Construção da marginal de Maputo - de 1910 aos tempos recentes (1/2)

A história visual e temporal da Avenida Marginal de Maputo, antiga Lourenço Marques, usando fotos de diversas origens. 

FOTO 1
Paredão após trabalhos recentes de reabilitação mas
ainda sem passeio e sem muro quando fotografado
Damos um salto para o passado com uma foto de A. Cunha de 1910/11 tirada durante a construção do Caracol da Polana. À esquerda inseri uma imagem dum postal enviado em 1903.
FOTO 2 
Vista da barreira da Polana para sul vendo-se a Ponta Vermelha 
fazendo na práctica a separação entre a baía e o estuário.
Olhando-se do alto da Polana para a Catembe havia o promontório escarpado da Ponta Vermelha e junto à água uma zona com pedras que provávelmente tinham rolado da barreira. O acesso pelo menos nesta zona entre a Baixa e a Polana estava dificultado pelo mar, pelo promontório e pelo risco de desabamentos.
Segue-se uma foto histórica dos arquivos do Prof. Arq. Luis Lage:


FOTO 3 - a construção da estrada marginal
Secção transversal mostrando os trabalhos de construção da estrada marginal 
na zona do promontório da Ponta Vermelha
Esta secção transversal mostra que nesta zona foi preciso: 
i. Escavar, terraplanar e alisar o terreno do lado da barreira; 
ii. Aportar e consolidar pedra para se ganhar espaço na antiga praia; 
iii. Fazer o paredão do lado do mar para suportar o novo aterro e para protegê-lo das águas. 
Um dado recente indica que estes trabalhos não terão sido directamente para a estrada marginal mas sim para a instalação duma linha de combóio cerca de 1911/1912 e que começou a circular entre a Baixa e a Polana.
A foto seguinte mostra de longe esses trabalhos ou seguintes já concluídos cerca de 1929. A perspectiva é a mesma da FOTO 2 mas com o promontório e a zona circundante desimpedidos. 

FOTO 4 - zoom de foto Rufino
A marginal já consta do mapa de 1926 por isso foi construída entre 1910 e 1926.  


Na FOTO 4 em primeiro plano vê-se uma faixa de terreno mais larga logo a seguir ao Clube Naval mas ao fundo a passagem torna-se mais apertada correspondendo à zona marcada a vermelho na FOTO 2. Nota-se que há duas faixas: uma à esquerda junto à costa que é para a estrada, outra para o interior junto à barreira que é para o carro eléctrico.
A foto seguinte mostra essa passagem da marginal por baixo da Ponta Vermelha vista de perto:
                         FOTO 5 - Rufino 1929
Foto sobre a marginal com vista em direcção ao mar largo. 
Neste ponto o corredor aberto para a marginal era bastante amplo cabendo nele com muita folga uma faixa para a linha de carro eléctrico que vinha da baixa que está à esquerda e a estrada marginal à direita que tem faixa dupla para carros. O paredão marítimo está no limite à direita fazendo a curva e nesta altura ainda não havia passeio pedestre.
A FOTO 6 seguinte mostra a avenida Marginal da Ponta Vermelha a passar na parte de baixo da barreira da Maxaquene já do lado do estuário.

FOTO 6 - Rufino 1929 
Av. Marginal da Ponta Vermelha entre o promontório escarpado e a Baixa da cidade.


Após o corredor mais estreito junto ao mar por baixo da Ponta Vermelha visto na FOTO 5 eis a ligação da Polana à Baixa, seguindo mesmo ao lado da Barreira. Esta estrada já existia em 1903, por isso muito antes de se fazer o aterro da Maxaquene (ver aí a Foto 3 à direita) e se fazer a marginal no promontório, e servia algumas instalações na zona que depois foi do Clube de Pesca (ver na FOTO 7 os armazéns que seriam do porto). 
Pode-se comprovar na FOTO 7 que a estrada em cima seguia junto à barreira e que depois duma recta arborizada (a que se vê na FOTO 6) flectia para a esquerda para quem seguia para a Baixa. 
A FOTO 7 mostra a parte baixa da Maxaquene antes de se fazer o aterro.
FOTO 7 - Vista da Baixa para o largo
Ponta Vermelha ao fundo provávelmente ainda sem ligação costeira para a Polana.
Vermelho - ponto provável onde foi tirada a FOTO 6
Amarelo - o eixo da estrada da FOTO 6
Foto 8 - Anos 60
Avenida marginal completa com muro, passeios, bancos e árvores
(vista olhando para a Inhaca). 

O corredor mais estreito entre a barreira e o mar fica ainda para a frente deste ponto. Entre a situação da FOTO 5 e a desta FOTO 7 devem-se ter feito novos trabalhos para pôr toda a marginal ao mesmo nível.

Foto de Google Earth. Ponta Vermelha.
Rectângulos azuis: São bem visíveis o corredor de passagem mais estreito para a estrada marginal  abaixo da barreira na face mais ao Sul (rectângulo azul claro)
e como se vai alargando quando se toma a direcção do Norte (rectângulo azul escuro).
Amarelo: A estrada antiga visível nas FOTOS 6 e 7 
Verde claro: A antiga Avenida da República por onde houve a linha de eléctrico
Vermelho: Local aproximado marcado na FOTO 7

Comentários

Unknown disse…
Avenida marginal, porque deram esse nome da marginal.
Rogério Gens disse…
Já não me lembro se esse nome era dito normalmente ou se fui eu que o dei agora. Estive a ver e por exemplo na planta da cidade de 1925 e o nome oficial era "avenida da praia da Polana" e na de 1940/50 era "avenida D. Manuel I".
Mas em português marginal vem de margem, o que dizer algo que está entre uma coisa e outra, neste caso entre a terra e a água. Por isso é normal chamar-se "marginal" às estradas ao lado do mar ou de rios. Mas "marginal" é termo também usado como sinónimo para "bandido", aí a ideia é de que essa pessoa está na margem da sociedade.