Fábrica Reguladora nos arredores de Lourenço Marques - Arq. Tinoco

Depois de termos visto o Entreposto na Av. do Trabalho este é outro projecto não residencial do Arq. Tinoco, localizado na Estrada Nacional número 1.
Tentei perceber para usar como legendas de fotos os textos do HPIP e do livro J.J. Tinoco - colecção Arquitecturas em África de J. Fernandes e Matos Veloso. Os seus autores consideram esta obra como de excepcional inventiva no quadro da produção de Tinoco que terá sido influenciado pour Louis Khan
Antiga "A Reguladora de Moçambique"
O conjunto fabril é construido em módulos de betão armado
Foto Philipp Schaub com a devida vénia
Fotos da conclusão da obra reproduzidas do livro
Nesta altura os elementos superiores tinham cor escura
que se destacava na paisagem plana
Há dois tipos de triângulos nas coberturas.
As lâminas horizontais nos da esquerda (que devia ser
 a sala de produção) filtram a luz para o interior

Três boas fotos do HPIP: Fábrica Reguladora
Elementos do texto: Os escritórios estão virados para um pátio,
em cima das coberturas há elementos de ventilação,
as grandes caleiras para as águas da chuva
são também vigas de betão

Noto que a Fábrica Reguladora de Famalicão em Portugal fazia inicialmente relógios mas depois passou a produzir principalmente contadores de água e electricidade. Este seu investimento em Moçambique (falhado, pelas circunstâncias políticas conhecidas) é só associado aos relógios, mas sendo do início dos anos 70 e tendo em conta o mercado local é mais provável que fosse de contadores. 

HPIP (em arquitecturês e construturês cerrado, devia dar para terem sumarizado): A Fábrica “A Reguladora”, desenhada por João José Tinoco (1924-1983) é, em conjunto com o complexo do Grupo Entreposto Comercial de Moçambique (1969-1972) um dos programas industriais construído em Maputo no início da década de 1970. Nesta edificação, a expressão marcadamente brutalista dos corpos que a compõem convive, de forma ambivalente, com a escala reduzida dos volumes, o que contribui para o maior protagonismo de alguns elementos complementares, como os que fazem parte dos sistemas de ventilação, de iluminação zenital e de drenagem das águas pluviais das coberturas.
O edifício é composto por três volumes organizados em torno de um pátio, dois destinados às actividades de produção, e um volume menor para escritórios. Os corpos destinados à produção são iluminados através de entradas de luz zenital, ao contrário do corpo de escritórios em que são desenhados vários vãos no alçado nascente.
O aspecto mais interessante desta obra do arquitecto João José Tinoco é a simplicidade geométrica das coberturas, que se combina com a eficiente resposta às exigências funcionais e ambientais do edifício. Os dois tipos de coberturas dos corpos de produção industrial apresentam o mesmo perfil em triângulo rectângulo isósceles embora se apresentem em posições diferentes num e noutro corpo. Este processo contribui para o dinamismo formal do conjunto e consequente impacto exterior. A estrutura do edifício é executada em betão armado, destacando-se as lajes das coberturas tal como as lâminas brise-soleil dos dois tipos de cobertura inclinada.
O projecto assumia claramente, através dos vigamentos, a distinção cromática entre as paredes exteriores não estruturais – pintadas de branco – e as coberturas em betão aparente. No que respeita aos materiais empregues, os vários espaços internos caracterizam-se por uma frugalidade decorrente do teor industrial do edifício.
A técnica de construção procurava agregar e simplificar as respostas as várias exigências de um edifício industrial. Desta forma, é frequente que o desenho de um elemento singular responda simultaneamente a exigências de ordem estrutural, de conforto e de segurança, como se pode observar nas coberturas em que o desenho do sistema de cobertura, com a repetição sistemática dos mesmos módulos inclinados, em shed, permite, devido a sua extensão, dimensão e configuração geométrica (inclinação de 45o), a drenagem eficaz das águas pluviais das coberturas através de um único sistema de caleiras que são, ao mesmo tempo, as vigas que garantem a coesão estrutural do edifício. O conforto higrotérmico e assegurado pela ventilação efectuada através das aberturas no topo dos envidraçados dos enormes vãos verticais, cujo desenho impede a entrada da água das chuvas.
Hoje, a fábrica de relógios “A Reguladora” é a sede do grupo Luso-vinhos, mudança de função que levou à alteração dos usos dos espaços. Onde anteriormente estava instalada a maquinaria está hoje instalado um armazém, refeitório e habitação. As paredes em alvenaria de tijolo facilitaram a abertura de vãos e o preenchimento de outros, tendo mudado radicalmente a imagem de edifício opaco e hermético original. Os edifícios adicionados perturbam a leitura do edifício a quem o observe de norte ou poente.
Apesar das intervenções sucessivas são reconhecíveis as mais importantes configurações formais e espaciais descritas. Original de João Vieira Caldas e Francisco Seabra Ferreira.

SIPA: Peri-urbano, isolado. Implantado num lote de terreno nos arredores de Maputo, junto à Avenida de Moçambique (EN1), uma das principais vias de saída da cidade em direção a norte. Localiza-se nas imediações das Instalações Militares (paiol), a cerca de 4,5 kms a sul do Estádio Nacional do Zimpeto e a cerca de 11,5 kms a noroeste do centro da cidade.

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