Fábrica do sabão Pioneiro de Lourenço Marques cerca de 1952

Voltamos às explêndidas reportagens do filme Aspectos duma Capital disponibilizado em linha pela Cinemateca Portuguesa. Com imagens retiradas do filme mostramos aqui a fábrica do sabão Pioneiro a laborar em Lourenço Marques, actual Maputo cerca de 1952. O suposto valor acrescentado do HoM é chamar a atenção para o filme, mostrar o edifício actualmente e por isso localizá-lo.
Fachada mais longa da fábrica do sabão Pioneiro 
Como se vê melhor na imagem seguinte a fábrica ficava numa esquina e do lado esquerdo pode ver-se que a empresa se chamava "The Moçambique Soap & Oil Co Ltd".
Fachada mais longa para a direita da esquina
Cores: ver na foto seguinte
No poste está pendurado um equipamento que deve ser um sinal para passagem de combóios dado haver por aqui um ramal. Como esta fábrica ficava na zona industrial da Baixa (mas oficialmente Maé) a construção que se via no seu telhado permite localizá-la. 
Vê-se na foto seguinte a mesma fábrica há pouco tempo, com a fachada das 3 janelas e a construção no telhado também numa esquina.
Verde: Av. Barre, antiga Paiva de Andrade.
Castanho: Av. Manganhela, antiga Álvares Cabral
A antiga Av. Paiva de Andrade era a que passava em frente ao Liceu António Enes, que ficava para as costas na foto de cima. Para o fundo dela fica o porto onde surgiam já os pilares da nova ponte para a Catembe. 
O nome completo da firma era "The Moçambique Soap and Oil Co, Lda". Isto estava escrito a meio da altura da fachada da actual Av. Manganhela e na parte inferior (que agora na imagem está tapada a azul) do outro lado da esquina na actual Av. Barre (ver mais acima nesta avenida). Conclui-se assim que a fábrica do sabão ficava para norte da fábrica do Ginwala estando as duas separadas pela Av. Álvares Cabral, actual Manganhela. Penso que as companhias se associaram a certa altura e também com a fábrica de óleos de Paulino de Santos Gil que suponho fosse perto.

Agora imagens do fabrico, embalagem e despacho do sabão:
Maquinaria industrial e um técnico
Barras do sabão prontas a ser colocadas em caixas de madeira
Caixas com 30 kg de sabão Pioneiro a ser fechadas (devem ser 12 barras)
Caixas para a camioneta estacionada na actual Av. Manganhela
com a cabine a chegar à esquina com a actual Av. Barre


Camioneta pronta a partir com o carregamento
Vê-se na última foto que na esquina diametralmente oposta à fábrica do sabão Pioneiro havia uma construção modernista também do tipo comercial ou industrial e que deve ainda existir.

Como comentário mais sociológico (de algibeira) parece-me que estas imagens de 1952 com uns empregados africanos em trajes quase menores e atitude muito servil, um "chófer" europeu de mão na anca e outro senhor europeu mais idoso no genéro capataz a observar mais ao fundo, não seriam aprovadas pela "psico-social" num filme de propaganda (como este óbviamente era) no início dos anos 60. Quer dizer ou a cena não existiria nos anos 60, pois por exemplo o chófer podia já ser africano e os operários usarem um fato macaco, ou se no fundo nada tivesse mudado outras imagens seriam escolhidas. Mas como se vê em 1952 o olhar sobre estes assuntos da chamada "problemática colonial" ainda era inocente. 

Comentários

Adarsh disse…
Excellent write-up and great final observations. Probably the only thing that can be said of such an unfortunate thing as colonialism is that the "solution" came much too late. If the European powers of that time had reached for greater tolerance and integration we might have had the system that exists in for example Brazil. There would be no reason for war, civil war, famine, economic destruction and the long-hard look in the mirror as the realization sinks in that conflict in Africa has never resulted in anything good.
Rogério Gens disse…
Hello Adarsh: Thank you for the comment. When I saw that movie sincerely I have not thought about the solution. In fact once colonization (people moving and ruling non native lands) and then colonialism (exploitation linked to colonization) happens I do not know if there is a solution and even less a good one and which one can/could be. What I saw is that if in 1952 that looked normal enough to be shown on an official movie, then nobody had seen there was a problem and so nobody was seeking solutions. Ten years later at least somebody would spot there was a problem and that movie would not be possible (either because situation would be improved or the movie censored) but it would then be too late to change the mistakes of the past and the course of things. Sure for me to talk about buildings and streets is easier than about those subjects. Best regards.
antonio Ughetto disse…
trabalhei com meu pai na Fábrica de Sabão "Saborel" pertença da Fasol em 1959 a 1962. Os trabalhadores Africanos sem camisa, engraçado que meu Pai Ludo Ughetto Italiano, e eu próprio também estavamos não em tronco nú mas de
camisola interior sem mangas só alças eu muitas vezes estava de tronco nú por causa do calor a àbrica era no Língamo Matola bem perto da fábrica de Bolacha maria CIM e massas alimentícias creio que o sabão azul tinha o nome de Colonial.È verdade que o "Capataz" era branco mas eu trabalhei ao lado dos "negros" fazendo o mesmo trabalho excepto carregar sacos isso porque não era suficientemente forte, até gostaria fazer exercícios pois tinha 15 anos saí com 18 da fábrica quando fui cumprir serviço militar.