Abastecimento de água do Umbeluzi a Lourenço Marques - textos, fotos e mapa

Tinha ficado em aberto no HoM, mesmo tendo-o abordado aquio tema do abastecimento de água à cidade de Lourenço Marques (LM), actual Maputo. Segundo os textos reproduzidos em baixo, antes de haver canalização doméstica, o sistema era baseado em recolha particular de águas das chuvas (ver depósito de água na missão suíça), em fontes públicas que começaram por ser três e às quais os residentes enviavam os empregados buscar o "precioso liquido" e suponho em alguns poços e nascentes nos terrenos propícios. 
Em baixo podemos ver um texto da tese de doutoramento de Lisandra Mendonça sobre quais eram as fontes públicas e como eram alimentadas até 1906. Básicamente recolhia-se com um dreno a água que jorrava de nascentes na barreira da Maxaquene e Alto-Maé e depois a partir duma estação de bombagem na zona ocidental da baixa elevava-se para dois reservatórios, um no alto da Maxaquene que servia as fontes no plateau da cidade e outro junto ao paiol que servia as fontes na Baixa. Esta informação pode não ser completa mas dá uma ideia de como funcionava o sistema. 
O senhor Zamparoni, apesar da sua visão sectária, tem na sua obra Molungos, etc dados interessantes sobre o início e a fase posterior do sistema das águas em LM: As preocupações com a salubridade não se limitaram aos aterros e à abertura e alargamento de ruas, mas fez com que se concedesse, em 1895, e por dez anos, à E. F. Tissot o monopólio no fornecimento de água potável para as residências, repartições públicas e para navios surtos no porto. Antes de findo, o contrato foi trespassado à Delagoa Bay Development Corporation (DBDC) que, sob a promessa de dotar a cidade de água tratada obtida do Rio Umbeluzi, a 29 km de distância, conseguiu novo monopólio por cinquenta anos. .. O fornecimento de água potável era importante porque a água de subsolo da cidade baixa era salobra ..
texto seguinte com alguns acrescentos próprios, vem do blog mo4ambique terra queimada e cobre a fase a seguir a 1906: a DBDC fazia também o abastecimento de água captada no rio Umbelúzi de onde era trazida em tubos de aço numa extensão de dezoito milhas. Dizia o importante jornal da época The Lourenço Marques Guardian que a estação de captação e tratamento das águas no Umbelúzi, tubos, sistemas de filtros, distribuição e instalações era tudo da melhor qualidade e a obra realizara-se dentro dos mais modernos princípios da técnica. A estação fora preparada para um fornecimento diário de 2 500 000 galões de água. 
Começamos as imagens deste artigo com uma foto bucólica do Rio Umbeluzi. 
Rio Umbeluzi com muita água perto de Lourenço Marques
Noto que um dos cuidados que terá havido para escolher o ponto de captação de água para a cidade num rio das redondezas foi, para além do seu caudal e pureza, que ele fosse acima da influência das marés. O pouco declive da zona onde havia os rios Tembe, Matola e Umbeluzi em relação ao estuário explicará assim porque se foi tão longe fazer a captação.
A foto de baixo parece-me ser a única onde se poderá ver a conduta do abastecimento da água do Umbeluzi à cidade, como resultado de aluimento causado por grandes chuvadas em 1936/37.
Sob o pavimento da estrada LM - Umbelúzi o que suponho seja a conduta de água.
Relacionado com a estrada LM - Umbelúzi, nesta mensagem viu-se que foi dela a primeira ponte rodoviária a atravessar o Rio Matola na direcção este-oeste. Dado haver linha férrea para o Umbeluzi e o tráfego automóvel na altura ser pouco, penso que uma das razões para se ter construido a ponte terá sido para suportar a conduta que se vê em cima. Nas fotos antigas não se vê mas os tubos podiam estar sob o tabuleiro da ponte da Matola.
Mais alguma informação relevante. Neste mapa de 1958 vê-se as estações de bombagem dos SMAE no rio. Os SMAE eram os Serviços Municipalizados de Água e Electricidade que foram formados quando as concessões à DBDC expiraram ou foram encurtadas, o que podemos ver aqui aconteceu até 1958.
Azul ultramarino: duas estações de bombagem dos SMAE no rio Umbeluzi
Azul escuro: presumo que seja a canalização entre as estações
e depois para a cidade e que seguia com a estrada como se viu na foto de cima
Amarelo: estrada Goba-Boane-Umbeluzi-Matola-LM, cidade
que fica para o alto e à direita do mapa
Preto: linha férrea entre LM e Goba, estação terminal que fica para baixo de Boane
Verde: estação agrícola do Umbeluzi
Cinzento: Boane, que não fazia ideia ser tão perto do Umbeluzi.
Como vimos inicialmente a distribuição de água na cidade era por fontes públicas. O texto seguinte reportava a inauguração da Fonte Castilho na Baixa em 1895, de que tinha já falado aqui 
A Fonte Castilho que foi a maior construção pública da cidade no seu tempo esteve inicialmente perto donde é a esquina do prédio Pott/Avenida mas em 1890 foi mudada para a actual Av. Manganhela. Recebia então água dum reservatório colocado a nível mais elevado e continuo a não conheçer imagens dela.
Segue-se uma foto que anotei do site Europeana como sendo em LM. Não há mais elementos escritos, não dá para descobrir o local e a construção também não parece ser nada de notável.

Fonte num declive, passando mais acima
 uma rua com casas do lado superior. Onde?
Pode-se ainda ver aqui dois chafarizes na zona do Alto Maé cerca dos anos 30.
E finalmente o texto quase completo da tese de doutoramento de Lisandra Mendonça sobre a distribuição de água em LM: "No final de 1892, o engenheiro Almeida Soeiro, nomeado para a expedição do Conselheiro Mariano de Carvalho, apresentava o “Estudo do saneamento da cidade de Lourenço Marques”, ocupando-se igualmente dos anteprojetos para o “abastecimento de águas, da rede de esgotos e do saneamento dos terrenos da baixa do Maé”. Até essa altura, a população de Lourenço Marques, então de 2.285 almas, abastecia-se de água das chuvas, que recolhia em tanques de ferro e em cisternas, e das nascentes que brotavam na encosta onde assentava a Alta da cidade. Lourenço Marques contava, por essa altura, apenas com as fontes do Jardim (dentro do Jardim da Sociedade de Arboricultura e Floricultura), do Castilho (na esquina da Av. Aguiar com a Av. D. Carlos, junto ao terreno aforado a Gerard Pott), da Abegoaria e do Quartel (NB HoM: o do Alto Maé), as duas últimas abertas em 1891 e  insuficientes para as exigências do consumo. 
A aguada dos navios era feita na Fonte da Ponta Vermelha (na enseada na Maxaquene). ... A captação da água que alimentava as fontes públicas fazia-se por um coletor dreno de cimento, colocado no sopé da encosta que separava a Baixa da Alta da cidade. A água era canalizada para um tanque “colocado por baixo da encosta do quartel da Polícia, onde est[ava] a instalação para a sua elevação para dois reservatórios colocados, um no Alto da Maxaquene, à cota 62, e outro próximo do Paiol, à cota 32.
De modo a facilitar o abastecimento de água (dadas as diferenças consideráveis de cota do terreno), a cidade foi dividida primeiramente em duas zonas. A  Alta sobre a encosta, a norte da Avenida D. Manuel (atual Rua da Rádio e Av. Josina), era abastecida pelo reservatório da Maxaquene, e a Baixa, a sul da mesma avenida, pelo reservatório do Paiol."
(NB HoM: no mapa da DBDC de 1906 não havia nada marcado perto do paiol relacionado com águas. As instalações da Ponta Vermellha eram em cima e em baixo da barreira na direcção da actual Av. Nduda, para oeste = poente da actual escola secundária. Falámos ainda aqui sobre um depósito da DBDC na Ponta Vermelha). 
"No início do século XX (ca. 1906), o abastecimento de água potável, concessionado à DBDC, passou a utilizar “águas elevadas do rio Umbeluzi [...] conduzidas por uma tubagem de 29.420 metros de comprimento para três reservatórios de distribuição”. A canalização atravessava a cidade longitudinalmente até à Ponta Vermelha, abastecendo os reservatórios que, por sua vez, serviam as fontes públicas." (NB HoM: o mapa da DBDC de 1906 mostra por exemplo um reservatório no Alto-Maé que devia ser o primeiro a receber a água).

Comentários