Visita do Governador Geral, o director da FACIM Naharro Pires e a "festa brava" em Moçambique (2/2)

A fotos completas da visita do Governador Geral à FACIM abordada na mensagem anterior estão aqui e o repórter fotográfico foi Dagoberto José de Carvalho do jornal Diário.

Quem as publica é o Arquivo Científico Tropical Digital (ACTD) que legendou a foto de baixo da seguinte forma:

ACTD: "Arantes e Oliveira e comitiva em visita 
a exposição industrial: interior de fábrica"

Pergunto, mas era exposição ou fábrica? Se a legenda fosse  "Arantes e Oliveira e comitiva em visita a exposição industrial: máquinas" já não haveria dúvidas. 
O senhor de "patilhas" e fato com colete (a FACIM realizava-se de Maio a Junho no inverno local) que se vê a acompanhar o Governador-Geral na maioria das fotos da visita (principalmente nas três primeiras da mensagem anterior) era o director da feira Felix Naharro Pires (FNP). Na foto de cima é o senhor de perfil na segunda posição à direita do Governador (o senhor de fato preto com lenço branco) e antes do último senhor de óculos escuros que está de frente. De facto é ele que aparece em filme da RTP em 1971 sobre a FACIM e era um nome muito conhecido em Lourenço Marques pois penso que foi o seu fundador, sendo de formação engenheiro (ou agente técnico?) silvicultor segundo li (lista de co-publicações). 
FNP tinha formado um grupo local de forcados chamado Amadores de Xinavane. 

Site de tauromaquia

Em touradês forcados são os corajosos que imobilizam bois selvagens 
com as mãos, tábuas é a vedação e o cabo é o chefe. 
O D. não sei se é por FNP ser "fidalgo de sangue azul" 
ou por ser o chefe do grupo.

FNP foi administador da Tempográfica (parece ter sido gestor de grandes grupos económicos locais para além da FACIM e do hobby de forcado) e como se pode ver aqui teve problemas quanto baste com o grupo dinamizador dessa empresa em 1975. 

FNP dizendo de sua justiça quando certamente pensava ainda
que tais esclarecimentos iriam ser importantes para o tempo
do Moçambique independente que se aproximava

Suponho que FNP tenha retornado pouco depois desta polémica a Portugal e com o dinamismo que tinha demonstrado em Moçambique nos anos 90 veio a ocupar de novo uma posição de destaque. 
FNP aparece aqui em notícia de jornal como director do Zoo Lisboa (interessantemente o actual director do Zoo de Lisboa também é Naharro Pires por isso parece que o Zoo se transformou num "affair de família"). 

Felix Naharro Pires à esquerda, já em Lisboa

Há uma estátua de FNP no Jardim Zoológico de Lisboa de que foi director de 1990 até penso que ano do seu falecimento confirmando também ser ele o senhor das "patilhas".

Estátua de Luis Valadares no Zoo de Lisboa inaugurada em 2009.
Comparação de Felix Naharro Pires em 70-72 na FACIM 
na foto tirada em frente ao expositor da SOLGAL

Dentro do tema "festa brava" lembrei-me agora que havia uma "Tertúlia Festa Brava (TFB)" em Lourenço Marques, actual Maputo que eu assumia ser um clube de aficionados de touradas. Procurando na net, no site delagoabayworld há uma referência à TFB num artigo sobre fado em Lourenço Marques que dizia:

There was also another meeting place called the Tertúlia Festa Brava. This was a semi-open-air meeting place in amongst the trees bordering the Esplanade and the Avenida da República. This fado-house functioned now on most days and also on Sundays. 

Recordo-me que a TFB era num edifício anódino dos anos 50 em estilo português tradicional (de que não encontro fotos antigas ou actuais) que ficava na mata dos eucaliptos ao lado da FACIM do lado direito para quem olha da antiga Av. da República, actual 25 de Setembro. Por isso a localização da TFB no artigo parece-me mais ou menos correcta embora a menção à Esplanada frente ao estuário (a "corniche" da Av. Freire de Andrade) confunda um pouco pois a TFB ficava face à Av. da República do outro lado do quarteirão por isso a pelo menos 100 metros daí.

Eu, para além de associar FNP à FACIM também o associava às touradas, o que dado o meu desconhecimento total desse meio se poderia explicar se ele tivesse sido dirigente da TFB ou de qualquer agremiação parecida e de eu ler alguma coluna no jornal Notícias ou ouvir um programa na rádio que FNP ou a TFB tivessem. 
Ficam muitos pontos em aberto sobre a vida de FNP em Moçambique (onde viveu talvez de 1958 a 1975) e sobre a génese da FACIM.