Em Barberton, RSA na peugada de Emily, Thomas, Liz e do ouro: mais da Pilgrim St. na parte alta (12/)

Para falar mais específicamente do início da urbanização de Barberton, começo por um texto do site gerbera sobre a sua fundação dizendo: 
"Within a short time the two weatherbeaten tents of the Barber party were surrounded by a thousand others. Wagons were outspanned everywhere, and men were beginning to erect shacks along haphazard streets which originated, and were influenced in their direction, by the establishment of innumerable canteens. Along these streets bustled a throng as varied in type and mood as only that excitable company can be who pursue the will-o’-the-wisp of gold. Men of every language could be heard mixed with the broad dialects of England, the tang of America, the whine of Australia and the homely Afrikaans of South Africa"
Já vimos algumas fotos do burgo nos tempos iniciais que deixavam a impressão de falta de planeamento mas por outro lado acho que se Barberton tivesse nascido completamente à sorte não tinhamos agora a sua área histórica com as ruas em retícula e de larguras mais ou menos normalizadas como se pode ver no googlemaps. Por isso não acho que como o site gerbera diz tenham sido as cantinas a determinar a urbanização, para mais que para atribuir as licenças para as minas por exemplo eram precisos levantamentos feitos por agrimensores / topógrafos do Estado e por isso os conhecimentos e os profissionais para os aplicar estavam na zona. 
Temos também de ter em conta que se em 1878 o cartógrafo alemão / transvaaliano F. Jeppe (história de Friedrich Heinrich Jeppe aqui) apresentou um plano para Lourenço Marques (LM), actual Maputo contratado pelo governo português, não seria muito lógico que anos depois a África do Sul ainda deixasse nascer cidades ao "calhas". Para mais para LM do início houve inúmeros planos e plantas não tendo o de Jeppe sido implementado porque entretanto o Ministro Andrade Corvo decidiu investir no Ultramar e enviou a Moçambique a célebre expedição dos engenheiros. Esta chegou em 1877 e após alguma análise e maturação de ideias foi o Eng. Araújo que fez c. de 1887 a primeira versão do plano actual mas prova-se que o planeamento urbano era assunto considerado importante. Ora se isto acontecia para Moçambique então para Barberton, para mais com as perspectivas de se ter ouro e riqueza abundante,  também seria e estou certo que também foi elaborado um plano de urbanização logo que a cidade foi fundada em 1884 (e note-se por determinação do governo e num local em que prácticamente nada construído existiria por isso onde o planeamento estava livre de constrangimentos.
Suponho eu então que um plano de urbanização tenha sido definido em 1884 e que mais ou menos tenha sido respeitado. No entanto Barberton nasceu onde o solo era rochoso e irregular e no sopé des colinas. Por isso penso que o estado de realização desse plano, que teve de ser muito acelerada e por isso sem ter logo em conta a execução dos pormenores, não tornou imediatamente visível que ele existisse. Mas como o plano estaria subajacente a tudo o que foi feito acabou por se revelar mais tarde como vemos nas fotos um pouco mais recentes que mostrarei aqui também, mas isto são suposições minhas.
Vou então mostrar fotos antigas na maioria do FB Barberton Bliss e como faço normalmente tentar ver, utilisando também as informações que algumas vezes são dadas nesse FB, o que lhes veio a corresponder anos depois. E assim confirmarei que depois do aparente caos urbanístico das imagens iniciais passado uns tempos revela-se uma cidade organizada e sem necessitar de grandes ajustes em relação ao início.  

FOTO 1
Veremos que é a Pilgrim's Street vista para leste - sudeste 
 A mesma foto com marcas:


FOTO 1 com marcas
Vermelho: primeira Bolsa de valores do Transvaal (Transvaal Share & Claim Exchange)
Oval verde azeitona: topo dum telhado que veremos na FOTO 7
e que ficava na zona da parte superior da Praça do Mercado
Outras cores: veremos depois
Sabemos que a primeira Bolsa ficava do lado norte da Pilgrim Street perto da Praça do Mercado como se via nesta foto onde ela era um edifício à esquerda com as marcas vermelhas, que no entanto diziam respeito à parte recuada que na FOTO 1 não está à vista.
Voltando à questão se houve planeamento prévio ou não, que podeia ser razoávelmente levantada pela FOTO 1, temos lá dois grandes estabelecimentos comerciais ou bares ("laranja" e "azul"). Estes dois teriam de ser das "cantinas" que o site gerbera referia como tendo sido a sua disposição que influenciou a posição das ruas. É verdade que actualmente a Rua Pilgrim aproximadamente segue o traçado que tinha na FOTO 1 e daí poder-se deduzir isso, mas indo mais atrás se não tivessse havido um plano porque seria que esses dois comerciantes deixarem os seus edifícios alinhados e que o proprietário da Bolsa em frente seguiu o mesmo alinhamento na fachada e deixou um grande espaço em frente até às cantinas (ou vice versa) para se fazer aí uma avenida? É claro que quando as urbes nascem sem planeamento por "natureza" não adqirem um desenho estruturado e em Barberton, quando a situação se estabilizou, esse desenho que estava "escondido" apareceu como por exemplo se pode ver nas FOTOS 4 e 6. 
Podemos dizer que a FOTO 1 é anterior a 1887 que foi o ano da construção do edifício Lewis & Marks dado que esse edifício não aparece nela, aparecendo ele na FOTO 2 (principal) seguinte e que tinhamos visto com outras aqui:

FOTO 2 (com FOTO 1 anterior em medalhão)
Verde claro: Pilgrim Street vista para leste
Púrpura: President Street, cruzando na perpendicular a primeira
Castanho escuro: L&M Building de 1887, presumo que parcialmente ocupando o terreno
onde esteve a casa "branco"na FOTO 1
Laranja, azul e verde: edifícios equivalentes nas duas fotos,
apesar de poderem ter tido algumas mudanças
O FB Barbeton Bliss diz que a foto seguinte é dos anos 90, última década do século XiX (19) o que não tenho modo de confirmar mas se não for não deve andar longe. Temos de novo a Pilgrim Street já mais "domada" que na FOTO 1 e mostrando certa melhoria em relação à FOTO 2 por exemplo relativamente à compactação do pavimento.

FOTO 3
Verde claro: Pilgrim Street vista para leste
Púrpura: President Street, cruzando na perpendicular a primeira
Dando agora um salto maior no tempo a partir das fotos de cima, veremos a mesma rua e local talvez no anos 20 a 40. podemos ver a evolução que a Rua Pilgrim tinha tido. A FOTO 4 foi tirada dum ponto mais para oeste do que cruzamento visto em cima. A Rua Pilgrim tinha continuado a ser alisada e pavimentada mas as suas bermas pareciam não estar ainda bem definidas. A curva ligeira com que foi desenhada penso ter sido propositada de forma a contornar a colina da melhor forma.

FOTO 4
Verde claro: Pilgrim Street vista para leste
Púrpura: President Street, cruzando na perpendicular a primeira
Azul: ainda o edifício maior que inicialmente tinha telhado de colmo
Castanho escuro: L&M Building de 1887
Como falámos aqui na FOTO 4 à esquerda temos primeiro o edifício da segunda bolsa e a seguir antes da esquina com a President St. o "The Club".
Passamos agora para outro local e perspectiva numa foto que aparenta ser da mesma época da FOTO 1 e que confirmaremos ser da Pilgrim Street mas como ela vista em sentido oposto. Isso pode ser observado através de várias equivalências que aparecem do meio para o fundo das FOTOS 1 e 5 mostrando que são da mesma rua mas tiradas de pontos algo distantes, na realidade aproximadamente a FOTO 1 foi tirada daqui e a FOTO 5 daqui
A FOTO 5 podemos de novo dar-nos uma certa ideia de anarquia urbana mas certo é que tinhamos neste local uma avenida e uma grande praça que foram estruturantes da localidade. O FB Barberton Bliss diz que ao início havia muita falta de materiais de construção por isso algumas casas eram feitas de barro e telhado de colmo (caso da "branca" pequena) e que as colinas estavam nuas pois as suas árvores tinham sido cortadas ou para fazer casas ou suponho para escorar as escavações mineiras. Noto também que a casa "branca" pelo aspecto até poderia ser anterior a ter havido planeamento mas nota-se que estava alinhada com a frente das outras mais para oeste e tudo isto não aconteceria por acaso. 

FOTO 5 (com parte desta foto em medalhão)
Verde claro: Pilgrim Street vista para oeste em 1884
Branco: mesmo casebre da FOTO 1 e localizado 
por onde em 1887 se construíu o L&M Building 
Vermelho: edifício da primeira Bolsa, tal como se via na FOTO 1 mas do lado oposto
Laranja, verde e azul: edifícios equivalentes aos das FOTOS 1 a 4  (pelo menos parcialmente) apesar de poderem ter tido algumas mudanças
Rosa e preto: partes superior e inferior da Praça do Mercado, respectivamente
Bordeaux: penso ser o mesmo pavilhão que ao tempo do medalhão do canto superior esquerdo 
era o estúdio do fotógrafo Caney
Podemos ver o centro histórico de Barberton do alto da colina adjacente por volta de 1900  sendo já clara a sua estrutura. Esta resultaria ou da virtuosidade e princípios estéticos dos cantineiros iniciais como pensa o site gerbera, ou de planeamento urbano como me parece:


FOTO 6 (clique para aumentar)
Vermelho: terreno do edifício da primeira Bolsa devoluto depois do incêndio de 1887
Carmesim: edifício da segunda Bolsa de valores
Preto: parte inferior da Praça do Mercado
Rosa: edifício no que tinha sido a parte superior da Praça do Mercado (está à venda)
Verde: árvore no topo a nordeste da Praça do Mercado
Bordeaux (ângulo): "primeiro" edifício do Bank Of Africa
Azul claro: Standard Bank
Castanho claro: onde veio a ser o Barclays Bank
Verde escuro: armazém Parker Wood
Roxo: frentes do restaurante e da sala de espectáculo de Cockney Liz
Púrpura: President Street
Violeta: Judge Street, mais na colina
Verde claro: Pilgrim Street
Laranja claro: Crown Street
Azul: de Villiers Street, mais no vale
Para terminar o artigo podemos ver uma foto que será mais ou menos contemporânea das FOTOS 1 e 5 do centro histórico de Barberton. No entanto o ângulo com que foi tirada não permite ver a sua estrutura viária nem reconhecer bem os edifícios: 

FOTO 7 (clique para aumentar como para a maioria das outras do HoM) 
Verde claro: Pilgrim Street vista para de leste = esquerda = nível mais baixo
 para oeste = direita = nível mais alto (o da FOTO 4)
Preto: parte inferior da Praça do Mercado
Laranja claro: Crown Street
Oval verde azeitona: topo dum telhado que marquei na FOTO 1 com marcas
 e que ficava para oeste da parte superior da Praça do Mercado
Vermelho: edifício da primeira Bolsa das FOTOS 1 com marcas e 5 mas de que
 não se vê o corpo mais alto das traseiras e nao sei porquê
Preto: parte inferior da Praça do Mercado
Há outras fotos de Barberton antiga que poderia analisar mas fico por agora por aqui. Numa série separada sobre Barberton falarei dos magnatas das minas e dos mineiros e dos meios de transporte dessa época mas para já voltarei a Lourenço Marques, actual Maputo.

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