A visita do Príncipe Real e o Batuque Indígena - primeiros elementos (1/6)

Um dos acontecimentos marcantes da visita do Príncipe Real a Lourenço Marques (LM) em 1907 foi o chamado Batuque Indígena em que cerca de 18 000 senhores africanos participaram num festival musical gigantesco em honra do ilustre visitante e para a qual foi preparada uma impressionante Tribuna de Honra (TH). 
Temos várias imagens que foram publicadas nas revistas portuguesas da época (Ilustração Portuguesas e Brasil-Portugal, disponibilizadas pela Hemeroteca de Lisboa) porque óbviamente tinham grande interesse informativo. Do acontecimento foram até feitos postais de correio que aparecem à venda no delcampe.net e noutros sites comerciais e de que reproduzo aqui amostras também.
O HoM está particularmente interessado em saber onde se desenrolou o batuque pois isso não foi indicado nas reportagens. Há pelo menos um estudo sobre os aspectos organizativos e logísticos do Batuque que diz que houve participantes que ficaram em Lourenço Marques por alguns dias e que acamparam na zonas das antigas obras do porto e que ao saírem da cerimónia também andaram pelo lado ocidental = poente da cidade e que houve um problema relacionado com um depósito de madeiras o que me fez pensar nas estâncias de madeiras também por essa zona. Pela falta de espaço para este festival no resto da urbe conhecida em 1907, por ter toda a aparência de ser em zona drenada do antigo pântano, pela encosta ao fundo e pelas construções visíveis nas fotos e tomando em conta esse estudo, foi para essa zona de expansão do porto e dos caminhos de ferro a oeste = poente da Baixa da cidade que me orientei. E sobre isso os meus "achamentos" (descobertas é se ninguém o soubesse antes e não tenho a certeza disso) são muito interessantes mas ficam principalmente para a próxima mensagem pois nesta teremos só a matéria prima e primeiras ideas.

FOTO 1
O batuque decorrendo num terreiro frente à Tribuna de Honra (TH)
FOTO 2
O Príncipe Real, as altas instâncias civis e militares e a comitiva 
descendo pelas traseiras da TH (aqui dou largas à minha criatividade...)
FOTO 3
Os senhores africanos mantendo a fila depois de terem desfilado 
frente à TH colocada ao fundo do terreiro.
Nas FOTO 3 vê-se construções pré-existentes por trás e ao lado da TH que pelo tamanho e densidade parecem pertencer ao porto e/ou caminho de ferro. Ao fundo vê-se balizas do porto talvez à espera de colocação definitiva (ver FOTOS 2 e 3). Mas em geral a foto indica que estaremos no lado ocidental da cidade onde tinha sido pântano até cerca de 10 ou 15 anos e que a Baixa da cidade, o porto e a estação dos caminhos de ferro estarão para a esquerda e por trás da TH.

Um postal de correio e duas imagens da Ilustração Portuguesa dão-nos uma vista panorâmica da zona da terra firme próxima do terreiro do batuque, quer dizer com a TH pelas costas ou lados. Começamos com a vista mais para a esquerda do terreiro do batuque em relação ao interior das terras de que a legenda original era "esperando para começar o batuque"..  


FOTO 4
Em primeiro plano o terreiro do batuque plano e com pouca vegetação
e para o fundo o interior das terras mais ondulado e com vegetação nativa.
Vê-se na FOTO 4 à esquerda o que deve ter sido um dos caminhos de acesso à cerimónia cruzando a encosta/barreira para uma zona mais alta. À direita vê-se o que parece ser um muro extenso passando junto a uma casa. Por aí termina o terreno com maioria de árvores que vem da esquerda e começa um terreno mais construído e com palmeiras.
Se se confirmar a hipótese de estarmos no lado ocidental = poente da cidade onde tinha sido pântano, a FOTO 4 seria pois mais ou menos em direcção encosta da baixa para a parte alta a norte da cidade. Mas sendo fora da ilha inicial (que terminava a nível da actual estação dos Caminhos de Ferro ou Av. Guerra Popular) teriamos um grande espaço onde poderia ser, passando pela zona do Ferroviário/Av. Luthuli, pela actual zona de actividades da Baixa/Alto Maé B (primeiro e depoise que no extremo poderia ir até digamos ao cais das estâncias por baixo da barreira da Malanga.
Embora a maior distância do que na FOTO 4, vemos na FOTO 5 também uma encosta com árvores à esquerda e à direita o início duma zona com construções e palmeiras. No entanto não consigo identificar exactamente nas duas fotos os mesmos muros e casas dessa zona construída.

FOTO 5 
De costas para a TH e de frente para a zona alta
músicos no terreiro tocando marimbas para o batuque.
Verde: encosta com árvores e sem construções
Castanho: encosta murada com construções e palmeiras
Agora, na FOTO 6 vemos essa encosta mais para a direita do que viamos na FOTO 5 e depois a sua continuação, o que seria segundo penso para leste = nascente = mais junto do centro da cidade.

FOTO 6
Revista/desfile dos participantes no batuque
Castanho: à esquerda a zona marcada na FOTO 5 à direita
Laranja: zona da encosta que não se tinha visto nas fotos anteriores
A zona laranja da FOTO 6 tem um muro de grandes dimensões que tal como o que delimitava à esquerda a zona castanha mostra um declive pronunciado para a zona baixa. Podemos então daqui concluir, dentro da hipótese que estamos a analisar, que ao fundo das três últimas fotos se vê a encosta, aí ainda quase no estado natural, que começa na Baixa digamos na actual Av. Fernão de Magalhães e que vai subindo incluindo a Av. Josina, antiga 5 de Outubro que tem já alguma elevação e continuando para norte = cima ou seja para a Av. Min, antiga Andrade Corvo, etc. 

Isso em termos de avenidas na encosta paralelas ao estuário porque em termos de localização no sentido este - oeste até aqui continuamos sem saber o que eram e onde estavam as construções que se vêm nas FOTOS 4, 5 e 6, conhecimento a partir do qual saber-se-á onde foi o terreiro do batuque. Acho que estas fotos têm uma solução que apresentarei na próxima mensagem.

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