A Revista Colonial (ligação à Biblioteca Nacional de Portugal) foi uma publicação mensal que cobriu entre os anos 10 e primeiros dos 20 do século passado principalmente os aspectos económicos e políticos do ultramar português.
Firmas da "metrópole" e da na altura "colónias" colocavam aí anúncios e este é muito descritivo é duma que não tinha ainda sido referida neste blog mas parecia ser importante. Do nome da firma passei para o proprietário para o qual se encontram dados interessantes.
Publicidade da firma Adriano Maia em 1913. |
No site macua há uma biografia muito extensa do proprietário da firma Adriano Maia de que não é indicada a origem. Básicamente diz que ele era de família de classe social elevada do Porto, tinha frequentado a Universidade e que veio para Moçambique em 1898. Foi primeiro funcionário público e o posto em Pretória na Curadoria de Indígenas Portugueses que veio a chefiar devia ser dos mais ambicionados por lidar com os fundos dos magaiças, uma das grandes fontes de receitas da altura. Entretanto em 1910 Adriano Maia deixa a função pública e passa a comerciante com bastante sucesso pelo que se vê das muitas marcas que já em 1913 lhe faziam confiança.
Depois foi tendo grande intervenção social e política particularmente durante numa grande crise monetária e financeira que houve em Moçambique em 1922 que foi uma época conturbada na relação com a África do Sul devido a ocasional divergência de interesses. O artigo no site macua menciona a baía de Kosi - também referida pela Revista Colonial desta época em artigos e nos mesmos termos - como sendo a ameaça da África do Sul para a construção dum porto alternativo a LM. Curiosamente vimos no HoM, na sua incursão além fronteiras acompanhando a missão de demarcação do Tenente Neuparth, que Kosi fica no Natal logo a sul da Ponta do Ouro (ver foto recente em baixo). Como até agora não há aí porto conclui-se que se tratava de bluff inglês/sul-africano e lá se terá encontrado um acordo depois com Portugal para se manter LM como o principal ponto de acesso ao interior do norte da África do Sul. Lê-se no artigo que Adriano Maia foi muito activo nesta discussões e um dos grandes interlocutores do Alto Comissário Brito Camacho. Adriano Maia teve um filho, o Dr. Mário Maia que lhe sucedeu nos negócios, mas também não encontro nada sobre ele.
Outra informação sobre Adriano Maia vem num livro sobre desporto em Moçambique que se refere a ele como dirigente do Desportivo em 1934. Neste tempo os dirigentes tinham de ser ricos e saiam do dirigismo dos clubes mais pobres do que entravam, mas para além do clubismo inato havia o apelo do estatuto e das ligações pessoais. Adriano Maia, à altura presidente da Associação dos Proprietários (no texto do site macua dizia que era da Câmara de Comércio, nao sei se era a mesma coisa), era também Presidente da Mesa da Assembleia Geral do clube (e foi substituido no ano seguinte por Paulino dos Santos Gil, um peso pesado do empresariado local e que deu o nome ao novo estádio do clube em 1950).
Eis a parte relevante do livro extraída do Google Books:
Livro de Nuno Domingos: Football and colonialism |
Podemos ver nesta bela foto reproduzida do FB Arsilnet a zona de fronteira sul de Moçambique e a baía de Kosi na África do Sul.
Vermelho: linha de fronteira de Moçambique a norte com a África do Sul a sul Azul escuro: lagoa de Kosi Azul ultramarino: baía de Kosi |
Comentários
Os meus cumprimentos.
O establecimento da "Adriano Maia & Cia.Ltda." estaba localizado na Rua Consiglieri Pedroso, fazendo esquina com a Travessa Antonio Furtado, onde tinha estado com antecedencia o John O'rr.
Um abraço.
http://housesofmaputo.blogspot.pt/2015/05/tobler-john-orr-casas-de-modas-na-rua.html
Se tiver lembrança do que a firma fazia no tempo em que a conheceu seria interessante. Cumprimentos.
Os meus cumprimentos.
A AM esteve operativa, que eu saiba, até 1975; nao sei se passou a época de transiçao e lhe sucedeu o mesmo que a muitas outras empresas.
Seguia tendo representaçoes, sobretudo de maquinas, motores e material de irrigaçao.
Um forte abraço