Caminho de ferro entre Lourenço Marques e Pretória - viagem a Ressano Garcia em 2006

Traduzo com a devida vénia uma reportagem de Yves Traynard, um antigo autor de guias de viagem,  sobre uma viagem que fez em 2006 de Maputo a Ressano Garcia nesta linha de combóio inuagurada em 1887 e que foi a primeira em Moçambique. 
"Claro que não é o Orient Express nem o Blue Train. É um combóio pobre num país pobre. A partida no entanto começa bem na esplêndida estação CFM de Maputo. Muito rápidamente descobrimos a parte de trás do cenário. As janelas não têm vidro, os assentos são de madeira e, depois de algumas paragens nos subúrbios ficamos apertados como o camarão no caril. Felizmente, os moçambicanos são pessoas muito simpáticas, tranquilas e extremamente pacientes. As vendedoras de amendoim e laranjas lutam pela passagem nos corredores sobreocupados por pessoas e bagagens. Em cada estação, fardos, madeira e provisões são carregados e descarregados; um pacote e as últimas novidades são dadas ao emissário de uma família que se imagina perdida no mato; compra-se tomates, três alfaces ... e partimos, devagar, gentilmente ... para percorrer em cerca de quatro horas os 100 km separando Maputo de Ressano Garcia.
Aqui não se viaja por prazer e esta linha não electrificada não tem nada de turístico. A quem se esquecer disso os controladores lembrar-lhe-ão. Proibição de fotografia. À descida do combóio somos admoestados pelo chefe da estação de Ressano Garcia, com cortesia, mas com a ameaça de confisco do aparelho fotográfico em caso de recorrência. Um pouco zangados, o meu guia Zacarias e eu decidimos voltar nos "chapas". Além disso, as paisagens de arbustos da mata tornam-se rápidamente monótonas com excepção das margens do rio Incomáti. Um detalhe que fala muito sobre o desengajamento do Estado moçambicano: a segurança dos passageiros é assegurada pelos guardas privados da empresa Alfa Segurança!
Ressano Garcia é uma cidade de que se procura o início mas só se encontra o fim. Uma estrada que atinge um portão, do lado de lá a África do Sul. É o destino das localidades que ficam na fronteira de uma terra cobiçada. As dezenas de locais de restauração de má qualidade da grande vila de Ressano Garcia são uma antecâmara de mil tráfegos".
Seguem-se parte das fotos de Yves Traynard com alguns comentários do HoM:
Secongene, provávelmente um apeadeiro ao Km 62
No plano para a linha do Eng. Machado e nas fotos de Manuel Romão Pereira de cerca de 1890 aparece uma ponte sobre a ribeira de Chicongene ao Km 61.8 que deve assim corresponder a este local. O km 62 seria entre a Moamba e Movene e não aparecia no horário de 1908 suponho porque ele dizia respeito a combóios mais directos sem paragem em apeadeiros. Uma estação de caminho de ferro tem um edifício e uma bilheteira, um apeadeiro teria no máximo um abrigo para os passageiros que teriam de pagar bilhete ao revisor quando entrassem no combóio. 
O que vemos nesta foto de cerca de 2006 é que apesar da explosão do transporte automóvel colectivo, semi-colectivo (chapas) e individual continuava a haver procura local para o combóio nestas regiões afastadas das estradas que a linha atravessa.
Olhando para o que esperava para ser transportado no combóío e para a paisagem ao fundo parece que na zona de Secongene se cortavam os últimos arbustos, já na derradeira fase de transformação de savana em deserto. É pena. É também pena constatar que a linha férrea não trouxe prosperidade nem desenvolvimento a estas zonas, ao contrário do que aconteceu em muitas regiões do globo. 
A longa cobra metálica em marcha
Combóio passando numa das pontes da linha
Numa estação numa zona seca e com raras árvores.
 A linha é simples e só nas estações se torna dupla.
Estação com paisagem diferente em zona de agricultura de subsistência
À direita um edifício em ruínas que devia ter pertencido à linha.
Provávelmente na Moamba, até porque se vê que não era o terminus da viagem.
Segundo o site trains-worldexpresses.com em 1976 ainda circulavam expressos entre Jo'burg e Maputo. Nos anos 80 tinha de haver transbordo entre combóios nacionais em Komatipoort. É costume dizer-se que quando dois países vizinhos entram em conflito a ligação de combóio entre eles é a que é cortada em último lugar. 

Express Johannesburg - Maputo (Lourenco Marques) 
Departure Johannesburg, August 18, 1976:
1Steam heating tenderSAR
73rd classSARJohannesburg - Komatipoort
12nd "non-whites"SARJohannesburg - Maputo
22nd classSARJohannesburg - Maputo
11st classSARJohannesburg - Maputo
1Buffet, no. 300SARJohannesburg - Maputo
11st classCFMJohannesburg - Maputo
11st classSARJohannesburg - Nelspruit
22nd classSARJohannesburg - Nelspruit
Traction: Two 6E1 (dc), at Pretoria replaced by two class 15CA (4-8-2), on CFM (Caminhos de Ferro do Mocambique) General Electric (U20C type).
Colors: 6E1 blue, steam locomotives black, CFM diesels red, SAR cars red/light-grey, CFM cars dark-red (on the Bulawayo - Maputo train there were also stainless CFM cars).

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