Centro cívico no aterro da Maxaquene em Lourenço Marques (projecto não realizado)

Baseado em informação dos arquitectos André Ferreira e Ana Vaz Milheiros eis um resumo duma história bastante complicada.
O poder colonial/provincial no final dos anos 40 do século XX (20) planeou concentrar o Governo e as repartições públicas numa área única da então cidade de Lourenço Marques, que seria o aterro da Maxaquene por estar livre e ser muito bem localizado. Esse Centro Cívico seria o grande projecto público da altura. Os edificios do núcleo principal ficariam virados para uma grande praça frente ao estuário com fachadas em estilo Português Suave em versão monumental. Os edificios do resto dos quarteirões até à barreira seria no estilo racionalista.
O trabalho para um novo plano de urbanização de Lourenço Marques começou em Lisboa no Gabinete de Urbanização Colonial/do Ultramar e o Arq. João Aguiar desde 1947 foi efectuando visitas a Moçambique. Esse plano foi elaborado de 1952 a 1955 e suponho eu que o Centro Civico que detalhamos nesta mensagem era uma parte específica que terá sido desenvolvida em paralelo ao plano  tambèm no inicio dos anos 50. O Centro Civico foi tendo várias variantes mas provávelmente por alteração das prioridades não se concretizou com excepção dum dos edifício na periferia da zona de intervenção (a Fazenda). E do plano de urbanização para a cidade finalmente também pouco foi adoptado como veremos em baixo.


A. Variante de 1951
“arquitectura de representação”
Ante-projecto de 1951 para o Governo-Geral de Moçambique 
ao centro da Praça do Império e fazendo parte do novo Centro Cívico

B. Variante de 1952
Visão Geral
Plano para o Centro Civico em 1952 a três dimensões

Visão Geral de cima extendida na vertical e com marcas
Vermelho: O edifício central bastante diferente do ante projecto de 1951
Amarelo: A praça com formato semelhante ao ante-projecto em cima
Castanho: O Palácio das Repartições depois Finanças agora penso Conselho de Ministros com forma de L que foi a única construção efectiva deste plano
Também para referência, no limite inferior da barreira da Maxaquene

Verde e Preto: Campos de futebol do ex Sporting e do Desportivo

 Planta
Visão a duas dimensões da visão geral de cima 
  
Detalhe da planta de cima em torno da praça


C. Variante de 1955
Variante mais pormenorizada
Plano de 1955 do Centro Civico - Praça do Império
Comparando a C. Variante de 1955 com o Detalhe da planta de cima em torno da praça imediatamente anterior, nota-se que em vez do pórtico monumental ao centro haveria uma passagem aberta entre as duas alas de edifícios que ligaria a praça ao jardim localizado mais para o interior (norte). Na Variante de 1955 a praça central com o monumento ao centro também era maior pelo que os jardins laterais frente ao estuário eram reduzidos. O edifício das Finanças (castanho) nesta última variante de 1955 já estava com a forma actual em L o que é natural pois ele foi projectado nessa altura. Os outros edificios virados para a praça e para as avenidas envolventes pareciam mais ou menos na mesma.  
De mais perto a visão para esta arquitectura pública era com arcadas e colunadas, como se pode ver desde a Variante de 1951Isso é mais evidente no desenho do único edifício que foi construído.
Palácio da Repartições projectado entre 1952 e 1955
depois Fazenda/Finanças agora Conselho de Ministros
Projecto de cima executado (o único deste plano)
numa posição periférica à praça planeada correspondendo à seta castanha na
Visão Geral extendida na vertical e com marcas 
Em 1958 surgiu novo plano de pormenor para a construção do edifício do Governo Geral de Moçambique que como previsto na variante A ficaria ao centro da praça virado para o estuário e à volta do qual se articularia o resto do conjunto. O desenho era este em baixo com o núcleo central caracterizado por um gigantesco pórtico com cerca de 22 metros de altura. Mas se reparamos bem este desenho era semelhante (senão o mesmo) ao da variante de 1951 por isso as alterações podiam ser noutras facetas do projecto.


Plano de pormenor de 1958
Alçado fronteiro à praça que se chamaria afinal 
Infante D. Henrique em vez do Império
(imagem de baixa qualidade) 
Mas este plano de 1958 também foi abandonado. Finalmente nesses terrenos situados do prédio da fazenda para leste = nascente construiram-se a Casa do Minho, o Restaurante Zambi (que é de 1956 e ficava penso que ainda na área de intervenção principal, sinal de que estes planos parecem nunca terem sido levados muito a sério) e a Facim (pavilhões de exposições). 
Depois da independência dum terreno próximo do Zambi foi demolida a Casa do Minho e há por aí novas construções face à avenida marginal. Usando o espaço do antigo lago e jardim foi construido o edificio do Ministério dos Negócios Estrangeiros de arquitectura "made in P. R. China"
Numa mensagem ulterior vamos explicar como se chegou de uma zona parcialmente lodosa na margem do estuário cerca de 1900 até esta área agora nobre da cidade fazendo o que se chamou o aterro da Maxaquene.

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