Cabaret Moçambique e canções luso-moçambicanas dos anos 50/60 (3/3)

Fotos de Tudella em Lourenço Marques dos anos 60
Vemos em cima duas capas de discos EP de Tudella com a Av. da República, actual 25 de Setembro do lado oriental da Baixa de Lourenço Marques, actual Maputo. Na primeira estava numa rotunda entretanto desaparecida de que vimos imagem aqui e na segunda parece-me que estava no terraço da antiga Casa Hillman, o edifício que na primeira capa se via para o fundo à direita.
João Maria Tudella (João Maria de Oliveira Pegado Bastos Carreira, informação desenvolvida no discogs) foi o intérprete para quem a maioria das canções luso-moçambicanas dos anos 50/60 foram criadas mas elas foram sendo interpretadas por outros artistas. 
Relembrando o EP a solo de Elsa Nobre falado no primeiro artigo, concluiu-se a partir do alinhamento completo do LP americano que vimos no segundo artigo que do espectáculo na África do Sul em que ela participou utilisou no EP o "Kanimambo" que ouvimos aqui interpretado por ela própria mas com orquestração diferente e o "Moçambique" que Maria Adalgisa tinha aí cantado. As outras duas composições "Férias em Lourenço Marques" e "Hambanine" que Elsa incluiu no seu EP devem ter sido seleccionadas a partir das gravações de Tudella. 
Assim vamos neste artigo ouvir mais canções de Tudella, de que há no spotify (inscrição gratuita) uma colectânia chamada "Uma Casa Portuguesa" com versões não originais em que foi acompanhado por Dan Hill e seu quinteto. Estão aí incluidas três das canções gravadas por Elsa incluindo "Férias em Lourenço Marques" / "Holiday em Lourenço Marques" que é raro ouvir-se e sendo aí Kanimambo a excepção. Pode-se no entanto ouvir no youtube Kanimambo e também Moçambique que foram os maiores sucessos de Tudella e nas interpretações originais com a orquestra do Rádio Clube de Moçambique. 
Esta é a etiqueta do single Kanimambo de Tudella com a orquestra do Rádio Clube:
Do disco Kanimambo de Tudella, editora Gallotone
E este é o single de "Férias em Lourenço Marques" de Tudella também com a orquestra do Radio Clube. A música é de Artur Fonseca e a letra de C. Vieira que não tinha sido mencionado até aqui no HoM.
Disco de Tudella da DECCA gravado por Gallo África
De Hambanine com música de Artur Fonseca e letra Vasco Matos Sequeira aparece uma boa versão original no youtube mas a partir de certa altura mostra imagens femininas um tanto despropositadas, embora nada de muito grave. Aproveito daí quatro boas capturas de écran com a devida vénia a Louis Cifer
Jovem Tudella e seu single com Hambanine do lado A  enquanto que
 Moçambique do lado B acabou por ter muito mais sucesso 
Pode-se observar nestas três últimas imagens de discos que a Gallo(tone) teve neles alguma participação. Como foi essa editora sul-africana que lançou o disco "Cabaret at the Moçambique" e prolongando um pouco mais os "achismos" do HoM imagino que ela tivesse relação previlegiada com a cena musical laurentina.
Sobre Tudella (notícia do falecimento em 2011) há um bom artigo de João Santos Costa no site bigslam (com parte da info da wikipedia) onde é dito que depois de ter passado a residir em Portugal "continental", para o final dos anos 60 com novas amizades e influências se foi afastando do universo original luso-moçambicano, tanto musical como ideológico 
Em contraponto podemos ver no blog "um voo cego a nada" a impressão interessante do autor sobre a obra inicial de Tudella e o que ela representava, e a trajectória de alguém que na infância esteve nela imerso, a rejeitou depois e de certa forma finalmente se reconciliou com ela. 
Noto ainda que no spotify há outro disco em que Tudella canta fado sendo a faixa "Recordações" fado de Coimbra, cidade da "metrópole" onde chegou a estudar. 
Concluíndo este parêntesis discográfico / musical do HoM, acho que On This Night of a Thousand Stars (começa no youtube ao segundo 0:34) de Andrew Lloyd Webber (e letra de Tim Rice) do músical Evita dos anos 70 é um tanto semelhante à canção Moçambique do final dos anos 50, se tentarmos conjugar os seus tons e tempos. Todavia se formos procurar pode haver um tango (ou bolero ?) que tivesse sido a inspiração das duas, por isso o processo criativo da mais recente pode ter sido mais complexo do que parece.

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