Construção do Cais Gorjão (II): método da estrutura de betão armado b.

Tinhamos falado nesta mensagem sobre um dos métodos de construção da ponte-cais de Lourenço Marques (LM), actual Maputo no primeiro quartel do século XX (20) a partir do que podiamos, como leigos na matéria, observar nas fotos que chegaram até nós. 
Entretanto lendo principalmente o artigo do Eng. Pinto Teixeira já citado pudemos completar e corrigir essa mensagem. Agora com novas fotos que apresentamos aqui, ficamos com melhor ideia do assunto e parece confirmar-se que o método utisado para a quase totalidade da ponte-cais foi o do bate-estaca de gravidade: uma grua deixa cair um martelo com o que se vai enterrando no solo uma estaca construída em betão armado pré-fabricado. O martelo era içado por um mecanismo inicialmente movodo a vapor.
Aparecem agora imagens das estacas que vão ser usadas pelo bate-estacas, o que não tinhamos visto antes e mesmo à posteriori continuamos a não conseguir ver nas mensagens anteriores (primeira e segunda). Mas sabemos agora que de 1902 até cerca de 1907 foram usadas únicamente estacas de madeira e que a partir daí se foi substituindo essas e implantando as de betão.


FOTO 1
Prolongamento da ponte-cais Gorjão em 1916 
(veremos que do fundo da foto para o lado de cá = leste)

A foto foi publicada em 1916 mas mostra a primeira doca de que vimos fotos de perspectiva semelhante neste artigo. A grande diferença é que nesta foto a ponte de passageiros de madeira que fechava essa doca a leste e a sul e que aparece à esquerda estava já sem a plataforma superior. Tendo em atenção a data parece-me então que se estava a começar a fechar a abertura dessa primeira doca para o lado do estuário = para a esquerda. Para isso estava o bate-estacas ao fundo que iria prolongar a ponte-cais Gorjão para o lado de cá = leste = jusante no estuário. Relembro que a estrutura dessa ponte-cais tinha inicialmente sido em madeira mas tinha sido substituida pela actual de betão até 1914 por isso o prolongamento era em estacas de betão. 

Assim vê-se resguardada na primeira doca (ao centro-esquerda em primeiro plano da foto) uma barcaça com estacas em betão pré-fabricado com pontas afiadas certamente à espera de serem precisas para o bate-estacas que está ao fundo. Parece ver-se na vertical deste e mais ou menos a maio da altura uma saliência que será o martelo-pilão.
Bate-estaca de gravidade pilando a estaca verticalmente
A imagem seguinte é de 1913 e o motivo directo foi uma tempestade que causou estragos no porto de LM. Estamos então numa zona em que se constrói a ponte-cais e o interessante é ver empilhadas do lado esquerdo peças pré-fabricadas em betão.


FOTO 2
Estragos nas obras do porto em 1913
Não dá para ver se as peças são estacas ou se seriam travessas ou diagonais que se ligam às estacas verticais para reforçar a estrutura. Pelo comprimento parece-me que as mais próximas à esquerda não serão estacas, talvez essas sejam as que se vêm para o fundo deste cais. Estas peças estava a ser usadas ou para a ampliação da ponte cais ou para a substituição da sua parte inicial entre a Praça 7 de Março e a estação de caminhos de ferro que tinha sido construída em madeira entre 1902 e cerca de 1907.

As imagens seguintes são da construção por volta dos anos 40 de um cais privativo para uma grande indústria na zona de Lisboa em Portugal. Permitem visualizar talvez outros passos do método seguido em LM ou suas variantes:


FOTOS 3
Amostra digital de fotos OLDTIMES - DELCAMPE.NET com a devida vénia
À esquerda, a grua está a pegar numa estaca pré fabricada. Talvez a vá posicionar para depois um bate estacas a vir martelar. À direita compreende-se que estas gruas e bate-estacas tinham de funcionar em batelões e que o cais se ia construíndo de terra para a água. Neste caso na foto da direita a grua parece estar a trazer um tubo que depois de enterrado na vertical será enchido com betão por cima (por gravidade). Por isso neste cais em Lisboa deve-se ter combinado estacas pré-fabricadas com outras que foram betonadas no sítio (ver na mensagem anterior o esquema com os dois métodos). Em Lourenço Marques parece que só se utilisou o primeiro desses métodos.

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