Missão Suíça de Lourenço Marques - fotos junto à igreja actual, o internato e a posição da igreja em África

Continuando a usar fotos históricas da antiga Missão Suíça (agora chamada na origem Echange et Missions) que são disponibilizadas no site da Universidade Southern California (USC). 
As duas primeiras mostram a entrada da igreja com missionários e famílias em traje de gala para a altura da inauguração:
Grupo em Maio de 1902
Para a foto de baixo que mostra nove homens (na de cima havia dez) a legenda tem os nomes de alguns dos missionários: May 1902 - debout, premier depuis la droite, Paul Berthoud; au centre; David Paul Lenoir; assis, deuxième depuis la gauche, Samuel Bovet. Noutro lado vi que os residentes na Missão nos primeiros anos eram as famílias de Berthoud, Junod e a Mademoiselle Teusher pelo que houve para a inauguração muitas visitas certamente vindas das primeiras missões na África do Sul ou das que entretanto se tivessem aberto em Moçambique. 
O dirigente Paul Berthoud era o senhor mais idoso com grandes barbas esbranquiçadas. Não é mencionado na legenda o Dr. Garin de que vimos foto na clínica e será dificil reconhecê-lo nestas duas fotos pois quase todos os homens tinham barbicha ou pera como ele. Também não é mencionado o Dr. Henri Junod que ficou célebre por ter escrito sobre história e etnografia/etnologia dos povos bantos especialmente os Rongas de Lourenço Marques (e que era também colecionador de borboletas).
Os homens do grupo de missionários em Maio de 1902
Passamos dos missionários para os crentes e temos o que me parece ser um casamento conjunto na igreja na primeira década do século XX (20): 
Saída da igreja depois do casamento
A foto seguinte é doutra cerimónia de casamento e vê-se a igreja e a traseira da casa de missionários pequena (falada nas FOTOS 5 aqui) que aparece naturalmente à direita dela e no terreno um pouco mais para baixo:
Comentadora social do HoM: "O noivo da frente era muito simpático. 
And the children were sooo cuuute!!"
Ver aqui provávelmente um destes pares de noivos em viagem.
Agora duas fotos relativas à actividade educativa da Missão. Do internato feminino já tinhamos falado aqui e posso agora adiantar que a citada antiga aluna Natália Sumbane depois ficou ao serviço da igreja mas não sei se como funcionária se como religiosa.

Raparigas do internato na Av. Pinheiro Chagas (Khovo) fotografadas pela professora
Aulas de costura em 1932 em Lourenço Marques mas não conheço o edifício
Vendo tudo isto e lendo de través os documentos da igreja, vi que ela tenta dar resposta à minha questão seguinte: se a igreja era pela autonomia e valorização africana, não deveria ter ela mesma considerado a sua presença em África uma forma de colonização da cultura local? Isso implicaria que ela se tivesse retirado de África logo que tivesse tido consciência disso, quer dizer cedo no século XX pois no século XIX aquando do estabelecimento das primeiras missões ninguém pensava ainda nesses termos.
Em relação a isso é importante dizer que nos anos 60 a Missão Suíça iniciou aquilo a que chamou o "desmame" formando-se igrejas presbiterianas locais emancipadas da igreja fundadora, o que a meu ver implica o reconhecimento do "pecado original" da sua ida para África. Mas quanto a esse "pecado original" a resposta da igreja parece ser que os africanos tiveram a liberdade de: 
i. aderir e participar na igreja e com isso ocidentalizarem-se de certo modo como óbviamente observamos em cima; 
ii. rejeitar a igreja e permanecer totalmente fiéis às suas tradições ancestrais.
Em princípio a justificação aceita-se porque como esta igreja não era do Estado nem a sua favorita, a adesão a si era livre e potencialmente até mais convicta do que às igrejas/cultos mais tradicionais e poderosos que eram a católica e o islão. 

No entanto como temos visto a igreja apareceu em África com missionários seguindo um modo de vida totalmente ocidental e construindo edifícios totalmente desligados das tradições locais, pelo que se fica sem saber se a adesão de qualquer indivíduo ou grupo africano à igreja foi de facto pela sua doutrina ou se foi motivada pela curiosidade/atracção por uma civilização diferente da africana tradicional. 

Por outro lado na maior parte dos locais onde a Missão Suíça instalou missões não havia nenhuma outra igreja nem o Estado português tinha escolas ou centros de saúde, por isso a liberdade de escolha das populações africanas era limitada. Se quisessem ter pelo menos as vantagens médicas, educativas e materiais da civilização ocidental tinham de pelo menos ter contacto com a igreja (que dava grande ênfase aos dois primeiros aspectos), por isso a escolha podia ser mais de ordem práctica do que religiosa e seria equivalente a uma sujeição à colonização. O que a igreja poderá argumentar em sua defesa é que embora tenha sido colonizadora nunca foi colonialista no sentido de ter explorado as populações ou os recursos locais, pelo menos mais do que o necessário para a sua própria sustentabilidade (ver projecto de Antioquia ou Antioka, concelho de Magude com Pancho Guedes). 
Por isso que a história faça justiça e isto tudo deve ser assunto para antropologistas, teólogos, sociólogos e economistas, não para simples Curiosos ...

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