FOTO 1 (duas versões, clique para aumentar)
"Dentro do Mercado" - foto à venda no Alamy
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As FOTOS 1 e 2 foram publicadas nos álbuns fotográficos de Santos Rufino com a foto do mercado actual e com a legenda "o Mercado Municipal de há 30 anos e o de hoje". Como o "hoje" era em 1929, eramos automáticamente remetidos para cerca de 1900 o que se coaduna com terem sido originalmente publicadas em 1901 no álbum dos irmãos Lazarus "A souvenir of Lourenço Marques" disponibilizado pelo site Africa in The Photobook.
Esta é a outra foto dos Lazarus do barracão onde funcionou o primeiro mercado formal da cidade.
Com base nessas fotos tinha feito um artigo que é agora actualizado e aprofundado. Vem dele a introdução do Dr. António Sopa para a história completa do mercado do SIPA, com ligeira adaptação: a Câmara (de Lourenço Marques - LM) aprovou a construção provisória dum mercado na esquina das actuais Avenidas Marx, antiga Manuel de Arriaga (e Central) e 25 de Setembro, antiga da República (e D. Carlos) mandando retirar os vendedores que obstruíam todas as manhãs a antiga Rua Consiglieri Pedroso para a sua realização. A nova estrutura foi inaugurada em 6 de setembro de 1896.
Essa indicação do local acaba por ser genérica dado que as avenidas citadas têm 40 metros de largura e as suas esquinas diametralmente opostas seriam bem afastadas. Relembro ainda que nessa altura a antiga Av. Central só chegava até à antiga D. Carlos e daí para sul, até à Rua Consiglieri Pedroso, havia a Travessa da Porta da Linha (que continuava depois pela actual Travessa da Catembe). Por isso onde o mercado estaria não havia bem um cruzamento com quatro esquinas como existe actualmente mas um entroncamento em forma de "T".
Mostro o local indicado pelo Dr. Sopa num mapa dessa altura e seria portanto dentro ou próximo do rectângulo preto que o primeiro mercado teria estado. O Mercado Municipal definitivo que lhe sucedeu está bem marcado um pouco mais para noroeste.
Essa indicação do local acaba por ser genérica dado que as avenidas citadas têm 40 metros de largura e as suas esquinas diametralmente opostas seriam bem afastadas. Relembro ainda que nessa altura a antiga Av. Central só chegava até à antiga D. Carlos e daí para sul, até à Rua Consiglieri Pedroso, havia a Travessa da Porta da Linha (que continuava depois pela actual Travessa da Catembe). Por isso onde o mercado estaria não havia bem um cruzamento com quatro esquinas como existe actualmente mas um entroncamento em forma de "T".
Mostro o local indicado pelo Dr. Sopa num mapa dessa altura e seria portanto dentro ou próximo do rectângulo preto que o primeiro mercado teria estado. O Mercado Municipal definitivo que lhe sucedeu está bem marcado um pouco mais para noroeste.
MAPA de 1903
Preto: zona do cruzamento referido pelo Dr. Sopa como localização do primeiro mercado em tamanho normal e ampliada Castanho e branco: Av. D. Carlos, depois da República e actual 25 de Setembro Laranja claro e branco: Av. Central, depois Manuel de Arriaga e actual Marx Cinzento: travessa da Porta da Linha entre a Av. D. Carlos e a Rua D. Luis primeiro, depois Consiglieri Pedroso. Vermelho: limite da zona edificada antiga que foi demolida cerca de 1940 para o prolongamento da Av. Central para sul Mancha verde escura: antigo pântano que foi aterrado a partir de 1880. O burgo original na "ilha" era limitado a norte aprox. pela linha (de defesa) verde escura Verde claro: Travessa do Baluarte Norte, existe ainda e mais ou menos continua para sul pela Travessa António Furtado Violeta: ver em baixo |
Noto que a Travessa da Porta da Linha passou a fazer parte, como limite do lado nascente = oeste, do prolongamento da Av. Central para sul que foi aberto cerca de 1940 em conjunto com a demolição da zona vermelha como se indica no mapa e legenda.
Quanto a datas, a FOTO 2 é dos irmãos Lazarus que viveram em LM de 1899 a 1908. Como o mercado actual foi aberto em 1903 (embora na sua fachada esteja escrito 1901 essa deve ser a data do início dos trabalhos) a FOTO 2 será então de entre 1899 e 1903 e a FOTO 1 terá de ser do mesmo período.
À primeira vista as duas fotos não têm pontos conhecidos que sirvam de referência e desse período e local não conheço outras que as possam esclarecer a/ou complementar e por isso faltam elementos para tentar tornar mais precisa a localização dada pelo Dr. Sopa. Resta-nos analisar as duas fotos e para começar colocamo-las lado a lado:
MONTAGEM 1 (FOTOS 1 e 2)
marcas duplas: para todos elementos equivalentes nas duas fotos, com excepção dos dois hexágonos carmesim; marcas únicas: para os elementos do lado direito da FOTO 2, que não se vêm na FOTO 1 |
A partir dos elementos equivalentes deduz-se que as fotos mostram de perfil o mesmo corredor lateral e lado do barracão do mercado (que na FOTO 1 se vê que seria aberto lateralmente) mas vistos em sentidos opostos. Os dois grupos de pessoas das fotos estavam por isso um em cada extremo do barracão.
Na FOTO 1 do lado direito em primeiro plano vê-se uma vedação (por baixo do hexágono carmesim). No ponto equivalente da FOTO 2 que será do lado esquerdo e afastado para o fundo, vê-se edifícios, um baixo e um alto, que terão assim substituido a vedação da FOTO 1. Concluo daí que a FOTO 2 é posterior à FOTO 1 e sendo numa nova zona da cidade, num ano ou dois poderia ter havido as grandes mudanças que se observam ao lado do barracão nas duas fotos. O importante deste ponto é que se quisermos comparar fotos posteriores da cidade com estas duas, isso terá de ser feito com a FOTO 2 e não com a FOTO 1 (porque parte do que existiu nela teria já desaparecido ao tempo da FOTO 2)
É de facto do lado direito da FOTO 2 que estão dois elementos para os quais penso obter equivalências na FOTO 3 tirada uns anos depois das de cima e que é precisamente de junto ao cruzamento identificado pelo Dr. Sopa entre as antigas Av. Central (marcada a laranja claro) e D. Carlos (marcada a castanho claro). Seria desse lado direito da FOTO 2 o burgo inicial, onde estariam os edifícios anteriores ao aterro do pântano e que teriam depois perdurado mais tempo e por isso aparecido na FOTO 3.
Na FOTO 1 do lado direito em primeiro plano vê-se uma vedação (por baixo do hexágono carmesim). No ponto equivalente da FOTO 2 que será do lado esquerdo e afastado para o fundo, vê-se edifícios, um baixo e um alto, que terão assim substituido a vedação da FOTO 1. Concluo daí que a FOTO 2 é posterior à FOTO 1 e sendo numa nova zona da cidade, num ano ou dois poderia ter havido as grandes mudanças que se observam ao lado do barracão nas duas fotos. O importante deste ponto é que se quisermos comparar fotos posteriores da cidade com estas duas, isso terá de ser feito com a FOTO 2 e não com a FOTO 1 (porque parte do que existiu nela teria já desaparecido ao tempo da FOTO 2)
É de facto do lado direito da FOTO 2 que estão dois elementos para os quais penso obter equivalências na FOTO 3 tirada uns anos depois das de cima e que é precisamente de junto ao cruzamento identificado pelo Dr. Sopa entre as antigas Av. Central (marcada a laranja claro) e D. Carlos (marcada a castanho claro). Seria desse lado direito da FOTO 2 o burgo inicial, onde estariam os edifícios anteriores ao aterro do pântano e que teriam depois perdurado mais tempo e por isso aparecido na FOTO 3.
MONTAGEM 2 (FOTO 2 de c. de 1903 e FOTO 3 alguns anos posterior)
Possíveis marcas comuns nas duas fotos: Verde: clarabóia no prédio dos Tabacos George (TG) situado onde está agora o Hotel Turismo Roxo: varanda alpendrada num edifício que esteve no topo a sul da Av. Central e que foi demolido quando ela foi prolongada |
A partir desses dois elementos que seriam comuns, concluo que a FOTO 2 terá sido tirada na direcção da Av. D. Carlos, depois da República e actual 25 de Setembro e olhando-se para o fundo seria o centro da Baixa de LM, visto para nascente = leste.
Assim pela FOTO 2 o barracão do mercado não estaria no alinhamento do lado sul da avenida = norte do burgo inicial e por isso não podia estar numa esquina (desse lado ou doutro) como diz o Dr. Sopa (para além de que as esquinas desse lado eram com as duas travessas marcadas a verde claro e cinzento no mapa, por isso com pouco espaço disponível para colocar o barracão e para se circular em torno dele). Temos de ter em conta que dentro do burgo essa era a zona da Porta da Linha, próxima do presídio e da zona comercial primitiva e por isso por aí a mais densamente edificada. Assim espaço significativo que estivesse livre nessa área seria sómente onde era aterro recente de pântano - como se tinha mostrado aqui - e que foi onde se construiu a Av. D. Carlos, paralela a norte ao burgo inicial (e à linha de defesa entretanto demolida).
O barracão teria assim sido colocado ao comprido na direcção de nascente para poente e mais ou menos a meio da largura da Av. D. Carlos (marcada a castanho claro). É isso que se vê na FOTO 2 com um dos topos do barracão entre o lado da avenida (actual 25 de Setembro) que está à esquerda (lado norte) que era muito recente e o lado que está à direita (lado sul) onde estava o burgo inicial e onde na zona da clarabóia verde é agora o Hotel Turismo. Isso explica que do lado esquerdo houvesse vedações e construções toscas porque foram as primeiras feitas sobre o aterro e do lado direito houvesse construções mais sólidas. Para a FOTO 1 seria ao contrário mas nela não se vê nada do burgo inicial que estaria para a esquerda do barracão.
Esta minha tentativa de localização com mais precisão do que a do Dr. Sopa é baseada primordialmente num elemento que é a clarabóia marcada a verde, que mais tarde desapareceu do prédio e por isso não foi fácil arranjar esta correspondência com a FOTO 2. Assim reconheço que não tem base muito sólida e faço aqui uma análise dos pontos restantes em que tenho mais dúvidas:
a. Um barracão colocado a meio da Av. D. Carlos e com grades a rodeá-lo devia ser visível noutras fotos e nunca as vi. A razão pode ter sido o pouco tempo que lá terá estado e de facto desse ponto da avenida nesses tempos também nunca vi mais fotos (seja com ela livre ou ocupada). Como nessa altura a avenida para poente = oeste desse local ainda estava por pavimentar, o facto dela ser obstruída (e sabia-se que iria ser provisóriamente) pelo barracão não teria sido grande impedimento à sua colocação;
b. Na FOTO 2 do lado esquerdo vê-se uma casa de primeiro andar com varanda alpendrada que não parece ser a que antecedeu o prédio Ja Assam o qual marquei na FOTO 3 com o círculo branco. De facto a posição dessa casa parece mais ser a do prédio que depois deu origem a este mas não consigo confirmar essa equivalência, para já porque na FOTO 2 essa casa mal se vê e porque não tenho outras fotos desse lado norte da avenida nessa altura;
Assim pela FOTO 2 o barracão do mercado não estaria no alinhamento do lado sul da avenida = norte do burgo inicial e por isso não podia estar numa esquina (desse lado ou doutro) como diz o Dr. Sopa (para além de que as esquinas desse lado eram com as duas travessas marcadas a verde claro e cinzento no mapa, por isso com pouco espaço disponível para colocar o barracão e para se circular em torno dele). Temos de ter em conta que dentro do burgo essa era a zona da Porta da Linha, próxima do presídio e da zona comercial primitiva e por isso por aí a mais densamente edificada. Assim espaço significativo que estivesse livre nessa área seria sómente onde era aterro recente de pântano - como se tinha mostrado aqui - e que foi onde se construiu a Av. D. Carlos, paralela a norte ao burgo inicial (e à linha de defesa entretanto demolida).
O barracão teria assim sido colocado ao comprido na direcção de nascente para poente e mais ou menos a meio da largura da Av. D. Carlos (marcada a castanho claro). É isso que se vê na FOTO 2 com um dos topos do barracão entre o lado da avenida (actual 25 de Setembro) que está à esquerda (lado norte) que era muito recente e o lado que está à direita (lado sul) onde estava o burgo inicial e onde na zona da clarabóia verde é agora o Hotel Turismo. Isso explica que do lado esquerdo houvesse vedações e construções toscas porque foram as primeiras feitas sobre o aterro e do lado direito houvesse construções mais sólidas. Para a FOTO 1 seria ao contrário mas nela não se vê nada do burgo inicial que estaria para a esquerda do barracão.
Esta minha tentativa de localização com mais precisão do que a do Dr. Sopa é baseada primordialmente num elemento que é a clarabóia marcada a verde, que mais tarde desapareceu do prédio e por isso não foi fácil arranjar esta correspondência com a FOTO 2. Assim reconheço que não tem base muito sólida e faço aqui uma análise dos pontos restantes em que tenho mais dúvidas:
a. Um barracão colocado a meio da Av. D. Carlos e com grades a rodeá-lo devia ser visível noutras fotos e nunca as vi. A razão pode ter sido o pouco tempo que lá terá estado e de facto desse ponto da avenida nesses tempos também nunca vi mais fotos (seja com ela livre ou ocupada). Como nessa altura a avenida para poente = oeste desse local ainda estava por pavimentar, o facto dela ser obstruída (e sabia-se que iria ser provisóriamente) pelo barracão não teria sido grande impedimento à sua colocação;
b. Na FOTO 2 do lado esquerdo vê-se uma casa de primeiro andar com varanda alpendrada que não parece ser a que antecedeu o prédio Ja Assam o qual marquei na FOTO 3 com o círculo branco. De facto a posição dessa casa parece mais ser a do prédio que depois deu origem a este mas não consigo confirmar essa equivalência, para já porque na FOTO 2 essa casa mal se vê e porque não tenho outras fotos desse lado norte da avenida nessa altura;
c. Na FOTO 2 ao fundo há árvores que ocupariam uma parte a norte da Av. D. Carlos, depois da República e actual 25 de Setembro e que não vi com tal densidade noutras fotos.
Quanto a informação que se possa obter de mapas, é o de 1903 em cima o mais próximo da existência deste barracão. Não há nada nele ocupando a Av. D. Carlos mas há a construção que marquei a violeta escuro e que ficava na esquina a sudeste do quarteirão do bazar e onde depois foi construído o quiosque = kiosk Olympia (que já se vê na FOTO 3). O facto de estar junto ao mercado definitivo e ter um desenho rectangular ajusta-se a ter sido este barracão, mas para o que se vê na FOTO 2 ser o do mapa acho que ter-se-ia de o ver mais para a esquerda do que aparece, para além de se ter de encontrar uma justificação para o que se vê à esquerda da FOTO 2 e que ficaria então dentro dum quarteirão e não face a uma avenida como parece ver-se.
Voltando aos dois elementos em que se basearia a localização mais precisa do barracão, há uma foto (e quase única?) tirada do alto da Av. Central para a Baixa de LM em sentido oposto ao da FOTO 3. Com alguma dificuldade pode-se observar ao fundo da Av. Central, actual Marx o local onde o barracão teria estado e segundo as deduções de cima marcá-lo aproximadamente tendo em conta a posição do edifício da varanda alpendrada que ficava no topo sul da avenida nesses tempos e que se via de perfil na FOTO 2 (noto que a FOTO 4 é posterior a 1903 por isso o barracão difícilmente apareceria nela).
Quanto a informação que se possa obter de mapas, é o de 1903 em cima o mais próximo da existência deste barracão. Não há nada nele ocupando a Av. D. Carlos mas há a construção que marquei a violeta escuro e que ficava na esquina a sudeste do quarteirão do bazar e onde depois foi construído o quiosque = kiosk Olympia (que já se vê na FOTO 3). O facto de estar junto ao mercado definitivo e ter um desenho rectangular ajusta-se a ter sido este barracão, mas para o que se vê na FOTO 2 ser o do mapa acho que ter-se-ia de o ver mais para a esquerda do que aparece, para além de se ter de encontrar uma justificação para o que se vê à esquerda da FOTO 2 e que ficaria então dentro dum quarteirão e não face a uma avenida como parece ver-se.
Voltando aos dois elementos em que se basearia a localização mais precisa do barracão, há uma foto (e quase única?) tirada do alto da Av. Central para a Baixa de LM em sentido oposto ao da FOTO 3. Com alguma dificuldade pode-se observar ao fundo da Av. Central, actual Marx o local onde o barracão teria estado e segundo as deduções de cima marcá-lo aproximadamente tendo em conta a posição do edifício da varanda alpendrada que ficava no topo sul da avenida nesses tempos e que se via de perfil na FOTO 2 (noto que a FOTO 4 é posterior a 1903 por isso o barracão difícilmente apareceria nela).
FOTO 4
O barracão do primeiro mercado teria então estado mais ou menos na posição indicada na FOTO 4, colocado ao comprido e e meio da largura Av. D. Carlos, depois da República e actual 25 de Setembro. Como se vê esse local, por ser numa avenida larga e próximo do "T" com outra, era desimpedido e tinha bons acessos e podia ser utilisado enquanto se planeava e construia o mercado definitivo. Este veio a ocupar o quarteirão um pouco mais para norte = lado de cá e para a direita = poente do cruzamento ("em forma de "T") que se vê ao fundo da FOTO 4.
Resumindo, talvez tenha localizado o barracão do primeiro mercado de Lourenço Marques mais precisamente do que o "na esquina do cruzamento" do Dr. António Sopa. Mas como não sei que dados adicionais ele terá para além destas fotos, há boa possibilidade de a minha tentativa ter falhado embora a margem de erro, dado o local, não possa ser grande.
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