Cais Holandês por volta de 1900-1905 e localização actual

Começamos com uma foto do Cais Holandês (CH) ou ponte holandesa de que tinhamos já falado na mensagem sobre o Cais das Estâncias das madeiras. Ver aqui a explicação para o nome e aqui mais info e fotos sobre o CH.

FOTO 1
Cais Holandês (CH), estamos a olhar do lado norte do estuário 
para a Catembe na outra margem

A FOTO 1 é dos irmãos Lazarus que viveram em Moçambique de 1899 a 1908, é dita ser de 1906, mas essa talvez fosse a data em que o postal foi enviado e por isso a foto fosse anterior. Vê-se que os navios veleiros fundeavam no meio do estuário e que as barcaças/batelões transportavam as mercadorias descarregadas deles para este cais, sendo rebocadas pelo pequeno navio a vapor da chaminé. Nesta altura os guindastes deste cais eram ainda bastante rudimentares. 
A FOTO 2 mostra também o cais holandês visto para sudeste e com a Catembe para o fundo:

FOTO 2
Vista do Cais Holandês para sudeste com a Catembe ao fundo

Alfredo Pereira de Lima na obra História dos Caminhos de Ferro descreve da forma seguinte esta estrutura: ponte metálica com tabuleiro de madeira com 130 metros de extensão e 4 linhas férreas, tinha 3 guindastes móveis de 2 toneladas e dois fixos, um de 5 toneladas e outro de 2 toneladas. Na FOTO 2 vê-se que o cais era constituído por uma primeira parte em alvenaria (que na FOTO 1 se vê faz uma pequena curva para sudoeste) e uma segunda parte mais para dentro do estuário, essa sim, em estrutura metálica e seriam as duas que fariam os 130 metros no total. 
Quanto aos guindastes, todos a vapor, na FOTO 2 vê-se realmente 5 braços. Os de braço mais curto eram os móveis (sobre carris, com a chaminé atrás) e vê-se 3 e presumo que os 2 fixos fossem os de braço mais comprido, um na ponta do cais e outro do lado oposto ao do fotógrafo (os dois estavam virados para a esquerda nessa ocasião). Esta ponte estava por isso já mecanizada com o acesso a locomotivas e vagões e com guindastes para facilitar as operações de carga e descarga.
A companhia (ZASM) que fez o Cais Holandês deve ter escolhido esta zona ocidental do estuário por as águas serem mais calmas (quase enseada protegida do vento e das ondas da baía) do que na zona frente à Baixa, como podemos ver no mapa seguinte. 

Mapa de 1904_06 
Matola para a esquerda - Lourenço Marques para a direita
Laranja: CH ou Ponte Neherlandeza, como na FOTO 1 
penetrando no estuário com a Catembe para o fundo
Roxo: Cais das Estâncias das madeiras para poente = oeste do CH
Verde claro: actual Av. 25 de Setembro
Verde escuro: Praça dos Caminhos de Ferro
Amarelo: Oficinas Navais da Catembe
Azul: Zero hidrográfico
Seta vermelha: actual Indústrias Loumar na Malanga 
(explicação em baixo relativamente às FOTOS 3 e 4)
Branco: Quarteirão do Quartel do Alto-Maé acima da Av. Josina e da barreira

Como já vimos no artigo sobre o lado oriental do estuário, o zero hidrográfico é a beira mar com a maré mais vazia astronómicamente possível. Quer dizer que o Cais Gorjão, que acabou por ligar o cais que estava à esquerda a vermelho com a ponta a sul do CH, foi construído sobre a linha do zero hidrográfico. Não sei se isso é normal e que implicação teve para a altura do cais ou para o seu funcionamento, mas é o que se vê neste mapa.
Vamos agora tentar aproximadamente localizar o que vimos no cais actual. As linhas pretas tentam ser prependiculares ao cais e são traçadas a partir de dois pontos de referência no interior que são o Quartel do Alto Maé (já no mapa de 1904-06) e as Indústrias Loumar de que podemos estimar a posição nos dois casos.

FOTO 3 - Google Earth actual
Laranja: Onde foi a CH ou Ponte Neherlandeza (posição indicada como no mapa)
Roxo: Linha no limite exterior de onde foi o Cais das Estâncias
Seta vermelha: actual Indústrias Loumar na Malanga
Branco: Quarteirão do Quartel do Alto-Maé acima da Av. Josina 
e da barreira (marcha verde)
Verde claro: actual Av. 25 de Setembro
Verde escuro: Praça dos Caminhos de Ferro
Amarelo: onde foram as Oficinas Navais da Catembe

Daqui, olhando para a direcção da linha preta mais à direita na FOTO 3, sou levado a especular que a FOTO 2 foi tirada do Quartel do Alto-Maé, ou do edifício que marquei com 3 ou do muro a sul que marquei com 6.

FOTO 4
Seta vermelha: actuais Indústrias Loumar na Malanga
Roxo: Cais das Estâncias terá sido por ex. onde estão os armazéns do açúcar
Cais Holandês: a ponta teria sido para o canto inferior direito da foto. 
Não se consegue ver a intersecção com a ponte cais actual mas indico a linha preta mais para leste correspondente à direcção do quartel

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