Construção da 1a ponte-cais Gorjão em madeira frente à estação dos CF - draga e ICCT 3 (3/6)

Falámos num primeiro e num segundo artigo da construção inicial da ponte-cais Gorjão no porto de Lourenço Marques, actual Maputo que como vimos nos mapas aí incluídos tinha lugar aproximadamente na direcção da estação dos Caminhos de Ferro.
Voltamos ao tema começando com uma foto reproduzida dum postal à venda no site de coleccionismo delcampe.net na qual em primeiro plano está uma draga e à direita, para noroeste, vê-se a construção da ponte-cais avançando de poente = oeste = lado do Infulene para nascente = leste = lado da baixa da cidade.

FOTO 1
Draga a vapor com cobertura de cor clara na proa
A legenda original do postal é "dragando o ancoradouro" mas veremos que a draga estava associada aos trabalhos da ponte-cais. Desconheço a data exacta da FOTO 1 e das seguintes que veremos são contemporâneas, mas como a construção da ponte-cais terá começado em 1902 e as FOTOS 4 e 5 devem ser de Agosto de 1903 devem ser todas desse período, quer dizer da primeira metade da primeira década do século XX. Lembro que noutro artigo e sua sequência explicamos melhor como foi feita a construção.
Passemos a três fotos do ACTD IICT já apresentadas no HoM e em que podemos observar essa draga com mais atenção.

FOTO 2
Draga no estuário ladeando a frente de construção da ponte cais (1-n4690)

As estacas onde iria assentar a ponte-cais parecem-me ser as de madeira australiana com que se iniciou a construção em 1902. Sabemos que a partir de 1907 começaram a ser aplicadas estacas de betão e apesar de nestas fotos não se conseguir ver bem qual o material, dado verem-se ainda muitos veleiros no estuário suponho que aqui se estava na primeira fase com as de madeira australiana. 
(NB: ver por este artigo que estas fotos devem ser de c. Agosto de 1903 pois algumas delas mostram navio o Swazi inaugurando a nova ponte-cais nessa data)
Essa ideia é reforçada por neste artigo ver-se na segunda foto claramente estacas em betão com volumosas travessas e diagonais. Embora haja a coincidência de estar a draga com a cobertura na proa à direita dessa foto, o aspecto geral da estrutura é bem diferente do que se vê nas fotos do corrente artigo (na FOTO 5 vê-se diagonais mas muito finas). Mas de facto não tenho a certeza pelo que se vê nem sei se foram feitas fotos para todas as fases de construção e se estas fotos estão bem agrupadas no IICT / ACTD. 
Prosseguindo com a draga servindo de fio condutor neste artigo:

FOTO 3
Draga com a proa virada para o estuário e atravessada em frente à construção (8-n4697)

Na FOTO 3 vê-se que os bate-estacas (quatro lado a lado) eram empurrados por uma locomotiva a vapor que devia também transportar as estacas do estaleiro para serem aplicadas.
Na FOTO 4 vemos a draga do lado de cá (norte = do interior das terras) da ponte-cais em construção e com a maré muito mais cheia do que na FOTO 3.

FOTO 4
Draga com com a proa virada a nascente = leste = baixa da cidade (12-n4701)

A draga desaparece do campo de visão nas duas fotos seguintes do ACTD IICT, estas inéditas no HoM. Na primeira vê-se de perto a popa dum navio:

FOTO 5 
Estacaria com travessas e diagonais. Muro de alvenaria do lado norte = interior
 da ponte-cais que penso se via também à direita da FOTO 2 (11-n4700)

O muro da FOTO 5 era preciso para se fechar a estrutura da nova ponte-cais do lado interior de modo a permitir o aterro entre ele e o muro de suporte da linha férrea no limite do já aterrado nessa altura.  A FOTO 6 mostra que a ponte-cais, que foi desenhada em linha recta desde o seu início frente à Praça 7 de Março, actual 25 de Junho, terminava a uns 50 metros para poente = oeste do local em primeiro plano. A curva que se vê daí para a direita tinha sido usada para a colocar à profundidade de estuário desejada, através de um molhe (crescendo para o estuário a partir do aterro existente). Noto que na segunda FOTO 2 dartigo acima referido deve mostrar-se o início destes trabalhos do lado de terra.
Observaremos agora um edifício feito sobre o aterro tornado possível pela nova ponte-cais (esta foto é parecida com uma do artigo anterior).

FOTO 6 
à esquerda: limite em Agosto de 1903 ou pouco depois a oeste = 
= poente da ponte-cais Gorjão.  Ao fundo o cais das estâncias.
à direita: edifício em construção de alvenaria com janelas de arco quebrado (em ogiva) (13-n4702)

No artigo supracitado mostrava-se em Agosto de 1903 o primeiro navio - SWAZI - a atracar na ponte-cais Gorjão o que motivou grandes festejos na cidade. Parece-me olhando para a pintura na chaminé e para a posição dos paus de carga que o navio acostado nestas FOTOS 4 e 5 seria o mesmo SWAZI.  Noto também que se via na FOTO 3 desse artigo o fim do cais em linha recta e as linhas férreas no aterro a curvar em direcção à terra firme, o que correspondia, embora no sentido oposto, ao que se vê nesta FOTO 6. 
Voltando ao edifício que se construía na FOTO 6 à direita, ele aparecia também na FOTO 4 mais acima onde se pode observar que estava em situação alguns dias anterior.

FOTO 4 ampliada
Edifício junto à nova ponte-cais com as paredes subindo até metade das janelas, 
daí a FOTO 6 ser posterior ou mais recente que a FOTO 4

De resto a maioria destas fotos não permite avaliar qual a sua relação com a progressão da construção da ponte-cais. Certo é que a FOTO 1 é posterior pelo menos às FOTOS 2, 4 e 6 (as três onde se vê bem o lado interior do cais) pois só nela surge bem levantada uma estrutura que se vê ser para armazém a qual parecia estar no início na FOTO 4. Essa ideia é reforçada pelo facto de o edifício de alvenaria em construção nas FOTOS 4 e 6 aparecer na FOTO 1 para o fundo dessa estrutura já provávelmente terminado.
Recordando genéricamente a localização destes trabalhos num mapa do porto e da Baixa da cidade em que se mostrava já construída a ponte-cais que apareceu nas imagens de cima estava planeada a sua expansão. 


MAPA de 1904/06
Vermelho: ponte-cais que se vê a construir nestas fotos
Azul: linha férrea principal para a primeira estação e depois adaptada à nova estação
Azul escuro: muro de suporte da linha férrea 
e do aterro feito até ela antes da construção desta ponte-cais
Preto: novo molhe que permitiu a construção da ponte-cais daí para nascente
Carmesim: extensão posterior da ponte cais para oeste no estuário
Verde: praça dos Caminhos de Ferro
Laranja claro: praia natural original quase na ponta da "ilha inicial"

Noto que a planeada ponte-cais marcada a carmesim que não seria acompanhada de aterro do lado de terra era a que conhecemos por ter tido ao lado os armazéns frigoríficos e que no mapa de 1940 continuava sendo uma língua sobre o estuário.
Finalizando um texto histórico sobre a aquisição duma draga, dum rebocador e de batelões para o porto de Lourenço Marques sendo o responsável o primeiro tenente da armada Neuparth de que falámos aqui 
Revista Científica "Portugal em África"

Como a draga foi encomendada em 1898 terá levado mais de um ano a ser construída e delocar-se para Moçambique. Como penso que as fotos deste artigo na maioria serão de c. de 1903 em termos de datas seria possivel a draga das fotos ser essa encomendada em 1898. O comprimento de 37 metros também parece ajustar-se ao que se vê principalmente nestas FOTOS 1 e 4, problema é que contráriamente ao dito no texto supra nestas fotos só aparece um mastro na draga.

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