Sempre associei a palavra presídio em Lourenço Marques (LM), actual Maputo a prisão e às histórias de Angola e a Austrália terem sido colónias penais europeias. Mas afinal presidio é da família de presidir ou mandar não de prisão, por isso um presídio era um forte construido numa zona onde uma autoridade quer exercer influência.
Não é muito claro no texto de Alexandre Lobato (AL) no livro Xilunguíne que sigo e resumo aqui depois das fotos onde era o presídio de Lourenço Marques (LM) pois se por um lado diz que era entre as ruas da Gávea e Consiglieri Pedroso, por outro lado diz numa foto da Travessa da Catembe que estava ali o último muro do presidio e nao se sabe para que lado estava o resto dessa construção. De qualquer maneira pelas legendas das fotos 162 e 163 do livro fico com ideia que o núcleo do presidio ocupava os quarteirões centrais da "ilha" como era natural que tivesse sido e que por isso a cidade começou no rectângulo entre a Rua da Gávea a norte, a Rua Araújo (Bagamoyo) a sul, a Rua da Mesquita a poente (oeste) e a Travessa da Catembe a nascente (leste).
Mas como se disse em cima o presídio originalmente teria sido um forte e no caso de LM a sua fortaleza esteve pelo menos a partir do século XIX junto à antiga Praça 7 de Março, por isso afastada da zona que me parece AL identifica como a do presídio. A explicação pode ser que a certa altura se resolveu colocar a fortaleza separada do núcleo administrativo, comercial e habitacional da "ilha" para melhor desempenhar as suas funcões militares. Assim em caso de ataque os habitantes deviam refugiar-se na fortaleza e para assegurar a sua eficácia em caso de ataque vindo do lado de terra esta tinha uma larga zona "non aedificandi" para poder disparar sem obstáculos, o que não aconteceria se estivesse no núcleo da "ilha".
Mostram-se aqui fotos de 1968 mas que quase podiam ser actuais pois com excepção de algum pequenos prédios que ficaram em ruínas, as alterações até ao presente foram pequenas. Oficialmente muito do aqui construido estará protegido por lei do património histórico mas ...
FOTO 1
AL: Eram estreitos os quarteirões e tornou-se compacto o casario no presídio confinado
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| Rua Consiglieri Pedroso cortando no canto inferior esquerdo Travessa da Catembe na esquina da Casa (Sport) branca com o Krueger de pelo menos 1895 na ex Rua Araújo ao fundo (sul), depois deste quarteirão Travessa A. Furtado na esquina mais para a direita com a sombra (Tobler na esquina) com o Paulino Santos Gil talvez dos anos 20 entre essas duas travessas do lado sul. |
FOTO 2
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| Lado sul da Travessa da Catembe ao cruzar com a ex Rua Araújo lado norte Alfaiataria Chique na esquina frente ao Krueger Ao centro-esquerda via-se a antiga Oficina da Casa Sport (ver FOTO 5 dessa mensagem) e depois a traseira do Lar Moderno dos anos 60. |
FOTO 3
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| AL: A histórica Travessa da Catembe com o seu muro antigo, o último do presídio. Penso ser entre a actual Mártires de Inhaminga e a Bagamoyo por isso no quarteirão para sul do mostrado nas fotos anteriores Hotel Tamariz ao fundo |
FOTO 4
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| Para o lado poente = oeste das FOTOs 1 e 2 Quarteirão da Rua Consiglieri Pedroso na horizontal |
Na FOTO 4 dá ideia que houve outra travessa para a Rua Araújo do lado esquerdo (nascente = leste) da Policlínica de 1914 (ver a marca na calçada da Farmácia Barbosa do rés do chão) mas depois deixou de existir.
FOTO 5
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| Travessa do Tenente Valadim (ex da Botica) entre as Ruas Consiglieri Pedroso e Araújo aqui uns 30 metros depois do cruzamento com a Travessa da Catembe |
MAPA de 1876 |
Primeiro rectângulo onde esteve a Feitoria
Rua da Gávea // Rua da Alegria -> Consiglieri Pedroso // Vermelho=Rua da Mesquita // Azul escuro=Travessa da Laranjeira -> do Banco Segundo rectângulo mais alargado Rua da Linha // Rua dos Mercadores -> Araújo -> Bagamoyo // Praça dos Trabalhadores // Praça Picota -> 7 de Março -> 25 de Junho No interior marquei quatro das travessas Amarelo: T. António Furtado Roxo: Catembe Verde: Rua da Botica -> Tenente Valadim
Rosa: Palmeira
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Na zona que depois foi LM e agora se chama Maputo foi havendo muitas voltas e reviravoltas políticas e tragédias pessoais. Como as condições de vida eram horrorosas só os mais aventureiros ou desesperados aceitavam ir para aí morar e sempre exigindo pagamento adicional.
Por isso começamos esta explicação com base no presídio português por volta de 1820 que foi quando Portugal começou a tentar estabelecer-se mais firmemente. Ergueu-se então a primeira gávea na dita Rua da Gávea para se poder ver para lá do pântano fétido atravessado por carreiros no junco e caniçal e por onde passavam também chacais, leopardos e manadas de hipopótamos.
O presídio que deu origem a LM for instalado na zona entre a Rua da Gávea e a Consiglieri Pedroso. Eram pequenas casas de alvenaria com terraços ou casas maticadas (paredes de barro?) com telhados de zinco. As habitações tinham grandes quintais e hortas fechadas por cercas de caniço mas a construção foi-se densificando e os espaços reduzindo. As casas eram dirigidas pelas esposas africanas (as caseiras). Havia também o armazém principal que se chamava Feitoria Comercial que tinha 6 empregados e casas compridas de pedra e também o Monopólio que não sei o que era.
A estacada de madeira que protegia o presídio apodrecia frequentemente e para ser reparada o governo tinha de pedir ajuda aos comerciantes, os soldados portugueses eram quase todos negros ou mestiços, os funcionários públicos eram de Goa (de onde Moçambique dependia administrativamente). Quanto a civis havia uns poucos europeus que viviam do negócio de marfim com os naturais e indianos que eram ou artífices ou comissários (agentes) de negociantes da Ilha de Moçambique que por sua vez tinham ligações a outros na Índia britânica para onde os produtos locais eram na maior parte encaminhados.
Perto do pântano havia um palmar e depois na barreira ficavam as machambas e as palhotas de dregredados europeus que se tinham transformado em agricultores em 1829.
E foram as coisas decorrendo mais ou menos calmamente até que em 1874 começaram a chegar aventureiros da Califórnia e da Austrália para os campos do ouro (ainda nem Jo'Burg nem o Rand existiam) e vinham boers do Transval de carretas buscar mercadorias a LM. O movimento aumentou, o presidio preencheu-se e começou a esboçar-se a Rua Araújo isto é a povoação aumentou com mais um quarteirão para sul.
Mas em 1875 houve um grande incêndio e toda a povoação ardeu entre a Praça (dos Trabalhadores) e a Rua da Mesquita (antigo Hotel Savoy) e de norte a sul. Foi essa a oportunidade para reformatar o que existia e o Governador Augusto de Castilho ordenou que não houvesse mais palhotas e telhados de palha. As casas mais antigas da baixa são dessa altura como devia ser esta na Travessa da Palmeira.
Nesse ano de 1875 o burgo foi elevado a vila e foi criado o município. Em 1877 chegou a expedição das Obras Públicas para prepará-la para ser a futura capital e que secou o pântano, desenhou e abriu ruas e construiu edifícios públicos. Em 1887 Lourenço Marques foi elevada a cidade e foi inaugurada a linha de Caminho de Ferro para a fronteira de Ressano Garcia e em 1895 fez-se a ligação a Pretória e o cais e o porto foram-se engrandecendo.
Estava traçado o destino do Maputo actual - dum lugar quase desabitado como milhões de outros ao longo da costa africana para ser o centro duma região com mais de um milhão de habitantes e ser a capital dum país independente.
A estacada de madeira que protegia o presídio apodrecia frequentemente e para ser reparada o governo tinha de pedir ajuda aos comerciantes, os soldados portugueses eram quase todos negros ou mestiços, os funcionários públicos eram de Goa (de onde Moçambique dependia administrativamente). Quanto a civis havia uns poucos europeus que viviam do negócio de marfim com os naturais e indianos que eram ou artífices ou comissários (agentes) de negociantes da Ilha de Moçambique que por sua vez tinham ligações a outros na Índia britânica para onde os produtos locais eram na maior parte encaminhados.
Perto do pântano havia um palmar e depois na barreira ficavam as machambas e as palhotas de dregredados europeus que se tinham transformado em agricultores em 1829.
E foram as coisas decorrendo mais ou menos calmamente até que em 1874 começaram a chegar aventureiros da Califórnia e da Austrália para os campos do ouro (ainda nem Jo'Burg nem o Rand existiam) e vinham boers do Transval de carretas buscar mercadorias a LM. O movimento aumentou, o presidio preencheu-se e começou a esboçar-se a Rua Araújo isto é a povoação aumentou com mais um quarteirão para sul.
Mas em 1875 houve um grande incêndio e toda a povoação ardeu entre a Praça (dos Trabalhadores) e a Rua da Mesquita (antigo Hotel Savoy) e de norte a sul. Foi essa a oportunidade para reformatar o que existia e o Governador Augusto de Castilho ordenou que não houvesse mais palhotas e telhados de palha. As casas mais antigas da baixa são dessa altura como devia ser esta na Travessa da Palmeira.
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| Travessa da Palmeira Parede em ruínas das primeiras construções feitas com pedra da barreira |
Estava traçado o destino do Maputo actual - dum lugar quase desabitado como milhões de outros ao longo da costa africana para ser o centro duma região com mais de um milhão de habitantes e ser a capital dum país independente.
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