Pântano do Maé, barreira, quartel, ZASM e WNLA em Lourenço Marques (3/4)

FOTO 1
Pessoal do escritório da NZASM em Lourenço Marques
Voltamos à zona do antigo pântano do Maé em Lourenço Marques (LM), actual Maputo que vimos com algum pormenor aqui. As FOTO 1 é reproduzida de original da Universidade de Leiden na Holanda e refere-se à companhia NZASM desse país que até cerca de 1900 esteve ligada ao caminho de ferro de Ressano Garcia a Pretória, no Transvaal actual Gauteng, África do Sul. 
Foi a NZASM depois ZASM que em 1890 fez em LM o Cais Holandês para poder importar os materiais e equipamento para a sua linha porque não tinha alternativa ao porto de LM e porque não quis usar a primeira ponte de desembarque feita por Mac Murdo e foi para isso autorizada pelo governo. A ZASM usou esse cais certamente pelo menos até terminar construção da sua linha em 1895 e de certeza que de 1900/1901 não passou pois foi nacionalizada pelos vencedores ingleses da segunda guerra com os boers que lhe tinham concessionado a linha.
mostramos a FOTO 2 de baixo que fica na direcção do quartel do Alto-Maéque se vê ao alto da barreira do lado direito, dizendo que a iríamos explicar melhor. A legenda original não a atribui à ZASM mas é lógico que o seja porque o seu cais ficava cerca de 400 metros para as costas do local e como veremos as actividades que nela se vêm estavam relacionadas com ele. 
Quanto a datas há uns anos de sobreposição possível entre a actividade aqui da ZASM e o quartel, que estava aparentemente completo e que foi construido de 1887 a 1893, mas começou a ser usado em 1891. As duas fotos no site holandês têm como dada cerca de 1890, mas como explico podem ser um ou dois anos posteriores e simplificarei aqui para c. 1892  

FOTO 2 (clique nas fotos para aumentar)
Suponho pessoal da ZASM preparando equipamento e materiais 
desembarcados em LM para transporte para a linha férrea de Pretória c. 1892
Na FOTO 2 vemos um guindaste a vapor que se movia sobre carris. À esquerda dele e para o fundo vemos um caminho a subir a barreira e mais para a esquerda e em cima umas construções. Vou aqui pôr a hipótese (H. A) dessas construções serem para o pessoal local da ZASM e com o objectivo de os afastar do pântano (tentativa que não devia ter sido muito bem sucedida porque no quartel - que lhe ficava ao lado - ao início o ambiente foi muito pouco agradável e saudável). 
Pode parecer nesta FOTO 2 que o pântano estivesse seco e aterrado mas seria nessa faixa cujo aterro tinha sido prioritário (deduzo), noutras fotos vê-se que para os seus lados havia manchas aparentemente húmidas e menos aterradas.
Confirmar-se-ia a hipótese A (em particular de ser da ZASM a construção ao cimo da barreira virada para cá) através duma hipótese B (H. B) que seria a do pessoal do escritório da ZASM da FOTO 1 ter sido fotografado precisamente na sua varanda, em vez de o ter sido num edifício junto ao cais da companhia ou na cidade. Analizo essa hipótese B na legenda da MONTAGEM:


MONTAGEM das FOTOS 1 e 2
Sim à H.B e então à H.A: as duas são construções de madeira, levantadas do solo, 
têm varandas com duas colunas à frente
Não à H.A.: as janelas da construção da FOTO 2 parecem mais largas 
dos que as que estão na FOTO 1 por trás do pessoal da ZASM.
Porque há um Não na comparação, a hipótese B é afastada.

Outra hipótese (H. C) é de as construções ao cimo da barreira terem tido mais tarde, quando a ZASM deixou de ter necessidade de cais e de armazéns específicos em LM, relação com a WNLA (WENELA). Esta organização contratava moçambicanos (magaíças) para trabalhar no Rand na África do Sul. Até agora não tinha percebido porque é que tinha instalações na Av. 5 de Outubro, actual Josina e pelo menos desde 1925/26, pois nesse local não havia mais nada no género. 
Vejo agora que a sua posição mais ou menos coincidia com a das instalações que se vêm na FOTO 2 por isso em termos físicos deve ter havido ligação. E vendo a passadeira na barreira na FOTO 2 ponho a hipótese (H. D) de a WENELA ter escolhido esse local por poder aí agrupar os magaíças que depois desceriam para a zona das linhas onde combóios especiais os esperariam para os transportar para o trabalho no país vizinho. 
Para as quatro hipóteses aqui colocadas, as avaliações HoM:
H. A. as construções em cima da barreira serem da ZASM - talvez, mas se fosse tem importância relativa;
H. B. a FOTO 1 ser no local da FOTO 2 - parece que não, mas se fosse tinha-me divertido imenso;
H. C. a WENELA ter "herdado" as instalações que seguindo a H. A teriam sido da ZASM - é certo a WENELA  ter sido por aí, mas se era exactamente aí e se usou essas instalações não sei. Tem importância relativa.
H. D. O local ter sido escolhido pela WENELA devido à proximidade ao caminho de ferro - tinha lógica mas não sei, a verificar-se daria para perceber melhor o funcionamento destas coisas.
Quanto às duas últimas hipóteses podem parecer sobre pontos marginais sobre a WENELA mas a história dos magaíças é tão importante que até podem ter interesse ser estudadas. Relembro que as receitas que o estado português gerava com os magaíças era importantíssima para Moçambique e para a Metrópole, que os magaíças moçambicanos eram mão de obra fundamental para as minas da África do Sul e que o fenómeno magaíça teve enorme impacto na sociedade tradicional africana ao sul do Save.

Comentários