Jornal Notícias fundado em 1926 - Edifício sede dos anos 50, Moçambique

O Jornal Notícias que ainda se publica foi o primeiro jornal diário de Moçambique. Foi fundado em 1926 pelo Capitão Manuel Simões Vaz, um militar português de cavalaria que depois fez carreira no Estado, jornalismo e na administração de negócios (ver foto ao fundo). Ver aí também detalhes obtidos do Livro de Ouro de Maria Helena Bramão. Sobre a posição política do jornal e seus proprietários efectivos ver o outro texto universitário no outro extremo do espectro político.
Sede do Jornal Notícias - Redacção e tipografia (acho eu)

O edifício fica na esquina da Rua Joaquim Lapa/Slovo com a Travessa ex B. Carvalho/do Baluarte:
Vista mais completa para a Rua Joaquim Lapa com o poente ao fundo
Fotos originais do HoM de 2011/12 - clique para aumentar


Duas perspectivas semelhantes mas mais actuais carregadas da net.
Autor: César Bila


Foto talvez dos anos 60.
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Na foto de cima e comparando com as mais recentes vê-se que havia uma janela em redondo na "esquina" que foi tapada. Pelo menos parte dela servia para serem afixadas as folhas da última edição do jornal.
Agora uma vista aérea da Baixa posterior a 1955 (JCE ampliado, fortaleza reconstituída)
Amarelo: A parte da esquina do Notícias estava em construção.
Fica por trás do prédio Nauticus, agora Emose

E a foto mais antiga das que aqui se mostram:
Edifício original talvez nos anos 50, 
o Prédio Nauticus não existia (no terreno em primeiro plano).

Pode-se ver na foto de cima que na fachada da Rua Lapa o Notícias tinha só 2 pisos e que na esquina (entrada) tinha só um piso. Os trabalhos de extensão para a configuração actual vêm-se a decorrer na foto acima posterior a 1955.
Quanto ao passado, Santos Rufino em 1929 publicou uma foto em que aparece um cartaz (fictício) de Notícias junto ao mercado mas não sei o significado. Certo é o historiador Alexandre Lobato dizer no Livro Xilunguíne que o Notícias teve a redacção e oficinas longos anos no Capitania Buildings.
Foto à venda no site COISAs

Os jornais de Lourenço Marques em 1929:
Álbuns de Santos Rufino

A IMPRENSA E O IMPÉRIO NA ÁFRICA PORTUGUESA, 1842-1974, Isadora de Ataíde Fonseca
"Nas vésperas do golpe militar, em Abril de 1926, surgiu em Lourenço Marques o diário Notícias.74 Na altura da sua fundação, teve como sócios advogados, militares e industriais, contudo acabou por pertencer exclusivamente ao maçon e militar Manuel Simões Vaz. A edição especial vespertina do dia 28 de Maio, a narrar o golpe, promoveu o jornal. Quando a Lei João Belo estendeu-se às colónias, os directores dos jornais publicados em Lourenço Marques lançaram um número conjunto de protesto, da qual não participou o Notícias. A crítica à nova legislação resultou na apreensão dos exemplares e na expulsão de dois jornalistas que respondiam pela publicação, «Este foi o último grito de liberdade permitido», realça I. Rocha (2000, 144). O Notícias não criticava o Estado Novo e a política colonial, pelo contrário, publicava todos os acontecimentos políticos da metrópole e da colónia, inclusive com a reprodução dos discursos das figuras públicas. 
As notícias sobre o governo de Moçambique ganhavam destaque na primeira página e o favoreciam.
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O processo de estatização do Notícias concluiu-se em 1967, quando o BNU tornou-se seu accionista principal. Observe-se que foi o Banco o agente da estatização da imprensa em Moçambique, quer através da compra directa de acções ou dos empréstimos que cedia aos aliados do regime. Assim, aprofundava-se o alinhamento da imprensa ao regime. Inclusive, o Notícias publicou entre 1969-74 o suplemento Coluna em Marcha, dedicado às forças armadas portuguesas.
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A dificuldade em domar a imprensa levou à associação entre governo e empresários para o controlo do jornalismo. Já na década de 1930, o governo infiltrou jornalistas no Brado Africano, como se viu, e na década de 1950 a União Nacional assumiu a publicação do periódico. Na década de 1960, o empresário Jorge Jardim recebeu recursos do BNU e assumiu o controlo de diversos jornais e modificou a sua linha editorial, a exemplo do Diário de Moçambique e de Voz Africana. O maior diário do país, o Notícias, também foi estatizado, levando o Estado à posição de principal proprietário da imprensa em Moçambique."
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Maria Helena Bramão
O Livro de Ouro dos anos 60, com pequenas simplificações
"CAPITÃO MANUEL SIMÕES VAZ: FUNDADOR DO "NOTÍCIAS", O PRIMEIRO JORNAL DIÁRIO DE MOÇAMBIQUE
O Capitão Manuel Simões Vaz foi colocado em Moçambique em 1913, no Quartel General, como defensor oficioso dos Conselhos de Guerra. Em fins de 1914 foi nomeado ajudante de Campo do Governador-Geral, General Joaquim José Machado, e também taquígrafo do Conselho do Governo, lugares que desempenhou cumulativamente, até ser concedida, depois de 14 de Maio de 1915, a demissão ao Governador--Geral que acompanhou no seu regresso a Lisboa. No mesmo ano voltou a Moçambique como subchefe do Estado-Maior da expedição comandada pelo coronel de Artilharia Moura Mendes. Foi encarregado da missão de proceder ao reconhecimento do vale do rio Rovuma, no que respeitava a recursos alimentares da região e vaus possíveis para passagem de tropas. Fez esse
reconhecimento, apenas acompanhado de carregadores e seus cipaios, e gastou nele, numa extensão de cerca de 500 quilómetros, cerca de um ano, tendo elaborado um levantamento expedito do percurso feito até uma localidade de nome Chivinde no ponto em que o rio saía do nosso território. Regressando mais tarde à Base, em Palma, depois da queda de Nevala, foi, apesar de ser capitão de Cavalaria e subchefe do Estado-Maior, nomeado para comandar um batalhão de Infantaria constituído por uma companhia europeia e uma indígena, com instruções para ir ao encontro duma formação alemã que se encontrava já em território português, perto de uma povoação chamada Nhica, na margem direita do Rovuma. Com a aproximação desta coluna as forças alemãs retiraram para a margem esquerda sem terem dado combate.
Terminada a guerra ficou em Lourenço Marques e depois duma missão a Singapura de que foi encarregado pelo Governador Massano de Amorim, voltou a Moçambique em fins de 1919, tendo então entrado em licença registada e pouco depois em licença ilimitada.
Em Janeiro de 1920 abraçou definitivamente o jornalismo, entrando como director da secção portuguesa do bisemanário «Lourenço Marques Guardian», hoje «Diário». O primeiro artigo que escreveu para esse periódico, como jornalista profissional, e publicação num dos primeiros dias desse ano, foi subordinado ao título «Colonização - ligeiras observações» e este mesmo tema serviu de assunto para dezenas de artigos escritos nos anos que se seguiram.
Em 15 de Abril de 1926, no desejo de satisfazer uma necessidade que surgia na população, a de um jornal diário noticioso, iniciou a publicação do «Notícias», publicado regularmente até hoje.
Para a manutenção desse diário, iniciado com pequeníssimo capital e limitados recursos, teve de deitar mão de trabalho a ele estranho para obter recursos para a sua manutenção e assim foi professor de inglês e desenho no Liceu 5 de Outubro, intérprete oficial do Tribunal, dando simultaneamente lições de português a estrangeiros residentes em Lourenço Marques. Além disso foi contratado como redactor de actas do Conselho do Governo, ocupações que foi deixando à medida que o «Notícias» ia obtendo popularidade e firmando-se financeiramente.
Durante os 42 anos de jornalismo profissional, não só pugnou enérgica e persistentemente pela colonização portuguesa da Província, como em artigos sucessivos pedia o desaparecimento dos Prazos da Zambézia, a passagem para a administração directa do Estado dos territórios na posse das Companhias Magestáticas do Niassa e de Moçambique e a nacionalização dos serviços de estiva do porto de Lourenço Marques, o que finalmente se conseguiu em benefício do interesse nacional.
Debateu em centos de artigos os problemas administrativos, económicos e de instrução, assunto duma campanha que se prolongou durante anos.
Nas colunas do «Notícias» das edições publicadas nos 37 anos da sua existência encontram-se assinados e não assinados, muitos centos de artigos tratando da necessidade de se promover o desenvolvimento agrícola e pecuário, defendendo os interesses legítimos da população e das suas actividades, pugnando pelo progresso e desenvolvimento de Moçambique, enfim dando sempre toda a cooperação, sem auxílo ou subsídio de qualquer natureza, aos Governos de Moçambique.
Em 1938 foi eleito vogal do Conselho do Governo pelo distrito de Gaza, e no mesmo ano escolhido, nesse Conselho, para seu delegado junto do Conselho de Administração dos Portos, Caminhos de Ferro e Transportes, lugar que desempenhou durante alguns anos!
Desde essa data nunca mais deixou de fazer parte do Conselho do Governo, eleito por Gaza, ou do Conselho Legislativo, eleito pelos maiores contribuintes.
Durante alguns anos teve a honra, nunca anterior ou posteriormente tida por qualquer outra pessoa, de ser simultaneamente vogal do Conselho do Governo, do Conselho de Administração dos C.F.M., presidente da Câmara do Comércio e director do principal jornal diário de Moçambique, tendo durante esse período defendido e pugnado pelos interesses da Província,seu desenvolvimento e prosperidade."

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