Central Geradora da DBDC na Av. 24 de Julho - início, desenvolvimento e imagens recentes (3/4)

Juntamos aqui aos artigos anteriores nova informação particularmente da investigadora universitária Idalina Baptista (página da Universidade). Depois de adquirir a concessionária CGd'E em 1910 a DBDC passou a ter duas centrais geradoras em Lourenço Marques (LM), actual Maputo até que em 1912 concentrou todas as operações na Av. 24 de Julho. Essas centrais e seus grupos geradores até 1912 eram então: 
1. central própria na Av. 24 de Julho que inicialmente devia ter dois grupos a que se juntou mais um em 1908 para fornecer energia ao porto; 
2. central da CGd'E na Baixa que pelo menos teria os dois grupos geradores iniciais de 1898 ou os seus substitutos e/ou ampliações. 
Segundo texto do Eng. Pimentel dos Santos de que daremos detalhes em baixo, cerca de 35 anos depois da consolidação da produção na Av. 24 de Julho, isto é em 1947, estavam aí cinco grupos em operação. Eles tinham sido fabricados aproximadamente em 1901 (caso de dois grupos de 200 kW), 1907 (um de 600 kW), 1913 (um de 400 kW), 1916 (um de 400 kW) e 1932 (para um de 900 kW, que era o mais recente e o maior). O gerador de 1907 com 600 kW deve ter sido o adquirido pela DBDC para a energia do porto, os três mais recentes tinham sido instalados quando a central era já a única a funcionar para a rede pública. 
Depois da evolução do equipamento da central, veremos agora uma foto do início dos anos 50 com ela em funcionamento:

FOTO 1
Central geradora da DBDC na Av. 24 de Julho vista para sudeste 
aqui com três torres de arrefecimento, duas escuras e uma clara mais alta
Veremos agora uma foto relativamente recente do exterior das antigas instalações da DBDC na Av. 24 de Julho que ocupam a parte central e a norte do quarteirão onde se inserem e que tinhamos localizado com precisão nos mapas do primeiro artigo. É o caso da FOTO 2 em que ele aparece delimitado para o fundo = a norte pela Av. 24 de Julho, à esquerda = oeste = ponte pela Av. Marx, antiga Central/Manuel de Arriaga, à direita = leste = nascente pela Av. Palme, antiga José de Anchieta e em baixo = sul para Av. Min antiga Andrade Corvo (e onde é possível que tenha havido construções posteriores às da foto). À esquerda e norte do quarteirão estavam ainda construções de um piso, umas antigas outras aparentemente recentes, que foram demolidas entre 2014/2015 e à direita estava um prédio alto que foi iniciado nos anos 60/70 mas que parece nunca foi terminado. 

FOTO 2 (de José Afonso)
Conjunto de três pavilhões no local da antiga central geradora de LM
ao centro e cimo do quarteirão por trás da Câmara/Conselho Municipal
As marcas na FOTO 2 servem para a comparamos com a FOTO 1 sendo todas equivalentes: 
FOTO 1 com marcas
Vermelho: pavilhão maior da central
Rosa: pavilhão mais pequeno da central
Castanho claro: depot dos carros eléctricos
Verde (a norte): Av. 24 de Julho
Via-se ainda na FOTO 1 as chaminés e as torres de arrefecimento e os fumos e vapor mostravam que ela estava em funcionamento.
Podemos também recordar do primeiro artigo a central quase inicial em 1907 e que tinha os mesmos  pavilhões da FOTO 1 (o da direita era o depot dos eléctricos). Noto que na FOTO 3 se vê a central para sudoeste, quer dizer topos laterais dos pavilhões que se vêm nas FOTOS 1 e 3 são opostos.

FOTO 3
Vermelho: pavilhão maior da central
Rosa: pavilhão mais pequeno da central
Castanho claro: depot dos carros eléctricos

Verde (a norte): Av. 24 de Julho

Na FOTO 1 viam-se chaminés mais altas e eram duas e havia mais torres de arrefecimeto e pareciam diferentes da inicial da FOTO 3. De resto os dois pavilhões da central eram os mesmos e parecem ser os dois que na FOTO 2 estão mais para o centro do quarteirão ou seja para o lado da antiga Câmara. Acima deles e face à Av. 24 de Julho continua o depot = depósito dos eléctricos inicial mas as antigas torres de arrecimento e chaminés despareceram sem deixar rastos claros.. 

A FOTO 4 também recente dá, em relação à FOTO 1, uma perspectiva diferente do recinto e pavilhões da antiga central mas o lado dos pavilhões à vista nas duas é o mesmo. Vê-se na FOTO 4 para o centro do quarteirão os dois pavilhões da antiga central e que aparecem colados e para a esquerda deles está a face a sul do depôt dos eléctricos. A FOTO 4 foi tirada olhando-se para leste = nascente e a artéria transversal em primeiro plano com carros estacionados no passeio é a Av. Marx, antiga Manuel de Arriaga (voltaremos a esta foto no artigo seguinte).


FOTO 4
Recinto da antiga central geradora do centro para cima e para a esquerda da foto
Passamos para a FOTO 5 tirada da esquina entre a Av. 24 de Julho por onde era o acesso ao depot dos eléctricos e à central geradora e a actual Av. Marx, antiga Manuel de Arriaga, a mesma avenida que aparece na parte inferior da FOTO 4. De facto na FOTO 5 vê-se a central em posição semelhante à da FOTO 1. Do lado esquerdo da FOTO 5 estâo os dois antigos pavilhões da central, o depósito dos eléctricos estaria um pouco mais para a esquerda e por isso não se vê.


FOTO 5
Vista dos dois pavilhões da central geradora na fachada poente=oeste 
(topos laterais como na FOTO 1 dos anos 50 e  opostos aos da FOTO 3 de 1907)
Nota-se na FOTO 4 que os topos laterais dos dois pavilhões têm um óculo em cima como o que se via do lado oposto (lado poente = oeste) na FOTO 2 de 1907. Têm também uma parte central sobre-elevada pelo que parece que apesar de aparentemente reabilitados mantêm alguns elementos das construções iniciais. 
Podemos ver na FOTO 6 uma imagem mais próxima do pavilhão mais a sul da antiga central e que era e é o maior dos dois da central e era o que aparecia mais à esquerda =  para sul na FOTO 3. Nesta FOTO 6 o pavilhão mais a norte está tapado pela árvore e o depot dos carros eléctricos estaria ainda mais para a direita. Os prédios ao fundo estão no lado oeste = poente da Av. Marx, antiga Manuel de Arriaga.


FOTO 6
Um dos pavilhões da antiga central geradora 
mas as torre de arrefecimento e chaminés desapareceram há muito.
Noto que o topo lateral deste pavilhão actualmente não tem o óculo em cima que se vê na foto de 1907 e que se mantém do lado oposto (lado poente = oeste) como se via nas FOTOS 1, 4 e 5. Deste lado leste = nascente o pavilhão tem também uma parte coberta a chapa que do outro lado não tem. Pela parte sobre-elevada do telhado que se vê em 1907 (FOTO 3) chegava ao extremo e que agora não chega é possível que deste lado tenha havido alterações pelo menos neste pavilhão da antiga central geradora. Voltaremos a observar estas construções noutro artigo.

Detalhes sobre os grupos geradores da central da Av. 24 de Julho:
Na lista de geradores do Eng. Pimentel dos Santos (documento original provém do Arquivo Histórico da Caixa Geral de Depósitos de Portugal (https://www.cgd.pt/Institucional/Patrimonio-Historico-CGD/Arquivo-historico/Pages/Arquivo-Historico.aspx) onde tem a cota MOB 402) os dois grupos datados de 1901 e com 200 kW de potência eram dois anos anteriores à instalação da central da DBDC em 1903, por isso não sei se teriam estado esses dois anos à espera de instalação, se teriam sido equipamentos adquiridos pela DBDC em segunda mão noutras origens ou se teriam sido equipamentos transferidos para esta central depois da integração dos equipamentos da CGd'E na DBDC entre 1910/12. No último caso e sendo eles de 1901 seriam duma ampliação na central da CGd'E na Baixa dado que esta começou a laborar em 1898. Como não consta da lista do Eng. Pimentel dos Santos nenhum grupo de 1898 ou anterior suponho que os grupos iniciais da CGd'E tenham sido abatidos ao serviço relativamente cedo dado provávelmente terem muito baixa capacidade relativamente às necessidades futuras.
Quanto aos geradores iniciais usados pela DBDC em 1903/04 para o início com os carros eléctricos, a única possibilidade de existirem ainda em 1947, olhando para a lista do Eng. Pimentel dos Santos, seria a de se tratar dos geradores de 1901 os quais tinham 200 kW cada, ou seja o par tinha 400 kW de potência. Todavia não tenho outros dados que possam claramente confirmar que fosse essa a potência dos grupos originais da central da DBDC e por isso de satisfazer essa curiosidade histórica. Há também uma questão técnica pois segundo a informação disponível a alimentação dos carros eléctricos era a 500 V e se esses geradores tivessem continuado a ser usados depois de 1936 (ano do encerramento do serviço dos carros eléctricos) eles teriam de ter sido adaptados à tensão vigente de 220 V em 1947 e que tinha sido instituida em 1922. Como disse anteriormente todas as tensões mencionadas pelo menos até 1947 eram em Corrente Contínua.

Tema continua no próximo artigo.

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