A FOTO 1 que já conhecemos foi tirada do alto da barreira provávelmente do quartel olhando para a planície também do Mahé que lhe ficava por baixo, com o estuário e a Catembe ao fundo. É de cerca de 1893 e vê-se um muro à direita dum terreno aparentemente húmido e que depois vira gradualmente para a esquerda e passa ao fundo desse terreno.
FOTO 1
Vejamos no mapa como estavam representados as construções feitas para a drenagem do pântano nesta planície do Mahé cerca de 1885:
MAPA de "Alexandre Lobato" de c. 1897
Comparando a posição do muro na FOTO 1 com o dique que se vê no mapa, vendo por exemplo onde os dois passam em frente ao matadouro e como e onde terminam junto à barreira, conclui-se que se tratará da mesma construção. O muro da FOTO 1 corresponde então ao dique inicial de 1877/80 que ajudou a drenar o pântano de Lourenço Marques (LM), actual Maputo e via-se aqui a sua extremidade a oeste = ocidente = poente. O seu aspecto era o esperado, em terra, feito com poucos meios e puramente utilitário.
A FOTO 1 foi tirada uns 20 anos depois dele ter sido edificado e de ter fechado uma parte da planície do Mahé, que era pelo menos parcialmente pantanosa, à entrada das águas que vinham do estuário. Neste local o dique foi desenhado só para proteger o terreno mais próximo da barreira da entrada de água vinda da sua frente = sul e da sua direita = oeste. Com essa protecção o terreno estava também protegido à esquerda pois desse lado (do leste = da cidade), pelo menos segundo o mapa de Hall de 1876, havia uma faixa de terra firme que obstruía a passagem de água do estuário (e pelo norte, só entrava para o terrreno a água das chuvas e/ou fontes que descia a barreira). Era nesse primeiro terreno a ser drenado com o dique inicial que se estava a fazer um aterro importante.
A área que ficava para sul e para a direita = oeste do dique inicial estava também drenada mas à custa da linha férrea construída em 1886/87. Como a linha estava mais próxima do estuário e seguia muito mais para a direita = montante do que o dique inicial passou a funcionar como novo dique na zona. Essa área entre o dique inicial e a linha férrea estava nesta altura a ser utilisada para apoio ao Cais Holandês feito em 1890.
Juntamos agora ao mapa de cima a imagem correspondente actual da zona, para vermos onde estaria o que aparece na FOTO 1. A legenda do MAPA de baixo é em parte a da FOTO 1 com mais alguns pontos na imagem do Google Earth (GE) para nos localizar-mos melhor na cidade actual (clique para aumentar):
A FOTO 1 foi tirada uns 20 anos depois dele ter sido edificado e de ter fechado uma parte da planície do Mahé, que era pelo menos parcialmente pantanosa, à entrada das águas que vinham do estuário. Neste local o dique foi desenhado só para proteger o terreno mais próximo da barreira da entrada de água vinda da sua frente = sul e da sua direita = oeste. Com essa protecção o terreno estava também protegido à esquerda pois desse lado (do leste = da cidade), pelo menos segundo o mapa de Hall de 1876, havia uma faixa de terra firme que obstruía a passagem de água do estuário (e pelo norte, só entrava para o terrreno a água das chuvas e/ou fontes que descia a barreira). Era nesse primeiro terreno a ser drenado com o dique inicial que se estava a fazer um aterro importante.
A área que ficava para sul e para a direita = oeste do dique inicial estava também drenada mas à custa da linha férrea construída em 1886/87. Como a linha estava mais próxima do estuário e seguia muito mais para a direita = montante do que o dique inicial passou a funcionar como novo dique na zona. Essa área entre o dique inicial e a linha férrea estava nesta altura a ser utilisada para apoio ao Cais Holandês feito em 1890.
Juntamos agora ao mapa de cima a imagem correspondente actual da zona, para vermos onde estaria o que aparece na FOTO 1. A legenda do MAPA de baixo é em parte a da FOTO 1 com mais alguns pontos na imagem do Google Earth (GE) para nos localizar-mos melhor na cidade actual (clique para aumentar):
MAPA de "Lobato" e imagem do GE actual
No mapa vê-se o dique inicial completo mas só os canais do lado ocidental da baixa. O comprimento do dique inicial que vinha de junto ao estuário na ponta sudoeste da "ilha" até perto da barreira eram os cerca de 1 050 m a 1 200 m como já falámos, e o que se vê na FOTO 1 corresponde a cerca de 1/3 do total.
Quanto a canais que pelo menos nesta altura eram em terra, o mapa mostrava um por baixo da barreira e paralelo a ela que recolheria a água que por aí descia, para além da que estivesse no pântano. Esse canal devia estar por baixo da linha de tufos de erva marcada a azul escuro na FOTO 1 (uma conduta devia ligar os dois lados do canal sob a faixa do aterro). Noto que o canal/vala/dreno que se vê na FOTO 1 ao lado do dique não estava marcado no mapa provávelmente para simplificar mas é normal que existisse. Ao escavá-lo retirou-se terra que era precisa para se fazer o dique e haver aí uma vala escavada tinha a vantagem de reter água que passasse acidentalmente pelo dique e que, se não fosse ela, entraria para a zona que estava a ser drenada.
Para leste = lado da cidade = esquerda da zona FOTO 1, vê-se no mapa que se juntavam vários drenos, incluido um que seguia em baixo da barreira, no que foi depois o campo de futebol do Ferroviário (rectângulo preto na foto). Esse mesmo dreno juntava-se mais à frente na zona da sede do Ferroviário ao que vinha da zona central da baixa e formava-se aí um dos dois drenos que iam levar a água drenada o mais longe possível (a comporta no dique inicial ficaria onde está agora o extremo a poente da gare de passageiros, local que se vê aqui nas primeiras fotos).
Noto que neste mapa o dreno que vinha da zona central da baixa está a aparecer uns 60 metros mais para poente do que aparecia no ESQUEMA da mensagem anterior o que deriva de terem sido usados dois mapas antigos diferentes (aqui de "Lobato", antes de Araújo). Mas para além desse caso específico, ao sobrepor-se como temos feito elementos gráficos de origem diferente e usando-os com escalas muito maiores do que as originais, incorre-se num grande risco de erro. Se o erro aqui for só esse já não será mau.
Noto que neste mapa o dreno que vinha da zona central da baixa está a aparecer uns 60 metros mais para poente do que aparecia no ESQUEMA da mensagem anterior o que deriva de terem sido usados dois mapas antigos diferentes (aqui de "Lobato", antes de Araújo). Mas para além desse caso específico, ao sobrepor-se como temos feito elementos gráficos de origem diferente e usando-os com escalas muito maiores do que as originais, incorre-se num grande risco de erro. Se o erro aqui for só esse já não será mau.
Na FOTO 1 vê-se que a altura do dique nesta zona era talvez de 1.5 m a 2 m em relação ao nível do pântano. Mais junto ao estuário teria obrigatóriamente sido mais alto mas mesmo aí não se compararia com o muro de protecção da linha que vimos a fazer aqui nas FOTOS 2 e 3. O canal/vala/dreno que se vê ao lado do dique teria no máximo também 1.5 m a 2 metros de profundidade ( e uns 3 a 4 metros de largura). Noto que para a água escorrer até ao estuário ter-se-ia a partir desta extremidade de se ir escavando a vala cada vez mais fundo, por isso não convinha aprofundá-la aqui mais que o necessário (a própria planície devia ter um declive para o estuário mas devia ser pouco acentuado, senão não se tinha formado o pântano).
Na FOTO 1 distingui nos aterros uma parte com duas faixas que é o que pôde ser feito com o dique inicial e outra parte com faixa única que é o que pôde ser acrescentado com o muro de protecção da linha. A faixa de aterro parece ter ficado mais alta que o dique inicial, eu estimaria que teria 2 m a 2.5 metros de altura em relação ao pântano original. Lisandra Mendonça na sua tese já citada fala de aterros feitos para as novas avenidas na zona baixa da cidade da mesma ordem de grandeza.
Com isto parece-me que do aterro do pântano do Maé se ficou com uma boa ideia. Óbvio que se não fosse primeiro a FOTO 1 existir e segundo ter sido disponibilizada na net pela Universidade de Leiden com resolução completa, forma de aquisição simples e a preço acessível, o HoM não teria chegado aqui (sem esquecer as teses de Lisandra Mendonça e de Teodoro Vales que iluminaram o caminho). Moral da história?
Continua em próximos episódios.
Ligações às duas recentes teses académicas que cobrem também este tema e que foram por isso por mim largamente consultadas:
Título da tese: De Lourenço Marques a Maputo : genèse et formation d'une ville.
Architecture, aménagement de l'espace. Université de Grenoble, 2014. Français. <NNT :
2014GRENH012>. <tel-01155128>
HAL Id: tel-01155128
https://tel.archives-ouvertes.fr/tel-01155128
Lisandra Ângela Franco de Mendonça
Título da tese: Conservação da Arquitetura e do Ambiente Urbano Modernos: A Baixa de Maputo
Orientadores: Professores Doutores Arquitetos Walter Rossa e Giovanni Carbonara
Coorientador: Professor Doutor Arquiteto Júlio Carrilho
Ramos de conhecimento: Arquitetura e Urbanismo/Restauro da Arquitetura
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