Muitos artigos na net dizem que o porto de Lourenço Marques (LM) foi usado para a primeira troca mundial de internados diplomatas e civis entre os Estados Unidos da América (EUA) e o Japão imperial durante a segunda grande guerra mundial. Essa troca aconteceu a 23 de Julho de 1942, cerca de oito meses depois do ataque japonês a Pearl Harbour e da declaração de guerra em Dezembro de 1941 entre as duas potências do oceano Pacífico. Foi negociada pela Espanha (representando o Japão) e Suíça (representando os EUA) e os navios alugados pelos americanos eram suecos incluindo o comandante e a tripulação, sob a protecção da Cruz Vermelha Internacional. Como se pode ver os três países envolvidos eram neutrais tal como Portugal e LM tinha a vantagem de ficar mais ou menos a meio do caminho entre o Japão e a costa leste dos EUA.
O assunto é mencionado na net em português aqui mas ficará agora mais desenvolvido nesta série de artigos pois ao conteúdo internacional juntei o principal das reportagens do jornal Notícias de LM de entre 21 a 27 de Julho de 1942. O jornal dá-lhe destaque médio, descrevendo os navios, quando chegaram e partiram, o processo de troca, as entidades envolvidas, as personalidades que dela beneficiaram e o que fizeram os repatriados na cidade. Tenta entrevistá-los mas só teve relativo sucesso com um jornalista japonês que regressava do ocidente ao Japão e que disse que tinha sido relativamente bem tratado no internamento nos USA (só não podiam sair do campo mas este nem estava vedado, nalguns campos até se podia jogar golfe), quanto às razões da guerra disse que todos tinham culpa e quanto ao futuro revelou-se também muito pacifista e humanista. No final o jornal reporta que a participação portuguesa foi elogiada por todos mas eu esperava que tivesse sido dado mais relevo ao tema, por exemplo com editoriais, primeiras páginas e parangonas o que não aconteceu. "Puxando a brasa à minha sardinha" de facto a participação de Portugal foi altamente positiva pois mostrou que o porto de LM tinha qualidade e organização, que a cidade tinha condições logísticas e que se podia confiar na diplomacia portuguesa. Tanto é que para o fim deste primeiro processo era noticiado um acordo para outra troca, essa entre o Japão e o Reino Unido, que seria também feita em LM e da qual falaremos na mensagem 3/3.
Quanto às pessoas envolvidas, básicamente o navio sueco Gripsholm trouxe civis japoneses das Américas (principalmente dos Estados Unidos mas também do Peru e do Brasil que tinham declarado guerra ao Japão) para LM e levou de volta civis americanos (do norte, centro e sul do continente) que tinham estado internados ou aprisionados no oriente e tinham sido trazidos pelos paquetes Asama Maru e Conte Verde. A maioria dos civis ocidentais eram diplomatas, religiosos, jornalistas, enfermeiras, professores e homens de negócio e suas famílias.
O assunto é mencionado na net em português aqui mas ficará agora mais desenvolvido nesta série de artigos pois ao conteúdo internacional juntei o principal das reportagens do jornal Notícias de LM de entre 21 a 27 de Julho de 1942. O jornal dá-lhe destaque médio, descrevendo os navios, quando chegaram e partiram, o processo de troca, as entidades envolvidas, as personalidades que dela beneficiaram e o que fizeram os repatriados na cidade. Tenta entrevistá-los mas só teve relativo sucesso com um jornalista japonês que regressava do ocidente ao Japão e que disse que tinha sido relativamente bem tratado no internamento nos USA (só não podiam sair do campo mas este nem estava vedado, nalguns campos até se podia jogar golfe), quanto às razões da guerra disse que todos tinham culpa e quanto ao futuro revelou-se também muito pacifista e humanista. No final o jornal reporta que a participação portuguesa foi elogiada por todos mas eu esperava que tivesse sido dado mais relevo ao tema, por exemplo com editoriais, primeiras páginas e parangonas o que não aconteceu. "Puxando a brasa à minha sardinha" de facto a participação de Portugal foi altamente positiva pois mostrou que o porto de LM tinha qualidade e organização, que a cidade tinha condições logísticas e que se podia confiar na diplomacia portuguesa. Tanto é que para o fim deste primeiro processo era noticiado um acordo para outra troca, essa entre o Japão e o Reino Unido, que seria também feita em LM e da qual falaremos na mensagem 3/3.
Quanto às pessoas envolvidas, básicamente o navio sueco Gripsholm trouxe civis japoneses das Américas (principalmente dos Estados Unidos mas também do Peru e do Brasil que tinham declarado guerra ao Japão) para LM e levou de volta civis americanos (do norte, centro e sul do continente) que tinham estado internados ou aprisionados no oriente e tinham sido trazidos pelos paquetes Asama Maru e Conte Verde. A maioria dos civis ocidentais eram diplomatas, religiosos, jornalistas, enfermeiras, professores e homens de negócio e suas famílias.
FOTO 1
"Navio sueco Gripsholm em Lourenço Marques em 1942" segundo o salship. se |
Tentando confirmar a correcção da legenda, o jornal Notícias diz que o navio sueco Gripsholm chegou a LM a 20 de Julho de 1942 e que tinha escrito DIPLOMAT e uma grande bandeira sueca, o mesmo que se vê na FOTO 1. A posição do cais com a água para a esquerda e a sua grande largura e haver armazéns logo a seguir para a direita, coadunam-se com ser o porto de LM. Quanto ao pessoal vê-se mal (se seriam africanos, se europeus e as respectivas funções) e é difícil avaliar por aí. Um ponto importante serão os guindastes do cais, que serviram para descarregar as bagagens dos repatriados e para carregar nos navios que seguiram para o Japão embalagens com ajuda para os prisioneiros ocidentais e enviados pela Cruz Vermelha.
MONTAGEM 1
à esquerda: pormenor da FOTO 1 em cima
à direita: guindastes do porto de LM
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Os guindastes à direita seriam os mais parecidos do porto de LM com os da FOTO 1 mas a base em que assenta a cabine parecia diferente, mais larga e sem a peça vertical que parece um V aguçado a meio da FOTO 1. Fica assim a dúvida se a FOTO 1 terá sido bem legendada na origem dado que este navio fez muito mais operações semelhantes a esta primeira em LM.
O jornal Notícias nas várias reportagens só tem uma foto do antigo embaixador japonês nos EUA a descer a escada do portaló do Gripsholm, por isso sem oferecer uma perspectiva mais alargada do cais que se pudesse comparar à da FOTO 1. Equipas documentaristas da Fox News e do African Mirror baseadas na África do Sul filmaram estes acontecimentos, e devem ser daí o filme que poderemos ver aqui.
Um site japonês tem a foto seguinte (FOTO 2) do Gripsholm como "barco de troca" mas não diz em que porto foi tirada. O que se vê para o fundo à esquerda não reconheço como sendo de LM à primeira vista, mas não dá para confirmar se seria ou não. A favor de ser LM é o guindaste que aí se vê parecer-se com o de 1913 da MONTAGEM 1. A favor é também o facto do navio estar atracado com a proa virada a leste o que é no sentido oposto ao normal no porto de LM mas que efectivamente aconteceu como veremos na mensagem seguinte.
FOTO 2
Foto de museu naval japonês. Gripsholm como "barco de troca" - será LM? |
Usando de novo os guindastes, agora para análise da FOTO 2 e comparando em mais detalhe com os conhecidos do porto de LM:
O guindaste à esquerda do Gripsholm tem o número 18 e no porto de LM vemos guindastes nestas fotos mais ou menos do mesmo tipo com os números 15, 19 e 24, por isso básicamente compatível em termos de numeração. Se virmos bem o guindaste 15 (e dois outros que estão mais para o fundo muito semelhantes a ele mas de que não se vê o número) parece ser igual ao da FOTO 2 do Gripsholm (o 19 e o 24 de LM parecem diferentes no que respeita à colocação do número). Então pela semelhança com alguns dos guindastes conhecidos de LM parece-me mais provável que a FOTO 2 seja de LM do que a FOTO 1 o seja. Como os passageiros no navio me parecem orientais teriamos aqui o Gripsholm antes da troca e a FOTO 2 teria sido feita por alguém a bordo do Asama Maru (pela tripulação japonesa, por repatriados dos aliados ocidentais, por negociadores dos países neutrais) ao atracar à esquerda = para poente = oeste do Gripsholm e isso explicaria o porquê de haver tanta gente no Gripsholm a olhar na direcção do estuário. Tal coincide com o que se vê no video, mas óbviamente "certezas nickles".
MONTAGEM 2
à esquerda: pormenor da FOTO 2 em cima com guindaste número 18
à direita: duas fotos com guindastes do porto de LM
que compararemos com os da FOTO 2 |
Para completar temos duas outras fotos do Gripsholm algures durante a segunda grande guerra com pinturas especiais que devem ter sido ajustadas de tempos em tempos.
Navio Gripsholm do site salship. se que tem muita informação e com a devida vénia |
Nota: O site histclo diz que esta troca de diplomatas devia ter sido feita pelo Oceano Pacífico em Vladivostoque na URSS pois seria um caminho muito mais curto do que pelo outro lado do planeta. Isso teria sido possível pois em 1942 a URSS em relação ao Japão era neutral e continuou-o sendo por mais três anos dado que só em Agosto de 1945 lhe declarou guerra e quando este já estava prostrado pelo esforço dos EUA, do Reino Unido e dos países da Commonwealth. Essa manobra oportunísta da URSS deve fazer parte da "superioridade moral do comunismo" tal como o pacto de não agressão e o acordo comercial da URSS com Hitler em Agosto de 1939, penso eu de que ...
Este tema do shipsofmaputo continuará aqui falando-se ainda dos navios do lado japonês envolvidos nesta primeira troca. Sobre mais duas trocas em LM ainda em 1942 ver aqui.
Mais detalhes com muitas repetições:
Texto da biografia baseada em cartas da missionária Margaret Moninger do Google Books e à venda no Amazon:
Mais detalhes com muitas repetições:
Texto da biografia baseada em cartas da missionária Margaret Moninger do Google Books e à venda no Amazon:
Rio Limpopo seria um bocado mais para norte
mas entende-se quando fala do "cais grande e moderno" ...
Artigo da Densho Encyclopedia: "On June 18, 1942, the Gripsholm set sail carrying approximately 1,097 people, mostly Japanese officials and businessmen and their families. The ship made a brief stop in Rio de Janeiro to load another 403 passengers. ... It took more than a month for the Gripsholm to reach Lourenco Marques, a Portuguese-controlled port now known as Maputo, the capital of Mozambique. There, the passengers were traded for 1,554 Allied civilians, mostly American officials and their families, who had arrived on the Asamu Maru and Conte Verde. They had been picked up in Japan, Hong Kong, Singapore and Vietnam".
Artigo no salship.se dá extraordinários detalhes pessoais onde LM é referido: "The Japanese passengers disembarked from the Gripsholm and embarked a Japanese ship bow to bow, while the western nationals walked on another gangway, stern to stern. The procedure took place on the 24th, during 4 hours. The majority were not military personnel, but civilians, who had been interned. One American journalist, normally weighing 160 lbs, weighed 64 lbs when he was carried on board. The 1,500 western nationals had to wait on Gripsholm's deck while the cabins were cleaned. There were buffets prepared on the decks, and many passengers kneeled and prayed when they saw the food, while the Swedish crew wept."
O artigo diz que há um livro de Max Hill acerca desta viagem chamado Exchange Ship (google books) à venda no amazon e ebay.
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