Largo José Albasini no Alto Maé, antiga LM, mais recente e no passado

FOTO 1
Largo José Albasini, actual Praça 21 de Outubro no Alto Maé,
em Lourenço Marques, actual Maputo

Começamos em cima com uma conhecida foto, que veremos com mais pormenor para o fundo deste artigo, que será da segunda metade dos anos 60. Não conheço outra foto deste local dessa altura, tanto produzida por profissionais como por amadores, o que é um tanto estranho tratando-se dum dos locais mais movimentados e conhecidos da cidade mas...
Passamos entâo em baixo a fotos mais ou menos actuais, dos últimos doze anos, algumas reproduzidas com a devida vénia do grupo FB Alto-Maé.

FOTO 2
Largo no Alto Maé recentemente visto do lado da Av. de Angola

A FOTO 2 mostra o largo dum ponto um pouco mais recuado do que a FOTO 1 pelo que aqui se vê à direita a fachada lateral do último prédio dum correr de vários que eram iguais ou semelhantes. De resto, pelo menos no que respeita à envolvente ao largo, não houve alterações de monta exceptuando a degradação das fachadas.
A seguir vê-se quase de frente esses prédios que limitam o largo a oeste: 

  FOTO 3 (HoM)
Correr de vários prédios iguais ou semelhantes limitando o largo a oeste = poente

À direita está a parte do largo que rodando-se no sentido dos ponteiros do relógio (volante à direita) dará acesso primeiro à estrada do Zixaxa/Rua dos Irmãos Roby e depois à Av. de Angola.
Segue-se nova foto mostrando os mesmo prédios que nas fotos anteriores mas apontando um pouco mais para o centro do largo:

FOTO 4
Mais uma vista do largo similar à da FOTO 1 mas de uns 40 anos depois

Mostra-se agora os prédios das fotos de cima doutra direcção e o que lhes ficava ao lado na ligação à antiga Rua João Albasini:

FOTO 5
Primeiro o Edifício Lisboa frente ao limite a SW do largo e depois
 os 
prédios das FOTOS 1 a 4 ficando o centro do largo para a direita

Em 2012 resistiam ainda nos referidos prédios os resquícios não do colonialismo mas de dois reclames a néon (note-se que na FOTO 1 se via uma reclame da BOSCH também no terraço como o da FACOBOL):

MONTAGEM
A Fornecedora, casa de vestuário no local
 e FACOBOL, fábrica na Av. de Angola

Segue-se uma foto mudando-se de ângulo, rodando-se uns 160 graus à direita em relação à FOTO 5 e apontando para leste = poente:

FOTO 6
à esquerda: antiga Cervejaria Solar Familiar junto à esquina do largo
com a actual Av. Maguiguana, antiga Latino Coelho
à direita: prédio da antiga Pensão Portuense

Voltamos agora à FOTO 1 para destacar nela alguns pontos de interesse, uns já referidos outros não:

FOTO 1 com marcas
Seta castanha clara à esquerda: os prédios da FOTO 6 a nascente=leste do largo
Seta verde: prédios altos na Av 24 de Julho ainda em construção, vê-los agora na FOTO 2
Seta vermelha: prédio do BNU antigo e depois da Saratoga

Amarelo: publicidades luminosas que surgiram no fim dos anos 60 (Banco BCCI)
Azul claro: antigo Príncipe de Gales, loja de vestuário, 
agora ZEINA(L) TEXTEIS que aparece nas FOTOS 3 e 4
Verde claro: motorizada Florett? chegando da Av. de Angola

Tentemos agora entender como e porquê surgiu este largo, a partir de imagens antigas (foto e mapas) e do contexto geral da urbe na zona, dado que não me lembro de ter visto isto analisado mais específicamente. 
O largo mantém-se aproximadamente nos limites que tinha no mapa de 1960 que se mostra na MONTAGEM em baixo e com que aproximadamente já aparecia no mapa (plano) detalhado da cidade de 1940. Todavia neste o largo parecia ter menores dimensões do que veio a ter pois por exemplo não chegava directamente à Rua dos Irmãos Roby, como passou a chegar depois (aqui no google maps) - ver também marca "verde e vermelha" no mapa de 1940 mostrando que o limite do largo nessa altura parece ficar para baixo do que veio a ser. Apesar disso é no mapa de  1940 que surge nesse local um largo pela primeira vez, nos mapas (planos) anteriores o largo ainda não estava planeado, por ai parecia haver uma simples confluência de vias. 
De facto o largo acabou por surgir no que era a Estrada da Circunvalação - que definia o limite da cidade de cimento - e no local onde chegavam e partiam tanto vias modernas da cidade do cimento como outras mais antigas e anárquicas de acesso aos subúrbios a NW caso da que veio a ser a Rua dos Irmãos Roby do/para o Xipamanine (a Avenida de Angola do largo para o Aeroporto parece ser mais moderna). Como aí aconteceu o interface entre a quadrícula / retícula da cidade traçada na direcção dos pontos cardeais, a Estrada da Circunvalação que fazia com a quadrícula uns 45 graus e pelo menos uma via tradicional desenquadrada das anteriores, não se podiam formar cruzamentos rectos e espaçados. Daí deve ter sido considerado mais seguro para o trânsito automóvel - que ia crescendo - formar-se um largo cobrindo a zona, com a sua placa central e a suas regras próprias de circulação.
A topologia do local e as suas construções actuais reflectem ainda esses antecedentes: 
a. o Edifício Lisboa segue a direcção da antiga circunvalação; 
b. os prédios à direita das primeiras fotos desviam-se dessa direcção curvando na direcção de NW para prepararem a ligação à Estrada do Zixaxa; 
c. o prédio da FOTO 6 e que se vê melhor para esse pormenor na FOTO 1 (na "seta castanha clara" à esquerda) pertence à malha urbana em quadrícula / retícula e por isso devia ter a sua esquina virada a NW formada em ângulo recto. Mas não a tem dado que ela foi cortada para ficar mais ou menos na direcção da Estrada da Circunvalação e para se harmonizar melhor com o resto do largo e com a direcção da Av. Caldas Xavier, a herdeira dessa estrada. 
Esta é então uma montagem dos MAPAS de 1960 e de 1940 e da foto aérea da zona em 1933:

MONTAGEM com a zona do Alto-Maé e Largo Albasini
(clique para aumentar)
Amarelo: antiga Estrada da Circunvalação, que depois de se ter formado o largo
 ficou separada em Rua João Albasini e Av. Caldas Xavier, actual Ngouabi
Laranja: posição aprox. do prédio "silo" branco à direita na FOTO 2
Roxo: posição aprox. dos prédios em fiada das FOTOS 3 a 5 
Preto: posição aprox. do Edifício Lisboa, o que está à esquerda da FOTO 4
Castanho claro: prédios da FOTO 6
Bola azul: prédio de gaveto que não se vê nestas fotos, frente ao limite a NW do largo
Preto: av. Latino Coelho, actual Maguiguana
Púrpura: Av. Diogo Cão, actual Luali
Verde normal: Estrada do Zixaxa / Rua dos Irmãos Roby
Verde escuro: Av. de Angola, não parecia traçada na foto, tanto podia ter sido caminho tradicional 
ou sido traçada a "régua e esquadro"
Verde claro: av. Pinheiro Chagas, actual Mondlane
Verde e vermelho: em 1940 o largo era mais pequeno do que veio a ser 
desse lado norte, está aí marcado onde me parece que veio a ser

Note-se que refiro na legenda o prédio de gaveto "azul" o qual não se vê nas fotos deste artigo mas que  estaria para o fundo dos prédios em fiada da FOTO 5 e também para a direita das FOTOS 1, 2, 3 e 4 se os seus ângulos de abertura tivessem sido maiores.
Juntei na MONTAGEM a foto de 1933 que parece indicar que por esse ano ainda não se estava na situação com o largo bem definido que veio a ser mostrada no mapa de 1940. E quanto às dimensões do espaço onde se criou depois o largo, parece-me inferior à que veio a ter. Por exemplo a posição onde, para o seu lado de cima, em 1933 estava um grupo de árvores só depois de 1940 terá passado a fazer parte do largo pois como dissemos o largo nesse ano, mesmo estando já definido, era mais pequeno do que veio a ser em 1960 e é agora.

Lembro-me ainda que na parte do largo para a esquerda de onde segue o machimbombo na FOTO 1, entre as Avs de Angola e Caldas Xavier e na posição que marquei a "verde e amarelo" no mapa de 1960 existiu um grande armazém penso que de comércio geral. Devia ser uma construção de madeira e zinco, tinha o piso elevado em relação ao do largo e penso que tinha escrito no exterior o nome da firma que talvez fosse qualquer coisa Mercantil. Essa construção foi desmantelada para o final dos anos 60 ou início do 70 e o seu terreno depois ficou devoluto até 1975. Como se vê no google maps a área parece estar agora ocupada por construções diversas e nota-se ainda que surgiu uma rua entre as Avs de Angola e a antiga Caldas Xavier, actual Ngouabi em direcção ao interior da Mafalala de que não me lembro ou pelo menos de que ela fosse tão bem definida.

Sobre o largo cerca de 1940, Eugénio Lisboa nas suas memórias ""Acta Est Fabula" - Lourenço Marques (1930 a 1947)" (mais aqui) diz que a sua família vivia numa casa antiga situada num terreno que lhe ficava encostado, presumo que por onde estão as marcas "roxa" e "laranja" dos mapas pois era do lado do padaria Serrano. Esse terreno ficava abaixo do nivel do largo e os irmãos Lisboa costumavam ficar junto à linha de declive a observar o seu movimento. Certa vez um motociclista vindo presumo da Av. Caldas Xavier a alta velocidade, despistou-se, quase atingia os irmãos mas eles agacharam-se no declive e estatelou-se contra uma árvore presumo que no terreno da casa deles. É difícil imaginar-mos como teria sido o local mesmo só em termos do terreno por esse tempos pioneiros.

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