Rua da Fonte e Av. Aguiar/D. Luís - início com Hocking, Forsythe, etc (1/2)

Já tinha falado da Rua ou Travessa da Fonte (RdF) em muitas mensagens e esta era a mais específica. Mas volto ao assunto porque não tinha sido aprofundado.

FOTO 1 de cerca de 1922
Linhas de eléctrico na Rua da Fonte que era ponto crucial dos trajectos.
Em baixo está a mesma imagem na versão a cores e com marcas indicativas. Nestas fotos teremos quase sempre as ruas marcadas assim:
Carmesim: Av. Aguiar, depois D. Luis, agora Samora Machel, 
Azul: Av. D. Carlos, depois da República, actual 25 de Setembro, e 
Roxo: Rua da Fonte.
Vista da RdF para sul
Vermelho: Prédio da esquina da RdF que vamos seguir nesta mensagem
Verde: Árvore na esquina nordeste da Praça 7 de Março, actual 25 de Junho.
Castanho: Capitania Building, próximo do estuário
Vamos ver o lado direito (quer dizer poente = oeste) das FOTOS 1 começando pela casa da esquina com a tabuleta na parede de "É proibido afixar anúncios". Esse era o lado que aparecia à esquerda da FOTO 2 (mostrando a RdF em sentido contrário) para a qual a legenda de Alexandre Lobato aqui adaptada era: Travessa da Fonte - À esquerda, a seguir ao armazém comprido estão duas casas térreas em que houve (HoM: não exactamente na altura da foto) o primeiro estúdio do fotógrafo Hocking e o cartório do advogado Eduardo Saldanha que passou depois para o notário António Grave.

FOTO 2
Vista da RdF para norte em 1900 - clique na foto para aumentar
Vermelho: Prédio da esquina da FOTO 1, em princípio o do advogado/notário.
Tinha 3 "sobrancelhas" na fachada para a RdF.
Laranja: Prédio do friso em cima que o faz parecer mais alto do que os que
 o rodeiam mas não é. Tinha vasos nos cantos nesta data e em princípio é o do fotógrafo.
Amarelo: Armazém comprido
Segue-se a FOTO 3 da visita do Princípe Real D. Luis Filipe a Lourenço Marques em 1907 onde incrustei outra imagem do mesmo dia tirada ao alto da actual Av. Samora para precisar o local. Assim a FOTO 3 foi tirada mais ou menos em frente à Padaria Aziz na antiga Av. Aguiar e na continuação da RdF e daí vamos comparar o que se vê nas FOTOS 3, 2 e em parte na FOTO 1.

FOTO 3 de 1907
Vista para sul - clique na foto para aumentar
Vermelho: Prédio da esquina com 3 "sobrancelhas" 
Laranja: Pdio com um friso em cima
Amarelo: Armazém comprido.
Verde claro: Barracão mais alto que o armazém comprido.
Branco: Prédio na esquina com a Praça 7 de Março
Verde: copa de árvore na Praça 7 de Março, actual 25 de Junho
Os três primeiros prédios a partir da esquina "vermelha" da FOTO 3 eram os que também se viam na FOTO 2. O barracão marcado a verde claro na FOTO 3 não aparecia na FOTO 2 e embora não tenha a certeza devia ser a Fábrica de Limonadas do Forsythe que APL mencionava a propósito de José Onofre que foi o dono do primeiro cinema de Lourenço Marques e de quando estava em dificuldades no negócio "... Ainda chegou a pedir à Câmara Municipal autorização para mudar o seu cinematógrafo para o barracão onde esteve instalada a fábrica de limonadas do Forsythe, na Travessa da Fonte, n.15 mas acabou por desistir do empreendimento".
O prédio marcado a branco na esquina com a Praça 7 de Março suponho que era o que se via à esquerda da primeira imagem desta mensagem de 1895 onde tinha pregada a tabuleta da "Praça 7 de Março" e um cartaz de touradas. 

Quando os visionários engenheiros militares vindos de Portugal projectaram Lourenço Marques (nomes conhecidos como o futuro General Joaquim José Machado, Joaquim Lapa, Major António José (ou Augusto) Araújo, etc) desenharam e depois construiram avenidas de 20 metros e de 40 metros de largura (com os passeios) e 2 quilómetros de comprimento para o que era na altura um burgo minúsculo e mal povoado no "cú de judas". Suponho que por ser na parte antiga e já haver aí construções a Rua da Fonte deve ter ficado com menos de 20 metros de largura (mas não era estreita) tendo a sua continuação para o alto chamada Av. Aguiar ficado com 40 metros. Assim na FOTO 3 vemos essa transição (do mais para o menos largo) mas a faixa de rodagem era contínua, porque na Av Aguiar os 40 metros eram ainda parcialmente ocupados por largos passeios laterais. 
Os mapas da altura mostram o seguinte:


MAPAS de 1903 e de 1925/26
Av. Aguiar (carmesim) a norte da Rua da Fonte (roxo)
Vermelho - laranja - amarelo - verde claro - branco
edifícios das FOTOS 1/2/3 do (único) quarteirão
 a poente = oeste da RdF e que só marquei no mapa de 1925/26. 
Cinzento: esquina do Prédio Avenida = Avenida Buildings
Como se pode ver a esquina onde está o prédio marcado a vermelho nas FOTOs 1, 2 e 3 ficaria para dentro da faixa de rodagem lateral poente = oeste do que é agora a Av. Samora (ao lado do prédio novo do Banco de Moçambique) porque esta Avenida é mais larga do que a RdF foi (representaremos isso em próxima mensagem).
Recuamos agora para cerca de 1886 quando o pântano não estava ainda totalmente seco. Continuamos a ter marcado a Azul: Av. D. Carlos, depois da República, actual 25 de Setembro e a Roxo: Rua da Fonte, que vamos observar com mais atenção.
FOTO 4 de Fowler cerca de 1886
Baixa vista donde actualmente é o Jardim Botânico 
com o antigo pântano em primeiro plano.
Laranja: prédio do friso e dos vasos das FOTOS 2 e 3 
(ver a correspondência da porta central e duas janelas de cada lado 
como na FOTO 2 e o do telhado com telhas e de quatro águas)
Azul: era a Rua da Linha, dentro da linha de defesa da cidade 
e cruzava aí a RdF. Veio a ser a parte sul da futura da Av. da República. 
Vermelho: frente de terreno vazio no canto entre o prédio do friso e a Rua da Linha.
Foi onde se construiu o prédio da esquina das FOTOS 1, 2 e 3.
Rosa: Telhado em bico como referência para a FOTO 5
De cerca de quatro anos mais tarde é a FOTO 5 mostando naturalmente alguma evolução na zona. Marcado com a linha azul na horizontal temos o espaço aberto para a Av. da República vendo-se através duma abertura no muro o que tinha sido a Rua da Linha que passava frente ao edifício do bico (seta rosa) e para cá do muro o limite norte da ilha junto ao pântano e que foi também ocupado pela avenida. 

FOTO 5 de cerca de 1890
Rosa: Telhado em bico como na FOTO 4 para se ajustar as fotos
Vermelho: Terreno vazio onde se construiu depois o prédio da esquina
 da RdF com a Rua da Linha do lado sul da Av. da República. 
Laranja: Prédio do friso e dos vasos que se vê que em 1890 era uma farmácia. 
Veio a ser o estúdio de fotografia de Sidney Hocking.
Cinzento: Terrenos do futuro Prédio Avenida em preparação. 

Ficam recuados em relação à RdF (linha roxa) que quando foi alargada 
para ser a actual Av. Samora foi alinhada do lado direito 
pelo limite à esquerda (nascente = leste) destes terrenos (no sentido norte-sul)
A FOTO 6 em baixo deve ser cerca de dez anos posterior à FOTO 5 e oferece a vista ao longo da Av. D. Carlos com esta já bem traçada. O local é próximo do cruzamento das fotos de cima (ver aqui outras fotos tiradas um pouco mais para a frente dele, umas de 1890 por isso mais antigas que esta e outras com aspecto semelhante da avenida).

FOTO 6 cerca de 1900
Azul: nova Av. D Carlos, actual 25 de Setembro com vista para nascente = leste.
Carmesim (esquerda): nova Av. Aguiar, actual Samora do lado norte
Roxo (direita): nova Rua da Fonte, actual Samora do lado sul
Neste local a Av. D. Carlos englobava a antiga Rua da Linha do lado direito e do lado esquerdo estava em parte assente no limite norte da ilha mas começava a entrar para cima do antigo pântano (ver mapa sobreposto). Infelizmente na FOTO 6 não se vêm edifícios antes do cruzamento com a Rua da Fonte (nem as sombras deles!). Mais à frente do lado esquerdo estão edifícios recuados que serão dos da DB Water Works, Correios, Obras Públicas, etc. o que não se consegue confirmar na foto.

Em relação à Rua da Fonte (que só espreita à direita na FOTO 6) ela só deve ter sido alargada cerca de 1940. Como vimos em cima, no mapa de 1925/26 mantinha o desenho inicial que só aparece modificado no mapa de 1940. 

MAPA de 1940

Carmesim: Av. Aguiar, depois D. Luis, agora Samora
 Azul: Av. da República, actual 25 de Setembro
Roxo: antiga Rua da Fonte, já alargada e a fazer parte da Av. Aguiar

A RdF nesta FOTO 7 da visita do Marechal Carmona a Moçambique em 1939 parecia ter ainda o desenho inicial. Vemos aí, de cada lado da Av. da República, dois arcos de triunfo preparados para a visita presidencial e vamos compará-los.

FOTO 7 em 1939 - clique para aumentar
Azul: faixa de rodagem da Av. da República, actual 25 de Setembro
Os arcos (vistos quase de perfil) tem larguras bastante diferentes:
Preto: do lado da Av. D. Luis, actual Samora com três passagens abertas
Cinzento: o do lado da RdF com uma passagem aberta
Vermelho: Parece ser o edifício da esquina da FOTO 1 
com as janelas arqueadas por cima, quer dizer a RdF ainda sem alterações.
Para a RdF ter sido ser alargada pelo alinhamento da Av. D Luis (que no seu lado poente = oeste é a recta carmesim) o edifício das marcas vermelhas (ou parte dele) cuja esquina na RdF era mais ou menos onde está a vertical roxa do lado direito da FOTO 7, teve de ser demolido até à vertical carmesim, aproximadamente. O alargamento da RdF foi efectuado pouco depois da visita de Carmona registada na FOTO 7 porque se integrou nos trabalhos da criação da Praça Mousinho de Albuquerque, actual da Independência que foi inaugurada em 1940. 
Em mensagens seguintes (primeira aqui) veremos fotos da antiga Rua da Fonte já integrada na extensão da Av. D. Luis, actual Samora para sul da Av. da República, actual 25 de Setembro que é a avenida marcada a azul na FOTO 7.

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