Caminho de ferro entre Lourenço Marques e Pretória - até ao Infulene e para a frente

Continuando a mensagem anterior aparece agora a primeira foto de Fowler da construção do caminho de ferro com menção ao vale do Infulene que era uma passagem difícil entre a vila de Lourenço Marques (LM) e a Machava. Para atravessar o vale e suponho que segundo Alfredo Pereira de Lima, a estrada de Lydenburgo construída entre 1871 e 1874 e utilizada por carretas dos boers (bures) puxadas a bois para transportes entre o Transvaal e LM, tinha aí requerido um aterro edificado com muros de suporte em alvenaria.
Penso que as primeiras duas fotos continuam a ser relativas aos trabalhos de construção civil que foram feitos pela equipa do Estado chefiada pelo major engenheiro António José de Araújo, ilustre engenheiro militar que fez o desenho de LM em retícula e que veio ser director da fiscalização nesta linha de caminho de ferro.  

FOTO 1
à esquerda: zona pantanosa do estuário com a praia
curvando para a esquerda para o Língamo
em frente: na zona baixa é o vale do Infulene

Legenda da FOTO 1: vista do terreno compreendido entre o ângulo 7 e o ângulo 8 junto à estrada dique do Infulene. 
Fala-se ai da estrada dique que seria a já referida de Lydenburgo, parece ver-se alguns caminhos mas não se vê na foto algo mais sólido como seria de esperar, pelo que não se sabe onde ela estaria exactamente. A referência aos ângulos 7 e 8 da linha mostra estarmos aqui já afastados do ângulo 1 onde se flectiu do dique e paredão construido no estuário para o interior e do ângulo 2 em que penso se voltou a flectir para alinhar de novo com o estuário a sul da barreira da Malanga, ângulos referidos na mensagem anterior (e ver bem esta zona em fotos aéreas).
Na FOTO 2 presumo que fosse o aterro feito para a travessia do vale do Infulene pela estrada. O aterro que foi feito para a linha férrea, pela legenda e pelo que chegou aos dias de hoje que fica a norte da estrada actual presumo que ficasse mais para a direita e que não tivesse sido ainda iniciada a sua construção mas não se sabe. À esquerda, lado do estuário ou sul, via-se uma vala de escoamento de água que deve ter feito parte dos trabalhos da estrada mas não se sabe bem..  

FOTO 2
Uma vala para escoamento à esquerda e a passagem elevada (estrada dique) 
para a linha férea sobre o vale pantanoso do Infulene

A legenda da foto diz: Estrada dique do Infuleme O terreno ao N. Onde passa o alinhamento 8-9. 
O referido alinhamento 8-9 é muito mais para a frente do que o alinhamento 1-2 que era mencionado na mensagem anterior. 
Como a posição da linha neste ponto não deve ter sido alterada desde 1886/87 podemos ver onde ela foi e está actualmente. Na FOTO 3 o vale do Infulene deverá ter ido do limite direito para o esquerdo mas nota-se agora muita construção nas suas bordas, ao longo da estrada e da via férrea. Há também uma extensa zona que parece estar a ser drenada para o lado do Língamo (canto inferior esquerdo = para sudoeste). 


FOTO 3 - Google Earth actual
Azul: ribeira Infulene ao centro do vale e desaguando no estuário para sul
Amarelo: linha original de combóio
Roxo: ramal de 1968 para o Estádio Salazar
Castanho:
local da antiga central da Sonefe à entrada a leste = nascente do vale
Laranja: estrada actual por onde deve ter sido a estrada de Lydenburg

Já dissemos que as curvas na linha devem ser pouco pronunciadas e um bom exemplo é a que ela faz onde passa por baixo da estrada (que foi construida sobre um viaduto) a seguir à antiga SONEFE antes de atravessar o vale e que pouco se nota na foto de cima. 
Nas fotos da mensagem anterior e até à FOTO 2 em cima não se via linha férrea nem a preparação imediatamente anterior. Isso surge nas duas fotos seguintes que serão duma fase mais adiantada dos trabalhos que terá sido a cargo do empreiteiro estrangeiro contratado por McMurdo e que começou a trabalhar na linha em Maio de 1887. Parece-me também que estes operários europeus não eram portugueses como seriam os da equipa do major Araújo:  

FOTOS 4 e 5
A ser colocadas travessas e estendidos os carris transportados pelo vagão.

A seguir ao que se vê nas FOTOS 4 e 5 ir-se-ia depositar o balasto de pedra sobre a linha e o aterro para compactar o conjunto.
Quanto a onde terminaram os trabalhos do major Araújo o site maputo100anos tem um texto que suponho seja baseado em Alfredo Pereira de Lima: As obras prosseguem normalmente por conta do Estado, ultrapassando já o vale do Infulene, quando a 1 de Março de 1887, numa assembléia geral convocada por McMurdo em Londres, a companhia (de McMurdo) deu-se por habilitada em tomar conta dos trabalhos de construção do caminho de ferro a que se comprometera, talvez percebendo que os Portugueses tinham também a capacidade de executar o projeto. Satisfazendo assim os desejos da companhia, prontamente se entrou em acerto de contas e a empresa tomou a seu exclusivo cargo as responsabilidades da construção.
Ora se o Major Araújo tinha começado os trabalhos em Junho de 1986 e se em Março de 1887 (parou em 17 de Maio de 1887) ainda estava pouco para lá do Infulene, quer dizer que teria feito uns 10 km de movimentos de terra (excavação e aterros) em 10-11 meses (seriam 8.5 km até à saída do vale). Parecia ter sido muito lento para mais faltando ainda mais de 70 km para os 82 km e restando 6 meses até ao fim do prazo que era até Dezembro de 1887. De facto McMurdo queixou-se mais tarde que o trabalho de Araújo foi lento e mal executado. Suponho então que o empreiteiro de McMurdo tivesse chegado com muito mais pessoal e maquinaria do que Araújo e mal ou bem fez os restantes 70 km de movimento de terras. construiu/montou as pontes, colocou as travessas e a linha nos 82 km e construiu ainda as estações nesses 6 meses (completou em 26 de Novembro de 1887). Pelo menos um prémio de produtividade mereceria.
Tema da linha continua em breve.

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