Edifício da Câmara Municipal - interior (4/8)

Prosseguindo o tema do edifício da Câmara de Lourenço Marques actual Conselho Municipal de Maputo, um texto do trabalho do Arq. Renga Ferreira, OBRAS PÚBLICAS EM MOÇAMBIQUE, de quem também uso três fotos: 

Nos interiores, com igual desenho clássico de aparência austera, distribuem-se as várias salas e gabinetes ao longo das fachadas e desenham-se longos corredores de circulação no interior, organizados em torno de um saguão central (que recolhe os corpos de escadas) e de dois laterais, que transportam a ventilação e iluminação natural a todos os espaços.  

A luxuosidade do edifício é enfatizada nos registos da época, que destacam a monumentalidade arquitectónica e a riqueza dos seus acabamentos, mobiliário, e espólio artístico.

Nos interiores destacam-se os pavimentos, escadarias, soleiras, peitoris, rodapés e bases de pilastras em mármores nacionais (brancos, rosa e brancos raiados de Estremoz e Vila Viçosa, pretos de Mem Martins, pretos raiados e cinzentos de Vila Viçosa), pavimentos e caixilharias em madeira de chanfuta e mecruze, lambris trabalhados em madeira de jambir e umbila, portões em ferro fundido com acabamentos em ouro velho. O mobiliário e outros elementos interiores desenhados pelo próprio Arq. Carlos Santos, inclui lustres em cristal com acabamentos em bronze e ouro (fabricados em Londres), móveis em madeira de mogno e pau-santo, com talha dourada a ouro fino brunido e patinado (executado no Porto) e vitrais marchetados polícromos (executados em Lisboa).

Átrio de entrada e escadaria para o primeiro andar com vitral de caravelas

Átrio de entrada, com a escadaria para o primeiro andar à esquerda 
e as portas para o exterior à direita (ver os penúltimos portões)

Os pormenores adicionais seguintes são do livro de Alfredo Pereira de Lima (APL) "O Palácio Municipal de Lourenço Marques": "A escadaria de honra é em mármore branco de Estremoz, de preciosa translucidez. O vitral da caravela foi executado pelo vitralista Leone, de Lisboa, sob desenho do Arq. Carlos Santos. Os três portões de ferro à entrada têm 5.72 m de altura. Os móveis e as iluminações foram desenhados pelo Arq. Carlos Santos. O mobiliário de estilo foi fornecido pela firma Venâncio Nascimento & Filhos, do Porto."

Salão Nobre da Câmara - antes (com retratos de reis de Portugal) e agora

O salão nobre era o espaço mais majestoso da cidade e por isso utilizado para cerimónias oficiais, sessões solenes, congressos internacionais, etc. Temos duas fotos desse tipo de acontecimento, à esquerda um congresso em 1952 e à direita uma sessão comemorativa política em 1949.

Vista do Salão Nobre em direcções opostas.
Ao fundo há salas mais pequenas que podem ser fechadas.

Voltando de novo às informações de APL: "Os lustres foram fabricados pela firma "British General Electrical Co" de Londres e o principal a meio do salão nobre tem uma altura total de 4,80 metros. As tapeçarias e os mármores vieram de Portugal." 

Escadaria dupla depois do patamar do vitral (primeiras fotos)
com acesso ao piso nobre do "Palácio" - do livro de APL

Vista do espaço interior: foto Renga Faria

O edifício albergava inicialmente: 

cave - Arquivo Geral, Laboratórios Fotográficos, Secção de Compras, Serviços da Polícia Municipal; 

piso térreo - Secção Cultural e de Propaganda, Serviços de Finanças, 4ª Repartição da Direcção dos Serviços de Urbanização e Obras, Biblioteca Municipal, Delegacia de Saúde; 1º andar - Galeria de Exposição Permanente de Arte, Direcção dos Serviços Centrais, Salão Nobre, Sala de Conferências, Gabinete da Presidência, Sala dos Vereadores; 

2º andar - várias dependências da Direcção dos serviços de Urbanização e Obras, Gabinete de Urbanização. 

Em conclusão, estas imagens darão uma pálida idea (por exemplo nelas não se vê o mobiliário, objectos de arte, tapecarias, reposteiros, etc) dos meios aplicados pelos poderes públicos na construção deste edifício. O objectivo foi fazer dele uma marca e um símbolo da cidade que nessa altura da segunda grande guerra e anos seguintes atravessava uma fase de prosperidade.