Continuamos aqui o primeiro artigo sobre a família Wandschneider baseando-nos na sua informação. Como vimos Theodor Wandschneider que era originário de Wismar no nordeste da Alemanha chegou a Lourenço Marques (LM), actual Maputo em Moçambique cerca de 1895. Foi essa a altura da inauguração do caminho de ferro para Pretória e por isso a cidade devia oferecer então boas oportunidades a pessoas empreendedoras.
A sua parente Ida juntou-se-lhe em 1901 em LM, casaram-se e tiveram cinco filhos. Viveram pelo menos até à primeira grande guerra em LM, durante a qual devido à nacionalidade alemã foram primeiro internados (ver aqui e aqui) e depois deportados para o Forte de Peniche em Portugal. Depois do fim da guerra em 1918 Theodor retomou a sua actividade em LM provávelmente como quadro superior da firma ZUID e nessa qualidade esteve em Angola durante a segunda guerra mundial. Nos anos 50 Theodor Wandschneider deixou África e faleceu em Lisboa em 1959.
A família Wandschneider fez-nos chegar nostálgicas fotos dos antepassados que residiram em Lourenço Marques:
A família Wandschneider fez-nos chegar nostálgicas fotos dos antepassados que residiram em Lourenço Marques:
FOTO 1
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| Ida e Theodor repousando no jardim na vivenda na Polana, Christinenhof |
A foto seguinte é dos Wandschneider em 1904 com os primeiros dois dos cinco filhos do casal, no estúdio dos conhecidos irmãos Lazarus:
FOTO 2
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| Familia Wandschneider. Ida, Lilly, Edgar e Theodor, em 1904 em Lourenço Marques |
Mais uma foto com o casal Wandschneider no exterior:
FOTO 3
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| Na praia, casal ao centro com suponho a pequena Lilly |
No que respeita às habitações da família uma delas foi chamada Villa Hoheluft (Altos Ares). Ao seu lado havia duas outras vivendas de tipo antigo, a Villa Hohenfelde (Campos Altos) e a Villa Uhlenhorst (uma zona em Hamburgo), tal como aparecem na FOTO 4.
FOTO 4
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| Três vivendas em LM com nomes alemães, a da família mais à esquerda/ao alto |
Principalmente devido ao pau com a bandeira, ao tipo de casa e às ligações germânicas que vimos em cima, a Villa Uhlenhorst mais à direita fez-me lembrar o Clube Alemão de que falámos anteriormente e de que vimos a foto mais recente no site delagoa bay
FOTO 5
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| Clube Alemão (German Club) - foto de 1899 a 1908 |
Tudo leva então a crer que a Villa Uhlenhorst, a mais à direita das três na FOTO 4, atendendo ao pau de bandeira e ao aspecto geral da construção e do local que seria o Clube Alemão existente em Lourenço Marques de menos de 1889 (?) a 1908.
O site delagoa bay presume que o primeiro Clube Alemão ficasse na av 24 de Julho um pouco para oeste da Rua Princesa Patrícia, isto é no mesmo local do seu edifício seguinte. No entanto nem as fotos do primeiro edifício do Clube nem a FOTO 4 me confortam nessa hipótese, por exemplo a FOTO 4 mostraria a avenida a subir para a esquerda do edificio enquanto na realidade nessa direcção e posição, para oeste da avenida, ela desce. Mas como é evidente a interpretação destas fotos é difícil sem mais dados adicionais e sem outras perspectivas desses locais.
Há uma foto dessa zona (Berea) onde aparece um pau de bandeira e por isso poderia estar aí o clube cerca de 1900:
FOTO 6
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| Vermelho: pau de Bandeira do Clube Alemão? Verde: Clube Alemão? |
Branco, Azul e Roxo: outras habitações na zona
Amarelo e Azul: primeiras vias abertas na zona
A partir destes elementos poderiamos aventar possibilidades para a localização da zona da "pequena Alemanha" de LM. Eu suspeito que o conjunto fosse na encosta da Maxaquene (zona chamada Berea pelos anglófonos do tempo - ver na FOTO 4) sendo a rua a "amarelo"da FOTO 6 e por isso a que passava em frente das 3 "villas" nas FOTOS 4 e 5 a actual Av. Allende, inicialmente estrada da Maxaquene e depois Princesa Patrícia. Ela estaria aí a descer da Av. 24 de Julho (para o fundo da FOTO 4) para a actual Av. Lumumba que seria a via a azul na FOTO 6. Pode-se ver essa aqui nos anos 50-60 na FOTO 3 mas ...
Note-se ainda na FOTO 1 que junto à vivenda dos Wandchneider na Polana, posterior à Villa Hohenfelde (Campos Altos) presumívelmente na Berea ou encosta da Maxaquene, se viam grandes depósitos para recolher a água das caleiras pois não havia ainda distribuição de água canalizada.
PS (setembro de 2023): Theodor (Theo) Wandschneider, bem reconhecivel pela FOTO 2 de cima, aparece numa foto de 1899 publicada no site delagoa bay e de origem não atribuída. Como se casou em 1901 nesse tempo e vivia ainda sem a companhia da sua futura esposa Ida.
No mesmo artigo aparece a foto duma casa antiga na Maxaquene, o que daqui me parece ter sido um "bairro alemão" de início e que à primeira vista não será nenhuma das da FOTO 4 embora seja na Maxaquene, a localização possível dessas. Aqui as fotos como terão sido sem a colorização recente:
FOTO 7
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| Theo Wandschneider à direita na Maxaquene em Julho de 1899 |
Ambos cavalheiros liam jornais de língua alemã. Sobre a sua origem, quer dizer a actualidade das notícias, recordo que o Tanganica era colónia alemã por isso isso havia um núclo alemão forte relativamente perto de LM onde poder-se-iam publicar jornais com notícias "frescas" chegadas via cabo submarino telegráfico (as ligações marítimas entre o Tanganica e LM devia ser frequentes e a viagem com paragens demoraria cerca de 1 semana).
Note-se ainda que 26 de Julho seria uma quarta feira, por isso em princípio dia pouco propicio a repousos e fotos de gente trabalhadora, e que outra possibilidade de leitura do algarismo seria um 4 pelo que seria 24 de Julho. Ora 24 de Julho, o da sentença arbtral do Marechal Mac Mahon, veio a ser o dia da cidade e por isso mais comemorativo, embora eu não saiba se já o seria em 1899.
No campo das especulações tendo em conta que Theo era sócio de Lueders, nome de resonância também alemã, será que o senhor que nos aparece à esquerda seria Lueders (ou Lüders?)? Pesquisa rápida do nomes em Delagoa Bay e LM não deu resultados para se poder validar a hipótese.
E eis a casa que surge na mesma publicação onde pelo menos à frente não se vê as portadas que se vê na de cima:
FOTO 8
Casa na Maxaquene, Lourenço Marques (Delagoa Bay)
Lembro que temos aqui uma casa na Av. Andrade Corvo com uma decoraçâo circular do tipo da da casa de cima mas não era a mesma, devia um desenho comum na época (aqui similar na Secretaria Geral do Governo)
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