Stiloguedes - (83) - Construção não autorizada de infantário no bairro do caniço de Lourenço Marques de 1968

Este projecto de Pancho Guedes (PG) é conhecido em português por "Creche clandestina" (em inglês "The Clandestine Nursery School"). Como se explica em baixo a construção era "não autorizada", embora fosse conhecida e por isso tolerada pelas autoridades. Quanto à creche penso que não tinha problemas para funcionar como tal. Por isso chamo a este projecto "Construção não autorizada de creche ou infantário" que me parece um retrato da situação mais fidedigno.

Pancho Guedes disse (traduzido e com acrescentos HoM): 
A creche clandestina no caniço é uma aldeia de muitas casas. Projetei-a e construí-a para a Obra da Infância, uma associação caritativa feminina que tratava de crianças e órfãos abandonados. A associação tinha muito pouco dinheiro e o município não permitia edifícios permanentes no bairro do caniço. Assim tivemos de construir a creche em três tentativas pois nas duas primeiras fomos parados pela Polícia Municipal. Fizemo-la com um carpinteiro rural e trabalhadores não qualificados. As  construções são feitas (segundo a tradição africana da zona) de madeira (para a estrutura), caniços (para as paredes) e de capim (para a cobertura). As janelas e portas foram recuperadas de edifícios demolidos na cidade. A creche tinha uma horta que era tratada por crianças mais velhas do bairro e pelos alunos. Todos os dias se fazia uma excelente sopa de legumes da horta. 

Mais informação adaptada do livro PG de L. Magri e J.L. Tavares e outra: Na zona do caniço o município não autorizava construção permanente (HoM: suponho eu que esperando pelo plano de urbanização para quando a cidade de cimento tivesse de se expandir, não sei como evoluiu depois da independência). A regra era se durante o fim de semana se conseguisse fazer uma estrutura com a cobertura, essa construção era tolerada e podia ficar, o que finalmente aconteceu neste caso.

FOTO 1
Diferentes palhotas para sala de aula, cantina, instalações
sanitárias e centro de saúde. Havia ainda espaço para horta.
FOTO 2
Nota-se o uso de alguns elementos reciclados
FOTO 3
Pancho Guedes em visita ao infantário
com o casal de colegas Peter e Alison Smith

lideres do afamado grupo de arquitectos "Team 10"
FOTOS 4 (a, b, c)
a. Vista da horta e creche/infantário por trás
b. Vista panorâmica
c. Interior com as crianças

Montagem de imagens do livro de L. Magri e J. L. Tavares

ESBOçOS de Pancho Guedes de ocupação espacial

Três dimensões da creche ou infantário
Como no esboço de cima
Azul: frente
Vermelho: trás
Verde: lado direito do conjunto

Noto que na esquina das cores vermelho e verde dos esboços está o depósito de água que se vê também ao centro da FOTO 4. No entanto o resto de equivalência dessa foto com os esboços não é evidente.
Pancho Guedes informava também que a escola era para as crianças das mulheres que trabalhavam na fábrica do cajú.
Não sei qual o estado actual desta estrutura e se mais tarde se transformou ou não em construção de alvenaria, assumindo eu que continua a ser necessária. Este projecto enquadra-se no Stiloguedes chamado "Palhotas e Palácios de capim" que tem outro exemplo nas palhotas do artesanato da praia da Polana. 

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