A FOTO 1 surgiu na revista O Ilustrado (disponibilizada pela Hemeroteca de Lisboa) em 1932 sob o título "Arquivando o passando" e permitirá uma ideia física de várias personalidades que foram relevantes em Moçambique no período final da Monarquia portuguesa.
Como se comprovará em baixo a foto foi tirada em frente ao palácio do Governador-Geral e como Alfredo Augusto Freire de Andrade está ao centro devia ser ele a ocupar o principal cargo na administração portuguesa em Moçambique, o que aconteceu entre outubro de 1906 e novembro de 1910. A foto será então desse intervalo, o que veremos em baixo é compatível com a presença nela de outras individualidades.
Freire de Andrade era engenheiro militar e serviu boa parte da sua ilustre carreira em Moçambique. Dele falámos no HoM a propósito da demarcação da fronteira em 1890-91 (fotos ACTD aqui) e da construção do primeiro edifício usando pedra e cal como materiais em 1907 (escola distrital, actual secretaria da Rádio). Pelo meio foi chefe de gabinete do governador (Comissário Régio) António Enes no período crucial de 1894 a 1895 tendo liderado as tropas portuguesas no combate de Magul em setembro de 1895 contra Zixaxa.
FOTO 1
O na altura Coronel Freire de Andrade (militar muito condecorado ao centro da foto) como político foi mais tarde, já no tempo da República, ministro dos negócios estrangeiros de Portugal e como militar atingiu o posto de General.
Freire de Andrade foi o anfitrião do príncipe real D. Luis Filipe de Bragança na sua histórica visita a Moçambique de 1907. Não se vê muito bem mas na FOTO 5 do artigo do HoM respectivo também tirada junto ao palácio do Governador-Geral (ver aqui) presumo que fosse ele que estava à direita do príncipe. Devia ser essa a posição protocolar do Governador-Geral pois repetir-se-ia noutra foto dessa visita publicada no site retalhosdebemfica, que tem uma biografia muito completa de Freire de Andrade.
A foto seguinte foi então tirada em 1907 e de novo frente ao palácio do governador:
FOTO 2 (gentilmente cedida por Gastão de Brito e Silva)
Branco: príncipe real D. Luis Filipe de Bragança (reconhece-se Bragança em baixo) Vermelho: A. Freire de Andrade (?) Verde: E. Torre do Valle, de que falaremos em baixo Castanho: (Aires de) Ornelas |
Voltando à FOTO 1 para além do governador-geral destaco nela algumas personalidades com nome bem conhecido e presença preponderante no Moçambique da época:
FOTO 1 com marcas
Detalhes relativos aos nomes com marcas em baixo |
Dr. Ângelo Ferreira (laranja): depois de estar na função pública passou a inflluente advogado em profissão liberal. Alfredo Pereira de Lima no livro "Edifícios Históricos de Lourenço Marques" refere-se a ele extensivamente e mostra a sua casa (última foto aqui).
Dr. José Serrão (amarelo): J(ota) Serrão era Chefe dos Serviços de Saúde e uma das grandes avenidas "horizontais" da cidade veio a receber o seu nome (actual Daússe) - ver NB ao fundo.
Ernesto Torre do Valle (verde): aparece como representante de Lourenço Marques pelo que assumo que o grupo na foto se tratasse dum orgão consultivo do governo. Tenho mais dados sobre ele aqui e presumo que o primeiro aviador luso-moçambicano Armando de Vilhena Torre do Valle que foi mencionado aqui e detalhado no site vem e que foi funcionário da "Wenela" (W.N.L.A) fosse seu familiar.
Leão Cohen (azul): personalidade marcantíssima no mundo dos negócios da monarquia até aos anos 20 e falamos dele sobre a Associação Comercial e Hotel Polana.
Eng. Costa Serrão (roxo): engenheiro com uma carreira de altos e baixos (caminho de ferro de Bragança) fez o projecto do porto de LM em 1909, digamos numa segunda fase da sua construção e dirigiu os trabalhos pelo menos até 1914.
Completo com a residência ou palácio do Governador já anteriormente vista no HoM na verão colorida e comprovando as mesmas decorações e outros pormenores que se viam nas duas fotos de cima:
Palácio da Ponta Vermelha na configuração anterior a 1929 |
NB: Alfredo Pereira de Lima escreveu no livro "Casas que fizeram Lourenço Marques" o seguinte sobre J. Serrão: "Nessa altura, com o cimento já definitivamente estabelecido nos hábitos de construção em Lourenço Marques e outros materiais, como pedra, cal e madeiras acessivelmente colocadas no mercado local, a Câmara Municipal pôde com perfeita segurança de que a evolução de Lourenço Marques nada sofreria, aprovar, em sessão de 22 de Abril de 1912, uma proposta do seu presidente, Joaquim de Lemos, no sentido de que não se concedessem mais licenças para construções em madeira e zinco na cidade.
Essa atitude sensata do nosso Municipio foi consequência de uma campanha lançada, em 1910, nas colunas do jornal «Lourenço Marques Guardian» condenando como insalubres as casas de madeira e zinco. A campanha tomara vulto enorme quando o médico distinto que era o Dr. José Serrâo, ao tempo director dos Serviços de Saúde, lançou nesse jornal a formaI condenação desse sistema de construções advogando que já era tempo de Lourenço Marques «perder o seu aspecto mesquinho de cidade de Iata !», Em defesa do seu ponto de vista, escrevia no «Guardian», o Dr. José Serrão: « ... Há três pragas que afligem Lourenço Marques e que todos devemos combater à outrance: são elas o ferro zincado, o vinho colonial e os mosquitos. As duas primeiras são dons com que a civilização de fora nos mimoseia: a terceira é a natureza local que no-lo proporciona. É indispensável que a civilizaçâo de dentro, a de colónia, as combata dia a dia, porque com elas às costas diflcilmente poderâ avançar até onde deseja. O comércio, que não trata de questões de higiene, sabe que é de um dia para o outro que se levanta uma casa de madeira e zinco; tudo se encontra preparado, aparelhado para satisfazer essa ânsia tão vulgar cá fora de construir uma habitaçâo num abrir e fechar de olhos. O comércio vem, pois, ao encontro do construtor, vende-lhe tudo feito, é só levantar ..."
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