Trabalho da Arq. Carlota Quintanilha em Lourenço Marques, actual Maputo

Trabalhos principais da Arq. Maria Carlota Quintanilha em Moçambique onde viveu de 1956 a 1972:
1956: Pavilhão da Agricultura na Exposição das Actividades Económicas de Moçambique com João José Tinoco (NB: Tinoco fez um pavilhão de Moçambique na feira de Bulawayo que deve ser outro caso);
1957: Sede do Grupo Desportivo do Alto-Maé, Lourenço Marques/LM (NB: rever em baixo);
1958–59: Sede dos Serviços de Aeronáutica de Lourenço Marques com Alberto Soeiro e João José Tinoco  (rever em baixo);
1960–1970: Aeroportos de Nampula e Porto Amélia, actual Pemba (NB: era a parte da torre à esquerda, a parte da direita é nova) com João José Tinoco os dois e mais com Alberto Soeiro o segundo;
1962–66: Palácio das Repartições do Distrito de Niassa, Vila Cabral, actual Governo do Niassa, Lichinga;
1965: Instituto do Algodão, Lourenço Marques;
1965: Palácio das Repartições do Distrito de Cabo Delgado, Porto Amélia;
Entre 1966 e 1972: 
Instituto de Investigação Agronómica de Moçambique (IIAM) - estudo urbanístico, alterações dos edifícios existente e a criação de uma Casa-Tipo (NB: Estaria esta relacionado com o Instituto do Algodão de cima?); 
Sindicato Nacional dos Empregados do Comércio e Indústria (SNECI) e uma estância de repouso na Namaacha (NB: uma sede nova do SNECI que eu saiba não se fez, seria sómente a mencionada casa de repouso do SNECI?) 
Sem data: Diversas obras para particulares.
A Arq. Maria Carlota Quintanilha fez também com Tinoco os planos de urbanização das cidades de:
1963–66: João Belo/Xai-Xai
1964–67: Inhambane e Maxixe
A lista acima combina as da Wikipedia portuguesa e alemã e a informação dum artigo muito detalhado de Clara Germana Gonçalves e que contou com a colaboração da arquitecta e do seu colega próximo Matos Veloso.  
Sede do Grupo Desportivo do Alto-Maé
Vista para noroeste cerca de 2012
Vista para poente = oeste, cerca de 2006
Av. da Tanzânia, antiga Rua João Albasini de LM (foto Yves Traynard)

Dá ideia que os especialistas não sabem localizar o primeiro projecto a solo de Carlota Quintanilha em Moçambique. Assim adianto que nas fotos de cima o prédio de 3 pisos ao centro deste correr, com lojas comerciais em baixo, salão de bilhares no primeiro andar e suponho a sede no segundo andar era o do Clube Desportivo do Alto Maé (não é Grupo) - ver para o fim desta mensagemSe bem me lembro foi finalizado para o fim dos anos 60 após alguns anos de interrupção na construção provávelmente por falta de fundos. Por isso no que respeita às datas coaduna-se com ser um projecto de 1959 e no que respeita ao seu estilo (internacional moderno) coaduna-se com os outros projectos em que Carlota Quintanilha participou. Deve-se poder então atribuir-lhe este edifício e os especialistas deverão actualizar os seus magníficos trabalhos. 
Do listado projecto da Aeronáutica, feito em colaboração com outros dois arquitectos, já vimos esta mensagem mas podemos mostrar duas outras imagens:
Foto mais antiga da Aeronáutica, próxima do aeroporto de LM
Mais recente. Comparar as grelhas 
com as da fachada do Governo do Niassa.

Este artigo do Jornal Arquitectos por Clara Germana Gonçalves com Ricardo Lima tem a biografia da arquitecta Carlota Quintanilha. O mais interessante é que ela apesar dos trabalhos listados em cima e de ser bem considerada pelos seus pares se considera(va) principalmente professora de Desenho e Geometria, mas parece que motivos pessoais e/ou familiares tiveram grande influência no aspecto profissional segundo se deduz do artigo.
Arq. Maria Carlota Quintanilha com os seus alunos de 10-12 anos 
na Escola General Machado nos anos 60.
Reprodução do artigo citado do Jornal Arquitectos
Da lista de trabalhos, com estas fotos e através das ligações para os projectos fora de Maputo, ficamos sem conhecer os projectos do Pavilhão da Agricultura mas este deve ter sido temporário, do Instituto do Algodão, do Palácio das Repartições de Cabo Delgado que deve ter passado a ser o Governo da Província mas que não encontro, e das residências particulares.
Sobre a vida profissional da Arq. Carlota Quintanilha em Moçambique (onde vivia desde 1943 em semi-exílio político o pai que era o reputado cientista Aurélio Quintanilha) o mais importante do artigo do Jornal Arquitectos é o seguinte, com pequenas alterações ao original e o corte do final opinativo da autora:
A Arq. Carlota Quintanilha ... parte de Angola onde estive primeiro o casal Carlota Quintanilha - João José Tinoco (casados em 1953 nas vésperas de embarcarem para África) para Moçambique em 1956 dando continuidade a uma carreira de professora ... e em LM ministra Desenho e Geometria Descritiva em vários graus do ensino secundário e em diversos estabelecimentos (Escola Industrial, Escola Comercial, Escola Preparatória General Machado, Escola Preparatória Feminina e Liceu de António Enes). 
Carlota Quintanilha considera a actividade docente como a mais representativa da sua carreira profissional. Embora arquitectos seus contemporâneos em Moçambique afirmem ter testemunhado a sua parceria com Tinoco, abstém-se agora de qualquer protagonismo. O reconhecimento da sua importância é todavia sugerido tanto entre o grupo profissional afecto ao casal como fora deste por Pancho Guedes, p. ex. Mas nem sempre Carlota Quintanilha se distanciou do trabalho realizado com Tinoco. Em currículo elaborado já depois da Revolução de 1974, quando se encontrava ao serviço do Ministério da Educação e Investigação Científica (e que consta do seu processo individual de funcionária pública), elenca uma série de projectos, destacando precisamente os que desenvolve com o marido, no período em que permanecem casados e com residência em Maputo. Na impossibilidade de consulta dos projectos moçambicanos, recorre-se neste texto às atribuições sugeridas por Matos Veloso, por André Faria Ferreira e por Elisiário Miranda.
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No seu currículo, Carlota Quintanilha omite qualquer projecto em Angola, situando em Moçambique todos os trabalhos de arquitectura realizados. Três são planos urbanos, executados com Tinoco (João Belo, Inhambane e Maxixe). Da parceria com o marido, confirma ainda serem os Palácios dos Governos dos Distritos e Repartições do Niassa (Vila Cabral, actual Lichinga, c. 1961) e de Cabo Delgado (Porto Amélia, actual Pemba, 1965-1970); e o Instituto do Algodão de Moçambique, Sede e Casa-Tipo. Contam com a co-autoria de Alberto Soeiro na Sede dos Serviços de Aeronáutica de Maputo e na Aerogare de Nampula. No livro "João José Tinoco – Arquitecturas em África" os autores afirmam que também são da responsabilidade do casal Quintanilha-Tinoco a Aerogare de Porto Amélia e o Pavilhão da Agricultura na Exposição das Actividades Económicas de Moçambique, de 1956, provávelmente um dos primeiros trabalhos em que se envolvem em território moçambicano.
Esta produção arquitectónica desenvolve-se ao longo de uma década... Os projectos inserem-se no Estilo Internacional, reflectindo soluções na adaptação dos seus princípios às especificidades das regiões tropicais. Correspondem à afirmação generalizada de uma linguagem moderna nos edifícios públicos coloniais que se consolida com o final da década de 1950, prolongando-se até às independências africanas. Entre a geração que escolhe África, formada na transição da década de 1940 para 1950, como é o caso de Carlota Quintanilha, Le Corbusier, a arquitectura da América Latina e alguns arquitectos, como Richard Neutra, mantêm-se como referências, distanciando-se assim da cultura revisionista que emerge na, então, Metrópole.
Em 1966, quando Matos Veloso está novamente em Maputo, iniciando uma colaboração com Tinoco que culmina na criação do atelier A121 em 1974 (integrando também o arquitecto Octávio Rego Costa), e continuada mais tarde em Lisboa, com Maurício Vasconcelos, Carlota Quintanilha está em processo de afastamento do marido, desenvolvendo projectos com outros colegas. É possível que as obras identificadas no seu currículo como exclusivamente da sua autoria, tenham sido desenvolvidas entre este período e 1972, ano em que se encontra já em Lisboa. Carlota Quintanilha aponta, então, o Instituto de Investigação Agronómica de Moçambique (IIAM), para o qual desenvolve o estudo urbanístico e assina as adaptações, ampliações e alterações dos edifícios existentes; a criação de uma Casa-Tipo também para a Moçambique; o Sindicato Nacional dos Empregados do Comércio e Indústria (SNECI) e uma estância de repouso na Namaacha. Menciona, ainda que genéricamente, obras para particulares.
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O citado livro "João José Tinoco - Arquitecturas em África " de António Matos Veloso (colega de Tinoco), José Manuel Fernandes e Maria de Lurdes Janeiro está à venda pelo menos na Internet e mostra os projectos notórios de Tinoco espalhados por Moçambique. É dele que vem esta foto mal digitalizada:
Grupo de arquitectos formados no Porto, Portugal
trabalhando em Moçambique frente à Camara Municipal de Lourenço Marques

J. J. Tinoco e Maria Carlota Quintanilha são o par destacado. O casal veio para Moçambique em 1956 e Tinoco saiu penso que em 1975 e faleceu em Portugal em 1982. A Arq. Quintanilha saíu em 1972 e penso ser ainda viva à data desta escrita.

Comentários

Maria Janeiro disse…
Sim, são a Carlota Qunitanilha e o JJ Tinoco. Na extrema direita da fotografia, o António Quadros e, atrás dele, a Clara Quadros.
Rogério Gens disse…
Cara leitora: Informação introduzida sobre o par em foco. Obrigado.