Continuamos o tema iniciado aqui com a publicação pela revista "O Ilustrado" da notícia da passagem por Lourenço Marques (LM) de submarinos italianos em Novembro de 1933.
Vimos depois neste artigo uma foto de grupo no baile em homenagem às tripulações onde ao centro, em posição recuada e mais elevada estava o Capitão de Mar e Guerra Savio que comandava o grupo ou secção dos dois submarinos.
A legenda da foto não o dizia nem os nomeava mas presumamos que quem estaria ao lado de Savio seriam os mais altos responsáveis da comunidade italiana em LM nesses tempos. Tentemos então ver quem seriam:
Vimos depois neste artigo uma foto de grupo no baile em homenagem às tripulações onde ao centro, em posição recuada e mais elevada estava o Capitão de Mar e Guerra Savio que comandava o grupo ou secção dos dois submarinos.
A legenda da foto não o dizia nem os nomeava mas presumamos que quem estaria ao lado de Savio seriam os mais altos responsáveis da comunidade italiana em LM nesses tempos. Tentemos então ver quem seriam:
FOTO 1
Personalidade local de fato preto, Comandante Savio
e personalidade local de fato branco
Comecemos pelo senhor mais jovem à direita da FOTO 1 e fácil será reconhecer nele o cônsul de Itália que segundo o reporter de "O Ilustrado" era Gaspar Buffa (Buccellato) que vimos por exemplo nesta foto e neste artigo em três fotos, mas essas estavam mais escuras. O seu casaco / casaca branca não se confundia com os dos oficiais do submarino pois não tinha sobre os ombros as bases para os galões pretos. Está assim em princípio nomeado um dos pares do Comandante Savio na foto e falta então saber quem aparecia à sua esquerda para sabermos um pouco mais da "estória" dos italianos em LM.
À direita do grupo em Marracuene do terceiro artigo estava um senhor que estimei fosse aí um dos dois ou mesmo o único homem da comunidade italiana local. Coloco a sua face na montagem seguinte à direita para compará-la com pormenores das fotos no cais e onde penso encontrá-lo vestido com a camisa negra. O senhor do grupo em Marracuene era então, muito provávelmente, o secretário do fascio (delegação) do Partido Nacional Fascista (PNF) italiano em LM e que foi identificado pelo reporter de O Ilustrado como sendo Giuseppe Buffa (Buccellato):
À direita do grupo em Marracuene do terceiro artigo estava um senhor que estimei fosse aí um dos dois ou mesmo o único homem da comunidade italiana local. Coloco a sua face na montagem seguinte à direita para compará-la com pormenores das fotos no cais e onde penso encontrá-lo vestido com a camisa negra. O senhor do grupo em Marracuene era então, muito provávelmente, o secretário do fascio (delegação) do Partido Nacional Fascista (PNF) italiano em LM e que foi identificado pelo reporter de O Ilustrado como sendo Giuseppe Buffa (Buccellato):
MONTAGEM 1 (de O Ilustrado + ex delcampe + de artigo anterior)
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Quatro fotos à esquerda: secretário do fascio dito por O Ilustrado ser GBB
Foto da direita: senhor do grupo em Marracuene que penso ser o mesmo
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A questão é então se o senhor da MONTAGEM 1, o secretário do fascio de LM na política italiana e empresário na vida comum, Giuseppe Buffa (Buccellato), era também quem estava à esquerda na FOTO 1 que tem pouco detalhee básicamente correspondia no penteado, bigode e nariz.
Giuseppe Buffa Buccellato (GBB) tinha um irmão Pietro Buffa Buccellato (PBB) que também residia em LM e que presumo seria mais velho que ele. Não temos foto específica de PBB embora ele possa estar num grupo cuja foto aparece no site sobre Hóquei em Patins em LM do falecido Francisco Velasco. Temos nesta foto os primeiros hoquistas em patins de LM, formando 2 equipas (de 4 jogadores de campo + 1 guarda redes, que estariam à direita?) + 1 árbitro? + 2 senhores de fato.
Presumo que esta foto seja de entre 1910 e 1912 pois vê-se chapa de ferro zincado na rectaguarda pelo que devia tratar-se do teatro/cinema/rinque de patinagem Varietá construído em 1910 por PBB e seu sócio Ângelo Brussoni. PBB tinha tirado em Itália o curso de belas artes e em LM como construtor civil certamente terá construido o edifício definitivo do Varietá em 1912 e esteve envolvido no edifício da fachada da estação de Caminhos de Ferro erigido entre 1913 e 1916 mas perde-se-lhe depois o rasto até saber-se que 1955 tinha já falecido provávelmente ainda em LM.
FOTO 2
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| Estariam aqui os dois irmãos Guiseppe e Pietro Buffa Buccellato? Eu diria que um seria o de fato civil à esquerda e o outro o equipado por trás logo à direita desse mas ... |
A questão que coloco na legenda da FOTO 2 relaciona-se com o falecido Francisco Velasco no seu site ter escrito mas sem relação explícita com essa foto, citando a revista do SNECI de 1955: "foram primeiros praticantes (de hóquei) ... G. B. Buccellato, o conhecido comerciante e industrial felizmente ainda entre nós, seu irmão já falecido, ....".
Maria Helena Bramão (MHB) no seu Livro de Ouro (descarregar aqui) disse que GBB foi "capitão da primeira equipa de Hóquei Patinado que existiu em Lourenço Marques". Para analisarmos a FOTO 2 temos de ter em conta que os patins fazem com que os patinadores em pé pareçam mais altos uns 10 cm do que o que são e tendo isso em conta a partir da MONTAGEM 1 eu diria que Guiseppe BB, que na altura da FOTO 2 (se ela for de 1910) teria uns 28 anos de idade pois chegou em 1902 a Moçambique com 20 anos de idade (teria nascido cerca de 1882). Guiseppe BB seria então o terceiro hoquista a contar da esquerda na fila de pé e PBB seria o senhor de fato civil à esquerda. E a lógica (da batata) levar-me-ia a dizer que o civil de boné à direita seria Brussoni, o outro italiano proprietário do rinque,
Maria Helena Bramão (MHB) no seu Livro de Ouro (descarregar aqui) disse que GBB foi "capitão da primeira equipa de Hóquei Patinado que existiu em Lourenço Marques". Para analisarmos a FOTO 2 temos de ter em conta que os patins fazem com que os patinadores em pé pareçam mais altos uns 10 cm do que o que são e tendo isso em conta a partir da MONTAGEM 1 eu diria que Guiseppe BB, que na altura da FOTO 2 (se ela for de 1910) teria uns 28 anos de idade pois chegou em 1902 a Moçambique com 20 anos de idade (teria nascido cerca de 1882). Guiseppe BB seria então o terceiro hoquista a contar da esquerda na fila de pé e PBB seria o senhor de fato civil à esquerda. E a lógica (da batata) levar-me-ia a dizer que o civil de boné à direita seria Brussoni, o outro italiano proprietário do rinque,
Mas isto são suposições em cascata, "garantidamente" de Guiseppe BB temos uma foto do livro de MHB e no ano de 1964 pelo que ele teria uns 82 anos de idade. Coloco essa foto à direita na montagem seguinte para a comparar com a FOTO 1 de 1933, altura em que Guiseppe BB, se fosse mesmo ele que lá estivesse teria uns 51 anos de idade:
MONTAGEM 2
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Estaria aqui GBB no Baile em 1933 com 51 anos à esquerda?
À direita GBB está com 82 anos e tem semelhanças mas ...
Seria à esquerda PBB ou outro italiano sem relação com os BB? |
Fotos à parte e passando aos aspectos políticos, ficámos a partir de "O Ilustrado" a saber que Guiseppe BB foi em 1933 secretário do fascio em LM do PNF de Mussolini. Quando MHB escreveu o seu livro estava-se na "primavera marcelista" do Estado Novo em Portugal, pós morte de Salazar e de alguma perda de influência de elementos mais passadistas do regime. Os "tempos" eram outros e por isso MHB ou a família BB devem ter achado apropriado omitir do extenso e cuidado Curriculum Vitae de Guiseppe BB apresentado no livro essa passagem de "partisan" da extrema direita na sua vida.
Seria também interessante saber-se como GBB, que entretanto se tinha tornado um grande empresário, se posicionou políticamente depois de 1933 em relação à sua raiz italiana. Depois do "namoro" de Guiseppe BB com o PNF, antevejo que situações problemáticas para ele poderiam ter surgido a partir de 1936 quando a Itália aderiu ao Eixo com a Alemanha e o Japão e mais ainda a partir do início da Segunda Grande Guerra (2a. GG) em 1939 quando a Itália entrou em guerra contra os Aliados onde se incluiam a imperial Inglaterra e a África do Sul vizinha de LM. Será que a partir desses marcos Guiseppe BB manteve o posicionamento político / ideológico inicial ou "baixou o perfil" pelo menos em público (óbviamente se teria mudado de convicções íntimas era outra história)? Isso porque especialmente a partir de 1939 imagino que a influente comunidade inglesa em Moçambique e a facção pró-inglesa que dominava a economia da África do Sul não quereriam manter relações com alguém que fosse vocalmente apoiante dum poder inimigo e por isso Guiseppe BB arriscar-se-ia a perder muito económicamente se mantivesse a posição abertamente pró-Mussolini que tinha tido em 1933.
Isso em relação directa aos estrangeiros, em relação às autoridades portuguesas, se até 1939 o alinhamento de Guiseppe BB com o PNF podia ser visto por elas com simpatia dadas as afinidades ideológicas, a partir do início da 2a. GG certamente os ingleses terão pressionado Portugal a impor a neutralidade a todos os residentes em Moçambique. Ora se Guiseppe BB tivesse continuado a apoiar abertamente o PNF de Mussolini e a Itália no conflito armado, teria sido um caso bem visível de não cumprimento que não seria tolerado a Portugal e o que teria levado as suas autoridades a agir (ou a fingir que o faziam). No livro de MHB é destacado que os filhos de GBB tinham nacionalidade portuguesa e talvez este contexto o explique em parte.
A outro nível mas podia haver ligações com o que se analisou aqui, vi de relance alguns livros sobre espionagem em Moçambique durante a 2a. Grande Guerra e não me lembro de ver os BB mencionados em potenciais redes de apoio local à Itália ou ao seu aliado a Alemanha. De qualquer modo os Buccellato não se livraram de ficar em 1942 em listas de estrangeiros barrados pelos Estados Unidos como se pode ver aqui e aqui e não sei que consequências isso terá tido para eles.
Dito isto e como o artigo de MHB escrito para o fim dos anos 60 mostra, aparentemente a família de GBB passou incólume pessoal, social e económicamente por esse período de grande turbulência primeiro e de grave conflito mundial depois entre o início dos anos 30 e o fim dos 40. Pelos cenários difíceis acima descritos, seria interessante saber-se como o conseguiu, depois do que pode ter sido uma "partida em falso" no início dos anos 30. Tratarão os dois livros que citei no início do terceiro artigo deste tema?
Sobre a origem dos Buffa Buccellato uma informação de MHB que parece confirmar-se via internet é que eram de Castellamare dei Golfo, provincia de Trapani na Sicília. Dos sites de genealogia constata-se muitos dos seus habitantes emigraram e principalmente para os Estados Unidos.
Sobre os BB pós livro de MHB e pós independência de Moçambique em 1975, as informações que encontro na net são quase nenhumas o que contribui para esta sua "estória" ficar incompleta. Se eu ainda estranhasse alguma coisa, estranharia que nenhum descendente tivesse procurado pelo menos inserir informação sobre os membros da família das últimas décadas nos sites de genealogia, mas ...
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