonal. Sabemos que por aí em foto de 1929 aparece a torre da Agrimensura que no topo não tinha a pirâmide da torre que se vê em 1907 pois tinha uma cúpula arredondada e aberta para permitir observações astronómicas, suponho. E essa torre não devia ter nada a ver com a piramidal.  
FOTO 4
Vista da baixa para noroeste cerca de 1929
Laranja: Torre da agrimensura no extremo de edifício de alvenaria
Verde, etc: Casa de ferro aqui vista em diagonal devia ficar a uns 50 metros da torre. 
Continuaremos sem saber de quem era a torre piramidal e as casas em redor inicialmente. Teria sido de uma missão católica que fosse expropriada em 1910 com a instauração da República em Portugal? Se houvesse religiosos já no local podia explicar-se porque é que a Casa de Ferro foi entregue às freiras para o Instituto quando deixou de servir como Tribunal. 
Tudo isto pode estar explicado nalgum lado e se vier a saber "aviso" e corrijo. Mas também pode não estar e fica a dica para os especialistas. Na mensagem seguinte partimos deste ponto para "estabelecer" onde se realizou o Batuque (Indígena para o Príncipe) Real.

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