Cabaret Moçambique e canções luso-moçambicanas dos anos 50/60 (2/3)

Continuando o artigo anterior em parte relacionado com a cena musical de Lourenço Marques do final dos anos 50, a partir do site soulsafari ficámos a saber que do lado A do LP sul-africano da Gallotone reproduzindo o espectáculo "Cabaret at the Moçambique" estavam as canções luso-moçambicanas Moçambique e Kanimambo e como pudemos aí escutar havia mais duas que estariam do lado B. Mas não sabiamos quais eram as restantes faixas do lado B e particularmente se as canções "Férias em Lourenço Marques" e "Hambanine" que Elsa Vilar incluíu depois no seu EP africano estavam incluídas ou não. 
Por feliz acaso podemos ver as canções completas do espectáculo "Cabaret at the Moçambique" no verso da capa dum LP lançado em 1962 e do qual aparece informação no site discogs. Esse LP foi lançado pela Universe Record Company Of California, Inc. e deve ter usado o material gravado na África do Sul para o "Cabaret at the Moçambique". Essa companhia norte americana parece pouco conhecida (nada tem a ver com a gigante Universal Music muito mais recente ou as suas predecessoras) e ter-se-ia dedicado a música "étnica" estrangeira e daí ter incluido um disco português na sua colecção.
Primeiro podemos ver o disco de vinilo da norte-americana Universe Record de Los Angeles:
Lado B de Long Playing, disco de Longa Duração (LP)
Partindo do princípio de que a selecção de temas e interpretes do espectáculo inicial foram mesmo feitas pelo proprietário do restaurante "The Moçambique" e pelo director musical podemos concluir que foram muito eficazes. Primeiro devem ter conseguido aumentar o "buzz" do restaurante em Jo'burg em 1959/60 e a partir daí despertado o interesse do A&R da Gallotone sul-africana, embora isso estivesse facilitado por a clientela sul-africana potencial para o disco conhecer Moçambique / Portugal. Quanto à Universe Record ter escolhido o disco da Gallotone para representar a música portuguesa nos Estados Unidos não sei o como e porquê mas a probabilidade de tal suceder seria em princípio ínfima dada a enorme gama de música portuguesa disponível. Por isso presumo que o disco com a sua mistura de temas lusófonos de origens diversas (quatro canções luso-moçambicanas, a célebre "Avé Maria no Morro" do Brasil e fados / fados-canção de Portugal "continental") tenha tocado algum ponto sensivel do A&R da Universe e nasceu assim um LP americano de 1962 com esse alinhamento. Mas finalmente não sabemos se esses dois LPs acabaram ou não por ter sucessos comerciais e/ou artísticos. 
Podemos ver a lista completa das canções do LP americano na sua contracapa - também a partir do site discogs - e reforçando o que já se podia antever em cima olhando para a etiqueta do seu lado B conclui-se que ele foi réplica exacta do LP sul-africano. 
LP americano relacionando-se com Moç. o nome de Maria Adalgisa
 e as 4 canções que podemos escutar no artigo anterior. 
Um pormenor interessante é que se na África do Sul a capa do LP tinha um "sabor a Moçambique" por exemplo com o cenário marítimo ao fundo e o nome referindo-se ao restaurante, para o mercado dos Estados Unidos isso óbviamente não era relevante. Por isso e como se pode ver no sitdiscogs a capa do LP da Universe Records mostrava Lisboa urbana e o nome do disco destacava Portugal tendo a menção rigorosa ao espectáculo original desaparecido. De facto o nome do LP americano parecia relativo a um cabaret chamado Moçambique situado algures e onde essa música era tocada, em vez de significar que essa tinha sido a banda sonora dum espectáculo musical realizado num restaurante chamado "The Moçambique" e fazendo ainda a capa lembrar a costa do Índico
No próximo artigo falaremos um pouco mais sobre o grande intérprete luso-moçambicano destas canções dos anos 50/60 e da relação da editora Gallo(tone) com os autores de Moçambique.

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