Drenagem do pântano de Lourenço Marques (3) - drenos em fotos

Continuando o tema da drenagem do pântano que começamos a abordar aqui e aqui:

GRAVURA 1
Gravura de 1884 com pântano rodeando a norte o burgo de Lourenço Marques (LM)

Não sabemos exactamente o aspecto original do pântano porque as primeiras fotos relativamente visíveis que mostram os seus locais são de Fowler em 1886/87. Ora em 1880, três anos depois da chegada da expedição das Obras Públicas que deu início aos trabalhos, é dito que o pântano na zona central frente à Baixa estava já drenado. 
Assim não era de esperar que em 1884 junto à Baixa houvesse uma superfície líquida como aparenta na gravura pelo que presumo que o seu realismo deve ser baixo (já foi dito aqui) . Mas também podia ser numa altura de cheias em terra e marés vivas no mar e ser por isso uma situação temporária. 
Originalmente em volta da ilha havia um pântano de cerca de 100 a 200 m de largura mas no resto da zona baixa junto ao estuário acho que devia existir um misto de alguns pântanos permanentes, algumas zonas que temporáriamente eram inundadas e zonas de terra firme em parte de geometria variável entre elas. 
Quando a expedição das Obras Públicas chegou à actual Maputo vinda de Lisboa em 1877, foi decidido que a futura cidade seria desenvolvida continuamente desde o estuário até à parte alta, sendo para isso essencial drenar-se e aterrar-se o pântano. No mapa e plano de ampliação de Araújo em quadrícula/retícula que foi proposto em 1878, aprovado em 1892 e publicado em 1895 aparecem marcados os canais de esgoto, drenos ou valas que levariam a água do pântano para o estuário. Aí não se distingue directamente quais dos canais de esgoto foram feitos no pântano e quais eram os afluentes colocados na encosta acima dele. Mas no esquema seguinte temos os mapas da cidade actual, do burgo antigo com o pântano e marcámos só os canais feitos no pântano porque me parecem os mais interessantes. 

ESQUEMA com o burgo (linhas cor de vinho) e a cidade (linhas cinzentas)
para grande parte do lado ocidental = poente = oeste da baixa de LM
Mancha esverdeada: pântano em torno da ilha, aqui do lado ocidental da baixa
Linhas pretas grossas: canais feitos no pântano 
Azul escuro: ruas da cidade antiga e moderna 
que coincidem por estarem dentro da ilha inicial
Laranja: actual Av. Manganhela, antiga Álvares Cabral
Azul ultramarino: actual Av. 25 de Setembro, antiga da República
Roxo: actual Av. Samora, antiga D. Luis acima do Scala
Amarelo: actual Av. Marx, antiga Manuel de Arriaga
Castanho claro: actual Av. Magaia, antiga Paiva Manso
Carmesim e verde (acima do forte 2): dois prédios próximos, ver em baixo
Setas com FOTOS 1 a 3: veremos a seguir

Vê-se que a maioria dos canais feitos no pântano foi colocada na parte norte deste para recolher directamente o máximo da água das chuvas ou de nascentes que viesse da encosta, ou escorrendo livremente ou canalizada pelos drenos afluentes que nela foram construidos e que, repito, não estão marcados no ESQUEMA. 
Os canais/valas/drenos eram a céu aberto pelo menos inicialmente o que é importante para analizar a foto seguinte tirada no pântano cerca de 1900, com ele já semi enxuto e talvez com algum aterro. Tinhamo-la mostrado nesta mensagem mas agora destaca-se aí a vala larga, longa e ainda com água cruzando o pântano perto do fotógrafo e nota-se também que havia uma zona escura e ligeiramente mais elevada mais para o fundo. Para melhor orientação marcámos na foto três edifícios que ficam todos do lado sul da actual Av. 25 de Setembro.

FOTO 1 de cerca de 1900
Verde: Prédio das 3 janelas e 2 portas  ---   Carmesim: loja do A. Teixeira
Roxo: matadouro velho ao fim da recta da actual Av. 25 de Setembro
Preto: vala/canal/dreno à vista

Aqui estamos um pouco a norte donde se fez depois a Av. da República, actual 25 de Setembro e um pouco para nascente donde se construiu o actual Mercado Municipal, quer dizer onde estará agora o prédio do m-BIM. A direcção/posição da FOTO 1 está marcada pela seta respectiva no ESQUEMA e por isso vemos que a vala da foto pertencia a uma secção 
em forma de V que complementava as colocadas a norte na base da encosta. Penso que aqui a água drenada corria para a direita para encontrar o canal principal que a levaria até ao dreno na zona da estação mas havia um outro dreno do lado oriental da cidade e podia correr para lá também. Para termos certeza teríamos de conhecer as cotas dos terrenos atravessados e a que profundidade tinham sido escavadas estas valas.
Do lado direito da FOTO 1 está o limite norte do pântano que como se vê no ESQUEMA começa a inclinar-se daí para sul aparecendo assim de frente mais para ao fundo nesta foto. No limite do pântano antes dessa terra firme (que olhando no ESQUEMA para a esquerda na direcção azul da Av. da República está logo a seguir a onde está escrito AV.A) passava outra vala e nota-se para o fundo da FOTO 1 alguma coisa mas não sabemos se será a vala e/ou a terra firme. 
A FOTO 2 é dum local para o fundo da FOTO 1. Penso que seria uns anos mais tarde mas nota-se que havia ainda actividades relacionadas com o pântano. Como ponto de referência temos as mesmas casas marcadas a verde e carmesim do lado sul da actual Av. 25 de Setembro.

FOTO 2 penso que posterior a 1900
Verde: Prédio das 3 janelas e 2 portas  ---   Carmesim: loja do A Teixeira
Cor de vinho: devia ser vedação do terreno no limite do pântano

A vista da FOTO 2 está mais ou menos marcada no ESQUEMA pela seta FOTO 2 que terá sido tirada da zona da antiga fábrica de gelo Vitória, depois Reunidas (mas vendo com um outro mapa estaríamos umas dezenas de metros mais para poente, sabemos que tudo é aproximado nestas estimativas). Estamos na terra firme que aparecia ao fundo na FOTO 1, aqui o pântano em frente parecia ainda húmido e não estava (completamente) aterrado, do lado esquerdo parecia haver uma vala mas o mais notório é aparecer na sua continuiação uma espécie de tubo a cruzar o pântano e seguindo aproximadamente na direcção sudoeste. Talvez depois dos drenos iniciais a céu aberto da FOTO 1 se estivesse a entrar na fase das canalizações. De acordo com o ESQUEMA a seguir à vedação (marcada a cor de vinho) devia passar o canal de drenagem principal, que aqui já não estaria muito longe do seu final no dique/comporta/estuário na zona da estação de caminho de ferro  mas não se consegue vê-lo nesta FOTO 2.
A FOTO 3 que também já conhecemos é da mesma zona das de cima como se vê pela seta respectiva no ESQUEMA. A FOTO 1 foi tirada para o seu lado direito e a FOTO 2 para o seu lado esquerdo.  A FOTO 3 é de um tempo posterior pois vê-se que há já aterro feito no antigo pântano, de facto as marcas de rodado no solo ao lado de onde a senhora caminha são o precursor da actual Av. 25 de Setembro já a ser aberta dentro da mancha esverdeada do ESQUEMA. 
Vendo-se agora a FOTO 3 sob o novo prisma da drenagem do pântano:

FOTO 3 de cerca de 1905 (um pouco comprimida horizontalmente)
Seta azul: dreno fazendo uma curva
Azul ultramarino: actual Av. 25 de Setembro, antiga da República
Laranja: Av. Álvares Cabral, actual Manganhela
Castanho claro: actual Av. Magaia, antiga Paiva Manso, 
na perpendicular à anterior

O dreno aqui à vista não estava desenhado no MAPA de 1895 e por isso no ESQUEMA. Como esta foto deve ser de cerca de 1905 deveria ter-se entretando construido novos drenos, vê-se que este é em pedra enquanto que o da FOTO 1 era uma simples vala escavada no leito do pântano. Ao fundo vê-se onde começa a terra firme e devia passar aí o canal principal (para se orientar bem no local deve-se olhar para a parte alta da cidade na direcção da Seta 3), parece haver uns montes de terra para a direita mas não se consegue ver os pormenores.   
Começamos assim a encontrar em imagens já conhecidas elementos importantes relacionados com a drenagem do pântano e de que até agora só tinhamos ouvido falar e imaginado em mapas. Ver aqui a sequência.

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