Fábrica de cimento da Matola - história da utilização do cimento na cidade (1/2)

Vou usar informação de Alfredo Pereira de Lima do livro "Casas que fizeram Lourenço Marques" da Chiado Editora em que descreve métodos de construção utilisados nos primórdios da cidade de Lourenço Marques (LM) Diz APL   que a expedição das Obras Públicas de 1877 não usou cimento e que este só surgiu nas obras da cidade por volta de 1890 e para fins de defesa (ver mais desenvolvido em baixo). A primeira fábrica de cimento na África do Sul foi lançada em 1891 e cerca de 1895 houve em Moçambique a primeira tentativa de fabrico mas falhou.
Em 1899 cimento era importado da Alemanha para LM em barricas pela firma Hansen Schrader das marcas Teutonia e Alsen (agora Holcim). Faziam-se também importações de Inglaterra. Já no começo do século XX o cimento continuava a ser muito caro e por isso o seu uso muito restrito. O major Freire de Andrade que foi entre 1906 e 1910 Governador de LM e Geral de Moçambique era oficial de Engenharia e tentou inovar os métodos de construção. Em 1907 fez a primeira experiência de alvenaria usando pedra e cal produzida localmente mas como APL diz também que argamassa usando cal era usada antes, parece-me que a inovação terá sido o uso da cal produzida localmente). Este novo tipo de construção era económico pois só para as fundações se utilizava cimento. Diz APL que o primeiro edifício assim construído foi a Escola Distrital (de 1908, ainda de pé o que prova que a economia foi sem prejuízo da robustez) e seguiram-se os primeiros bombeiros, a escola 5 de Outubro, e a esquadra da Polícia da Consiglieri Pedroso (de 1914). O Instituto Goano (fundações em 1907) também parece ter usado esse método que a partir de 1912, dada a proibição de construções em madeira e zinco, se deve ter generalizado também para os edifícios privados. 
Voltando ao fabrico local de cimento só em 1918 se construiu a fábrica "Moçambique" beneficiando de exclusividade por 10 anos. O cimento que essa fábrica e as suas evoluções produziram foi fundamental para se fazer grande parte da actual cidade de Maputo. E é graças a Santos Rufino e às suas fotos publicadas nos álbuns de 1929 que podemos ver esse importantíssimo marco indústrial. 
Fábrica de cimento "Moçambique" na Matola - Panorâmica geral
Hangar do clinker e do forno rotativo, 
que se vê aqui à esquerda e na foto seguinte
Forno rotativo produzindo 3 a 4 toneladas de cimento por hora
Laboratório de análises químicas da fábrica
Publicidades em 1929: Cerca de dez anos depois do seu lançamento
parece que o BNU tinha tomado conta da fábrica

No livro de Alfredo Pereira de Lima "Casas que fizeram Lourenço Marques" ele escreve o seguinte: 
"Pelo exame que fiz às obras que ainda restam dessa época (da Expedição dos Engenheiros do major Machado), tais como o quarte! do Alto Maé, pode-se concluir porém, que não foram os homens dessa Expedição famosa que introduziram entre nós a aplicação do cimento, esse material que iria transformar de novo a fisionomia de Lourenço Marques tão caracterizada jâ pelas casas de madeira e zinco. 
Rochas da praia, de formação calcárea, pedras da Ponta Vermelha, cal e areia, foram os materiais empregados por esses construtores. Os rebocos eram ainda de argamassa de cal com areia, mas já se empregavam tijolos feitos localmente. Vestígios desses materiais de construção encontrei largamente aplicados no exame que fiz às demoliçôes efectuadas na Avenida 5 de Outubro, do edificio do antigo Café «Paládio», que foi anteriormente sede da Maçonaria, edificio construîdo pele pioneiro Napoleão Ferreira Leão, nos anos imediatos à chegada dos engenheiros das Obras Pûblicas: e, mais recentemente, na demolição do edificio da Casa Bayly, cuja parte mais antiga fora construîda pelo pioneiro Paullno António Fornasini, em 1879."

Continua aqui para os anos 60.

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