Maputo, o crescimento da cidade (HPIP - Património de Influência Portuguesa)

Este é o primeiro plano da cidade feito em 1878 pelo Eng. Ferreira Maia da expedição das obras públicas chegada a Lourenço Marques no ano anterior. Na tese de Lisandra Mendonça está assim referenciado “PLANTA GERAL COMPREHENDENDO/ Planta da nova povoação/ Progecto de esgôto do pantano/ Progecto de melhoramentos na povoação antiga e porto”, 187863, Junta Inv. Ultramar [assinatura ilegível], CEDH-FAPF. 
Verde: Praça 7 de março, actual 25 de Junho
Círcunferêcia castanha: Hospital civil e militar e Igreja Paroquial
Mancha verde: pântano
Mancha azul: estuário
Aqui em cima está a reprodução do livro Xilunguine de Alexandre Lobato e que diz tratar-se da "planta da nova povoação". Vê-se que para fora da ilha do burgo inicial e onde estava a fortaleza e a praça principal,  tinha sido planeada uma nova zona de desenvolvimento em formato radial hexagonal. O seu centro actualmente corresponderia mais ou menos a onde agora é o cruzamento das avenidas Mondlane e Lenine, onde se dá a transição entre o plateau e a encosta da Maxaquene. O Hospital civil e militar e a Igreja Paroquial foram desenhados na ponta sul desse plano dado que foram as primeiras construções públicas a sair da "ilha" mas seria essencial que estivessem próximas dela.

HPIP : Excerto de Heritage of Portuguese Influence/ Património de Influência Portuguesa — Fundação Calouste Gulbenkian - Maputo, Moçambique
Enquadramento Histórico e Urbanismo
Em 19 de dezembro de 1876, a povoação de Lourenço Marques foi elevada à categoria de vila, com regime municipal. O seu espaço urbano correspondia então apenas à baixa atual, com uma estrutura modesta de duas ou três ruas paralelas à costa, nascendo da praça da fortaleza. De 1878 conhecem-se dois planos não realizados: a planta de F. Jeppe, com projeto de uma New Township isolada da cidade, sita no Alto Maé; e a planta da Nova Povoação no Maxaquene, a nordeste, com um núcleo geométrico, autónomo do pequeno povoado existente, e praça central em malha hexagonal, por Ferreira Maia (ver o plano de cima). 

As gravuras de Augusto de Castilho, de 1881, documentam bem a urbe. O núcleo da vila estava ligado pela Avenida D. Manuel aos pólos do hospital e da igreja, ambos fora de portas – que logo assinalaram os locais das futuras instalações, assistencial e a religiosa (no interior do círculo castanho no plano de cima).
Antes de 1870, Lourenço Marques era pouco mais do que um posto de comércio protegido por um pequeno forte (ver fortaleza no plano de cima).
Mas o tratado de 1869 com o Transvaal e o aumento do tráfego a partir do hinterland, resultante das descobertas de minérios, cedo transformaram Lourenço Marques num dos centros urbanos com maior crescimento em África.

Em 1887, o major engenheiro António José Araújo propôs um plano para dotar a cidade alta de avenidas extensas (o plano hexagonal de cima foi abandonado e o de Araújo adoptado).
Nele, ou no seu desenvolvimento, terá trabalhado o engenheiro Joaquim José Machado. O original do documento, de extremo interesse e valor documental, designado Plano de Ampliação da Cidade de Lourenço Marques, está assinado por António José de Araújo, Diretor das Obras Públicas de Lourenço Marques e refere o Serviço de Obras Públicas, Direção Geral do Ultramar, Ministério dos Negócios da Marinha e do Ultramar, com a data de dezembro de 1887, encontrando-se no Arquivo Histórico do Maputo. Este plano foi aprovado oficialmente em 1892. 
Surgiu assim um traçado regular, como expressão do sentido prático dos modelos da engenharia militar. (NB: mas o eng. Ferreira Maia era militar também e o seu chefe em 1878 era o mesmo Major Machado que trabalhou com Araújo, por isso acho que o aspecto militar não teve grande importância na escolga entre hexagono e quadrícula). Nele se delineava a cidade de forma completa – a mais “moderna” da África Portuguesa na época – com uma rigorosa quadrícula inicial, com dez vias no sentido sudoeste/nordeste (da Avenida Augusto de Castilho/Lenine à Avenida de Angola) e oito no sentido noroeste/sudeste, desde a Avenida da República/25 Setembro – interface com a existente Baixa – até à Avenida Pinheiro Chagas/ Eduardo Mondlane. A cidade teria cerca de 1.400 habitantes. O cemitério (na Eduardo Mondlane), a norte deste conjunto, estava naturalmente fora de portas, marcando o limite desta primeira fase da expansão.
Em 10 de novembro de 1887, Lourenço Marques foi elevada à categoria de cidade e a 1 de dezembro de 1898 passou a ser a capital da Colónia Portuguesa de Moçambique, condição que, até então, pertencera à Ilha de Moçambique. O plano de 1887 permitiu a expansão da urbe, dotada de uma nova escala e grandeza, em continuidade com a malha já existente do antigo presídio, para os amplos espaços a norte. 
Secou-se então o pântano com um dique à volta do núcleo antigo e demoliu-se a linha de defesa (em 1888). Esta intervenção lê-se na planta intitulada Cidade de Lourenço Marques e Projecto de Ampliação, à escala de 1/20.000, sobreposta ao mapa de Owen. Desta fase há vários testemunhos urbanísticos: pelo engenheiro António José de Araújo, o projeto da Avenida António Augusto de Aguiar, de 1887; e o Plano da nova cidade de Lourenço Marques, feito por M. Murdo, de 19 de outubro de 1888. Este último documento refere-se por certo ao americano Mac-Murdo, sendo possivelmente o plano para a área da Ponta Vermelha, só em 1896 inserida na urbe.
Em 1902, o núcleo urbano já possuía as infraestruturas fundamentais para o início de uma urbanização crescente, tais como água canalizada, telégrafo, um sistema de iluminação e um serviço de carros eléctricos. A cidade iniciava assim o seu crescimento de sul-sueste para nornoroeste, subindo a escarpa do planalto através de uma malha ortogonal de implantação, com as artérias longitudinais e transversais orientadas respectivamente a norte/sul e este/oeste, possibilitando a inserção tipológica dos quarteirões numa matriz regular. Ou seja, até 1895, a cidade cresceu, por um lado, para o Alto Mahé (a noroeste do núcleo inicial); por outro, para nascente (para os terrenos dos futuros bairros da Ponta Vermelha e da Polana, que estavam entregues a proprietários ingleses). Entre 1895 e 1914, graças às negociações com os donos daqueles terrenos, consolidou-se o crescimento a sudeste, para a Polana – além da expansão, a nordeste, para Maxaquene.
Em 1909 foi elaborado o projeto do porto da cidade, pelo inspetor de Obras Públicas Costa Serrão, que desenvolvia e se articulava com o plano de 1887. Em 1925, o tecido urbano da cidade estendia-se desde os setores da Ponta Vermelha/Polana/Maxaquene à área do centro e do plano de 1887, articulando-se com a circular envolvente. Um mapa de 1903, revisto em 1925 (Insurance Plan of Lourenço Marques. Delagoa Bay, Arquivo Histórico de Maputo), representa minuciosamente as propriedades e edifícios do centro. Uma planta geral de 1926 mostra o desenvolvimento urbano contínuo, passando já a Avenida Pinheiro Chagas (Eduardo Mondlane) para norte.
O crescimento em habitantes e construções acompanhou este surto urbanístico: em 1887 haveria umas cem casas; em 1898 teria 2.400 habitantes; em 1912 incluía 2.134 casas. Em 1910, 14.000 habitantes, e em 1930, 20.600 (cerca de 8.000 brancos e 8.000 negros). Neste quadro, e até 1930, a população concentrava-se na área central, até à Avenida 5 de Outubro, e a caminho do Alto Maé e na faixa litoral da Polana/Ponta Vermelha.

No início da década de 1940 a Câmara Municipal convidou o arquiteto e urbanista Luís Cristino da Silva, radicado em Lisboa, para desenvolver o plano de urbanização. Ao longo desta década definiu-se um novo eixo cívico, no sentido sul-norte, entre a primeva Praça 7 de Março (central, situada na Baixa), a nova Praça Municipal (edifício municipal, 1947, e estátua equestre a Mousinho de Albuquerque) e a catedral (de 1944), com intenções de monumentalidade. .......

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