Fortaleza - mais sobre a construção e o museu histórico (6/8)

Vamos continuar a série sobre a fortaleza de Maputo de que tinhamos já falado do pátio interior aqui.. Veremos as casernas e principalmente o museu que albergavam no passado. Actualmente a fortaleza é o museu militar de relíquias do tempo colonial em Moçambique e suponho que parte do que aqui se vê continue exposto.  
Completarei as ideias principais sobre a construção da fortaleza e a sua reconstituição em meados do século XX (20) segundo o relatório preparado em 1945 pelo Arq. Joaquim Santiago Areal (e) Silva. O mais relacionado com estas imagens é que primeiro as casernas e dependências eram encostadas à muralhas no interior mas em 1864 construíram-se armazéns exteriores a oeste. Depois de 1866 construiram-se dependências do lado sul mas cerca de 1900 essas construções tinham sido demolidas. As casernas no interior não deviam ser difíceis de reconstruir porque eram construções simples e onde não houvesse paredes interiores haveria as fundações originais. A cobertura devia ter sido de terraço com argamassa gordurosa assente em barrotes pousados de um lado na muralha e do outro na parede voltada à praça de armas, e em altura só podiam ir um pouco acima dos caminhos da muralha. 
Aqui o interior das casernas reconstituidas vendo-se duas salas onde esteve instalado o "Museu Histórico de Moçambique" criado em 1955.
1968: Ao fundo está a sala dos "canhões" que se vê melhor na foto de baixo
1955: Sala dos "canhões"
1968: sala dos "bustos". Aqui vê-se o telhado presumívelmente similar ao original.
1955: suponho que mesma sala mas vista em sentido oposto e com alterações
1955: Capela com duas imagens femininas, uma deles em altar

Mais informação do relatório do Arq. Areal (e) Silva é que a fortaleza podia ter estrutura simples dada a pequena guarnição e natureza das forças em confronto, não dispondo os atacantes por terra de artilharia nem táctica de ataque a fortes. Defesas exteriores deviam ter sido trincheiras em terra dado o pequeno número de soldados. Por dentro da porta devia haver uma grade metálica que se deixava cair ou se corria do interior. O paiol, contráriamente ao usual, não tinha cobertura de pedra. Originalmente haveria casa da guarda, calabouço, botica (farmácia) mas como delas não havia vestígios teria de se procurar a localização nos relatórios da épocas. De capela não havia referência mas como vemos em cima acabou por aparecer na reconstituição.
Recordamos a fortaleza, mais ou menos como o Arq. a deve ter encontrado ao preparar o pré-projecto, cerca de 1945. Esta foto é um pormenor da que vimos aqui e na qual mais para o fundo aparecia o prédio Cardiga em construção:
Laranja: baluarte leste = nascente, a parte de cima original parecia ter desabado
Castanho claro: muralha leste devia estar a servir de parede exterior 
para a caserna respectiva.
Rosa: baluarte oeste = poente, em bom estado
Amarelo: Muralha da face norte, em bom estado
 mas com caminho interrompido entre os baluartes.
Roxo: muralha face 
oeste = poente, estava a servir de parede exterior 
para uma antiga caserna e em mau estado.
Vermelho: 
muralha face sul, pouco acima do nível da parada 

estando a maior parte da construção sob os dois metros de aterro ou nos alicerces.

Tendo em conta o estado arruinado, antes de se ter encarregado o arquitecto da sua requalificação, as autoridades chegaram a considerar a demolição da fortaleza mas finalmente deve ter-se tido em conta que o estudo/relatório preliminar foi encorajante e que se poderia manter o que afinal era a mais antiga ligação ao passado da cidade.
O SIPA tem um texto muito extenso escrito em "arquitecturês" na variante militar e com várias fotos interessantes. Inclui uma longa cronologia em que a parte mais recente parece contraditória - 1946, cerca - no contexto das celebrações dos Centenários, procedeu-se à reconstrução do forte sobre os alicerces do primitivo, com projeto do arquiteto .. Pancho Guedes...).
Pondo de lado a questão do que existia ou não antes dos trabalhos porque isso vê-se na foto de cima e se foi uma reconstrução ou reconstituição, em 1946 Pancho Guedes (PG) com 21 anos de idade era estudante do segundo ano de arquitectura na África do Sul e só em 1953 obteve a equivalência do curso para Portugal para poder assinar projectos. Isso põe de lado a datação do SIPA (mesmo com o "cerca") e atribuição do SIPA. 
Sabemos pelo Documentário Trimestral que o Museu Histórico foi inaugurado em 1955 e que a fortaleza (digamos as muralhas) o tinha sido alguns anos antes e pelas fotos viu-se que terá sido mesmo ou no final dos anos 40 ou depois. Nas listas de PG, embora sem data aparece um trabalho na fortaleza que deve ser a razão para a confusão do SIPA. Embora haja pouca informação concreta, parece que o autor do projecto principal da fortaleza foi quem tinha feito o pré-projecto ou seja o Arq. Areal (e) Silva dos Monumentos Nacionais de Portugal e foi ele também que acompanhou a sua execução. Pelas datas de cima acho então que o envolvimento mais natural de PG na fortaleza terá sido fazer trabalhos complementares como a adaptação das casernas para o Museu, desenhar os seus expositores, etc, o que ele até talvez pudesse ter feito antes de ter a equivalência em 1953, mas isto é só uma hipótese.

Comentários