O blog lusotropicalizando.blogspot.com oferece interessantes perspectivas sobre a cidade de Maputo, antiga Lourenço Marques. Com a devida vénia continuo a reutilizar algum do seu bom material e nalguns casos, como neste, a tentar complementar um pouco.
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(ex Av. Afonso de Albuquerque)
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Este prédio é um tropical moderno com ombreiras salientes numas janelas e lâminas verticais noutras para protecção de luz e calor.
O que o torna "especial" é o terceiro piso que parece ter uma cobertura em V ou seja duas cunhas opostas no centro. Porque é que parece tão mal aproveitado? À primeira vista supuz que fosse dedicado aos aposentos dos empregados domésticos, as chamadas dependências, que em vivendas antigas eram nas traseiras mas em prédios de apartamentos podiam ser no último piso.
Mas esta cobertura fez-me lembrar que o Arq. Renga Ferreira (RF) apresentou um projecto do arquitecto das Obras Públicas Luís Filipe Vasconcelos (LFV) de 1958 para um bloco de habitação para funcionários do Governo Geral. Esse projecto tinha uma cobertura do mesmo tipo da da FOTO e a que RF chama "cobertura em borboleta". Explica ainda RF que a cobertura no projecto seria revestida a Lusalite, material que na FOTO não dá para verificar se também era ou não, mas possívelmente sim pois não se vêm telhas.
Eram estes os desenhos do projecto de LFV das Obras Públicas:
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| Projecto de LFV Alçado das seis moradias para funcionários Frente e trás ----------------------- lado 1 e lado 2 |
Segundo RF havia no bloco projectado por LFV seis apartamentos organizados como uma grande moradia unifamiliar. O projecto tinha elementos do movimento moderno tropical como grelhagens tal como o da FOTO, e painéis
decorativos com desenho geométrico abstracto que o da FOTO não tinha.
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| Projecto de LFV Corte A-B (dá para ver o interior do prédio) |
Mas em relação ao espaço acima da placa do segundo piso pode-se ver que no projecto de LFV não havia aí dependências para os empregados, que estavam numa pequena construção anexa no pátio de serviço.
Então o objectivo da cobertura estar tão levantada devia ser circulação do calor que é dito pelo Arq. Renga Ferreira foi uma grande preocupação de LFV (com a ventilação contínua, através de entradas de ar cruzadas na cobertura e
nos vários espaços interiores, e com a protecção solar, protegendo os
principais espaços da “ensolarada” orientação norte). E se olharmos para a FOTO 1 vemos uma grelhas certamente com esse objectivo também - embora não se consiga ver as grelhas opostas ou "chaminés" para assegurar a circulação de ar sob a cobertura, é de supor que existissem.
Conclusão: As "coberturas em borboleta" devem ter estado na moda no final dos anos 50 - início dos 60 em Lourenço Marques como forma de protecção do calor. Assim pus de lado a primeira impressão de que o terceiro piso no prédio da FOTO seria para dependências.
NB: Não é dito por RF se o projecto de LFV foi executado ou não mas se foi ainda deve existir possívelmente na zona da Polana.
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