Fortaleza - vistas da Baixa até à sua reconstituição, antes da demolição do Capitania Buildings (1/8)
Esta será a primeira mensagem duma série sobre a fortaleza de Nossa Senhora da Conceição de Lourenço Marques (LM), actual Maputo que começaremos por ver em conjunto com o histórico edifício Capitania Building(s).
FOTO 0
Fortaleza depois da reconstituição vista para nordeste duma das varandas do Capitania Buildings (CB) |
A parte da fortaleza que teve históricamente mais alterações foi a muralha sul frente à qual os dois camiões à direita da FOTO 0 estavam estacionados. Inicialmente o estuário chegava até aí (só no início do século XX se fez um aterro de talvez 60 metros de comprimento para sul e 2 m de altura) e essa muralha foi frequentemente danificada pelas águas do estuário. Devido à crónica falta de fundos e de pessoal em Moçambique e como do estuário não vinha grande perigo para a defesa da fortaleza, ou nunca se construiu essa muralha sul até ao nivel das outras ou se se construiu não permaneceu completa durante muito tempo. O essencial era manter a sua parte inferior até ao nível da parada do interior da fortaleza (que se vê ser uns 2 metros acima do solo actual) pois esta parada foi feita em bloco de areia que era suportado pela muralha.
Estamos assim preparados para o que vamos ver nas duas primeiras fotos com vistas do lado do estuário para a Baixa da cidade e que são de antes da reconstituição da fortaleza. Começamos pela foto mais antiga em que não havia ainda aterro entre a fortaleza e o estuário (mas já existia aterro em frente ao CB). Quanto à fortaleza estariamos assim na mesma situação de quando foi inicialmente construida em pedra que foi entre cerca de 1790 e 1810 (versões variam) e como se pode ver na FOTO 1 mesmo com a muralha só até ao nível da parada não seria fácil um assalto porque era preciso escalar pelo menos uns 3 metros de muro que para além disso estava defendido pelas peças de artilharia.
Estamos assim preparados para o que vamos ver nas duas primeiras fotos com vistas do lado do estuário para a Baixa da cidade e que são de antes da reconstituição da fortaleza. Começamos pela foto mais antiga em que não havia ainda aterro entre a fortaleza e o estuário (mas já existia aterro em frente ao CB). Quanto à fortaleza estariamos assim na mesma situação de quando foi inicialmente construida em pedra que foi entre cerca de 1790 e 1810 (versões variam) e como se pode ver na FOTO 1 mesmo com a muralha só até ao nível da parada não seria fácil um assalto porque era preciso escalar pelo menos uns 3 metros de muro que para além disso estava defendido pelas peças de artilharia.
FOTO 1
Saltando da FOTO 1 para tempos muito mais recentes, na FOTO 2 de cerca de 1950 a fortaleza parecia abandonada. Vamos também começar a olhar para outros elementos da fortaleza.
FOTO 2, Baixa cerca de 1950.
Na FOTO 2 a muralha sul na parte visível estava reduzida a um muro talvez de 1.5 metros de altura e que até tinha uma abertura e deve ser a parte mais clara inferior que se vê no na fortaleza da esquina para a direita na FOTO 1. Para estar acima do nível da parada da fortaleza queria dizer que entre a FOTO 1 (de cerca de 1900) e tempo da FOTO 2 se tinha levantado um pouco da sua parte superior. Nota-se também na FOTO 2 que, do lado oposto da fortaleza, em frente à muralha norte virada para a actual Av. de Timor Leste havia casas diversas.
Passamos para a FOTO 3 com a fortaleza já reconstituida e em que os prédios Cardiga e Santos Gil em construção na FOTO 2 estavam completos. Quanto à conclusão do prédio Cardiga temos uma data quase precisa pois a meados de 1950 estava já com lojas a funcionar como se deduz dum anúncio de Julho de 1950 no site delagoabayworld. Por outro lado pelas fotos e recordações de António Melo Ughetto incluídas neste artigo sabe-se que entre 1950 e 1952 a fortaleza estava já reconstituída pelo que os seus trabalhos terão decorrido entre 1950 e 1952.
Por isso a FOTO 2 deve ser posterior a digamos no mínimo a 1950 e no máximo a 1952 e próxima no tempo da FOTO 0 pois em ambas existia ainda o CB e a fortaleza tinha sido reconstituida.
Passamos para a FOTO 3 com a fortaleza já reconstituida e em que os prédios Cardiga e Santos Gil em construção na FOTO 2 estavam completos. Quanto à conclusão do prédio Cardiga temos uma data quase precisa pois a meados de 1950 estava já com lojas a funcionar como se deduz dum anúncio de Julho de 1950 no site delagoabayworld. Por outro lado pelas fotos e recordações de António Melo Ughetto incluídas neste artigo sabe-se que entre 1950 e 1952 a fortaleza estava já reconstituída pelo que os seus trabalhos terão decorrido entre 1950 e 1952.
Por isso a FOTO 2 deve ser posterior a digamos no mínimo a 1950 e no máximo a 1952 e próxima no tempo da FOTO 0 pois em ambas existia ainda o CB e a fortaleza tinha sido reconstituida.
FOTO 3
Vista aérea para noroeste da Baixa no início dos anos 50. Fortaleza reconstituida para a versão actual, mas ainda com casas a norte (junto à porta original). |
Com estas fotos e datas, mais ano menos ano afastamo-nos muito duma das informações disponíveis que diz que os trabalhos de reconstituição da Fortaleza decorreram durante o Governo do General Bettencourt isto é de 1940 a 1946 ou da informação do SIPA e da wikipedia que diz terem sido feitos cerca de 1946.
Essa ideia é ainda reforçada por uma entrevista com o veterano operário moçambicano M.M. Vicente que no boletim do Arquivo Histórico de Moçambique n. 2 de Outubro de 1987 recordava o seguinte: "Em 1951, voltei cá (a LM / Maputo) para procurar trabalho. Nesse tempo, trabalho era muito dificil de encontrar. .... Como era raro encontrar serviço, andei a fazer biscates. Até que um senhor da minha terra, que também procurava trabalho, ouviu dizer que nas Obras Públicas queriam pessoal para ir trabalhar na Pedreira. Fui lá com ele. Levaram-nos até a Ponta Vermelha, onde a gente arrancava as pedras para reconstruir-se a Fortaleza. Ali o serviço era muito pesado porque a gente cavava para tirar aquelas pedras. Se a gente encontrava uma pedra grande, era com cinzel e martelo, daqueles martelos que não tem sinais de 'quilos', é uma massa de ferro. E agora, rachar aquelas pedras era um serviço muito pesado! Muitos fugiam, outros trabalhavam só melo-dia e à tarde não voltavam. Mas eu fiquei ali a trabalhar, como já me tinha acostumado a trabalhar na África do Sul já sabia o que era serviço pesado. Depois, quando acabou esse trabalho, a Fortaleza já estava pronta. Fui trabalhar ali mesmo." Acho que não fica muito claro se M.M. Vicente foi ainda trabalhar nas obras da Fortaleza própriamente dita ou como seu funcionário depois da sua conclusão, mas esta informação aponta também para que a Fortaleza tenha ficado reconstituída em 1951 ou em 1952.
O tema da fortaleza continuará a ser desenvolvido em próximos artigos.
NB: Para se ter ideia das alturas das muralhas com excepção da norte, em 1866 a muralha sul foi (re)levantada desde o nivel do mar com três pegões (para fundação e sustentação das muralhas). Os dois dos extremos da muralha sul tinham 6.6 m de altura e suportavam também as pontas sul das muralhas leste e oeste e o pegão central tinha 4.4 m de altura e suportava únicamente a muralha sul (este era mais baixo porque a muralha sul assim o seria também). Como na rua que passa a sul da fortaleza há actualmente 2 metros de aterro até à praia original, se os pegões tivessem mais 2 metros de altura escavados na praia original, os laterais e por isso o topo das muralhas este e oeste (mesmo sem contar com as ameias de 1.1 m de altura) ficariam 2.60 cm acima do nível do solo actual (da rua). Isso parece menos uns 2 metros do que existe agora por isso ou os ditos 6.6 m (e os 4.4 m também) de altura dos pegões não incluiam os alicerces enterrados na praia ou as muralhas este e oeste eram mais baixas do que actualmente são. Temos assim um questão de uns cerca de 2 metros sobre a altura das muralhas pelo menos em 1866 e actualmente que não consigo esclarecer.
Essa ideia é ainda reforçada por uma entrevista com o veterano operário moçambicano M.M. Vicente que no boletim do Arquivo Histórico de Moçambique n. 2 de Outubro de 1987 recordava o seguinte: "Em 1951, voltei cá (a LM / Maputo) para procurar trabalho. Nesse tempo, trabalho era muito dificil de encontrar. .... Como era raro encontrar serviço, andei a fazer biscates. Até que um senhor da minha terra, que também procurava trabalho, ouviu dizer que nas Obras Públicas queriam pessoal para ir trabalhar na Pedreira. Fui lá com ele. Levaram-nos até a Ponta Vermelha, onde a gente arrancava as pedras para reconstruir-se a Fortaleza. Ali o serviço era muito pesado porque a gente cavava para tirar aquelas pedras. Se a gente encontrava uma pedra grande, era com cinzel e martelo, daqueles martelos que não tem sinais de 'quilos', é uma massa de ferro. E agora, rachar aquelas pedras era um serviço muito pesado! Muitos fugiam, outros trabalhavam só melo-dia e à tarde não voltavam. Mas eu fiquei ali a trabalhar, como já me tinha acostumado a trabalhar na África do Sul já sabia o que era serviço pesado. Depois, quando acabou esse trabalho, a Fortaleza já estava pronta. Fui trabalhar ali mesmo." Acho que não fica muito claro se M.M. Vicente foi ainda trabalhar nas obras da Fortaleza própriamente dita ou como seu funcionário depois da sua conclusão, mas esta informação aponta também para que a Fortaleza tenha ficado reconstituída em 1951 ou em 1952.
O tema da fortaleza continuará a ser desenvolvido em próximos artigos.
NB: Para se ter ideia das alturas das muralhas com excepção da norte, em 1866 a muralha sul foi (re)levantada desde o nivel do mar com três pegões (para fundação e sustentação das muralhas). Os dois dos extremos da muralha sul tinham 6.6 m de altura e suportavam também as pontas sul das muralhas leste e oeste e o pegão central tinha 4.4 m de altura e suportava únicamente a muralha sul (este era mais baixo porque a muralha sul assim o seria também). Como na rua que passa a sul da fortaleza há actualmente 2 metros de aterro até à praia original, se os pegões tivessem mais 2 metros de altura escavados na praia original, os laterais e por isso o topo das muralhas este e oeste (mesmo sem contar com as ameias de 1.1 m de altura) ficariam 2.60 cm acima do nível do solo actual (da rua). Isso parece menos uns 2 metros do que existe agora por isso ou os ditos 6.6 m (e os 4.4 m também) de altura dos pegões não incluiam os alicerces enterrados na praia ou as muralhas este e oeste eram mais baixas do que actualmente são. Temos assim um questão de uns cerca de 2 metros sobre a altura das muralhas pelo menos em 1866 e actualmente que não consigo esclarecer.
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