Corpo anexo do Museu Álvaro de Castro de 1965 - Arquitecto Tinoco (e Pancho Guedes)

O arquitecto Tinoco fez o projecto do anexo (com a administração, sector cientifico e os serviços técnicos) do Museu Álvaro de Castro, actual de História Natural na zona da Polana/Ponta Vermelha da cidade de Lourenço Marques, actual Maputo. 
No livro "João José Tinoco – Arquitecturas em África" os autores J. M. Fernandes, Lurdes Janeiro e Matos Veloso afirmam sobre este trabalho que se trata de um "expressivo corpo de planta em quarto de círculo em diálogo  (HoM: será que os edifícios conversam em língua klingon? pergunta de ignorante ...) com o volume do museu existente, com galeria coberta térrea ao centro e os característicos elementos separadores verticais em betão" (ver ao fundo referência ao Entreposto).

FOTO 1 (do IST EWV)
no rés do chão: a "galeria coberta" 
no primeiro andar: os "separadores verticais em betão"

Segue-se uma foto que confirmaremos ser do mesmo edifício datada de 2017 e reproduzida do site bigslam com a devida vénia:

FOTO 2
Foto de edifício anexo do museu

Seguem-se fotos do livro citado "João José Tinoco – Arquitecturas em África" mas com más reproduções. Primeiro duas coladas que podemos ligar às fotos de cima:

FOTOS 3
lado esquerdo: pelas vigas salientes em bico corresponde à fachada da FOTO 2
lado direito: vista em sentido oposto à vista da FOTO 1

Tentando interpretar o que se vê nestas imagens:

FOTO 4 - GE
Laranja: Museu inicial com parte central e duas alas
Roxo: provável segunda fase do anos 40
Verde: Rua dos Aviadores, actual da Argélia
Rosa: Rua Governador Simas, actual Muthemba

Castanho claro: Rua Luís de Camões, antiga dos Lusíadas
Azul e vermelho: projecto de Tinoco com o corpo em semi círculo
Castanho escuro: ligação entre segunda fase e projecto de Tinoco
Azul e branco: ver FOTO 5

Quanto à parte "roxa" que suponho ter sido uma ampliação dos anos 40, ela terá preenchido o interior do edifício inicial e foi nela criado o salão de expisições principal. Estas inicialmente ocupariam as salas e os corredores ao longo dos dois corpos laterais da primeira fase da construção. 
Conclui-se do que se observa na FOTO 4 que a FOTO 1 é da parte interior do edifício projectado por Tinoco e marcada a vermelho. A FOTO 2 é da parte exterior desse edifício e terá assim sido tirada do jardim no canto entre a Alameda dos Lusíadas / Luis de Camões e a antiga Rua dos Aviadores, actual da Argélia e na direcção do sul (parte inferior da FOTO 4 - GE). 
Na FOTO 5 seguinte também do livro "João José Tinoco – Arquitecturas em África" vê-se um muro do museu no característico estilo neo-manuelino mas o edifício parece ser dum projecto moderno dado mostrar placas verticais para brise-soleil

FOTO 5
Muro do museu e recuado uma construção moderna que como está no seu livro
presumo seja também do projecto de Tinoco

Dado que nunca vi os edifícios da ampliação dos anos 60, para localizar esta FOTO 5 têm-se a vista superior do museu com google maps (ver FOTO 4). Vê-se aí que edifício da ampliação em forma de "banana" está afastado dos muros e como o da FOTO 5 tem linhas direitas é provável que este seja um que aparece no canto inferior direito do terreno (o "azul e branco" na FOTO 4) e que para o fundo da FOTO 5 apareceria o do edifício actualmente da Câmara de Comércio, tudo isto na Rua Muthemba.
A foto seguinte de Carlos Alberto Vieira talvez do início dos anos 60 com vista para nascente = leste e com o Museu ao centro, mostra como era o recinto do Museu antes da construção do ou dos corpos anexos de Tinoco mas já com a segunda fase "roxa" construída:

FOTO 6
Laranja: Museu inicial com parte central e duas alas
Roxo: Suponho ter sido uma ampliação
Verde: Rua dos Aviadores, actual da Argélia
Rosa: Rua Governador Simas, actual Muthemba
Castanho claro: Rua Luís de Camões, antiga dos Lusíadas

A suposta ampliação a roxo deve ter sido dos anos 40 ou 50 e preenchido espaço inicialmente vazio entre as alas. Tinha por cima, e mantém-na ainda, o que devia ser uma pérgola para reduzir o calor. 
Interessante é que Pancho Guedes (PG) também trabalhou na ampliação do Museu mas finalmente o trabalho foi atribuído a Tinoco. Como já vimos PG era "rebelde" como arquitecto e na atitude perante a situação (era o grande patrono de Malangatana, era seguido pela PIDE, tinha preocupação com a zona do caniço, ligação com as igrejas protestantes, etc) e fez relativamente poucos projectos públicos especialmente nos primeiros anos. Tinoco (de que não sei a orientação política mas a esposa era filha do oposicionista Aurélio Quintanilha) por ser arquitecto mais convencional ou por algum outro motivo devia estar mais nas boas graças do regime e fez muitos projectos para o estado, mas também alguns privados de relevo como o mBIM, o prédio na Sommerschield e o Cinema Dicca por exemplo. No final de contas, sendo os dois arquitectos mais ou menos democratas, saíram ambos de Moçambique em 1974/75 o que IMHO foi uma perda enorme para o novo país.

Esboço de Pancho Guedes de ampliação para o Museu.

Pode-se ver que PG trabalhava para uma ampliação muito maior do que a que foi feita por Tinoco. Em vez do corpo em semi-círculo em cima realizado (que aqui seria muito reduzido) nesta ideia de PG haveria um grande volume mais ou menos linear que seria construído na perpendicular à actual Av. Muthemba.
Para finalizar um texto de Francisco Ferreira parcialmente sobre Tinoco e o Museu: ".. Anos antes João José Tinoco tinha projectado o bloco administrativo adjacente ao Museu Álvaro de Castro, e em 1969 já estaria concluído o edifício do Ministério da Agricultura. Estes dois edifícios, embora muito menos influenciados por uma estética de influência brutalista, vão experimentar os sistemas de sombreamento posteriormente aplicados de forma semelhante no Entreposto"

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