Firma Lousã & Antunes e localizações em Lourenço Marques nos anos 50 e 60

Uma mensagem sobre uma firma de Lourenço Marques, actual Maputo que eu conhecia bem de nome mas de que até há pouco não sabia a actividade nem o local. 
A propósito dum prédio projectado em 1958 por Pancho Guedes e que ficava no lado poente da Av. da República, actual 25 de Setembro, um leitor comentou que aí esteve instalada a firma Lousã & Antunes (L&A) e que para o final dos anos 50 e certamente nos anos 60 a firma L&A era importadora do conhecido vinho Sanguinhal. Entretanto uma filha de José Antunes deu mais informações (comentários em baixo) confirmando que ele era o único proprietário desse prédio e por esses tempos também da firma L&A.  
O filme Aspectos duma Capital da Cinemateca Portuguesa de 1952 a páginas tantas mostra esta bonita placa de estilo antigo:
Lousã e Antunes, Lda
O L&A era então um armazém de tecidos, vinhos e mercearias. O filme é mudo mas nos enquadramentos logo a seguir mostra estas duas cenas:
Tecidos e vinhos
Lógicamente podemos intuir que estas duas cenas (de imagens quase fixas) são também relativas à L&A. Para mais o vinho Sanguinhal era uma marca da grande distribuidora portuguesa Abel Pereira da Fonseca de que se vê os barris. Sobre a Reguladora que se vê também nos barris só sei que era uma fábrica de contadores e pequenos aparelhos mecânicos de Famalicão em Portugal e que por acaso abriu uma fábrica em Lourenço Marques já em tempo de ocaso provincial, mas óbviamente essa Reguladora não tem nada a ver com os produtos importados pela L&A.
Entretanto no jornal Diário de LM de 1966 aparece um anúncio duplo da L&A que indicava a sua continuação nos mesmos ramos comerciais de 1952 embora tivesse em parte evoluido dos tecidos para o vestuário. É pena não se ficar daí a saber onde a L&A era em 1966 porque estranhamente as firmas tinham uma fixação por Caixas Postais, como se o leitor do jornal fosse comprar a roupa ou o vinho a uma C.P. 
L & A, vestuário e vinho em 1966
Entretanto o especialista e dedicado pesquisador sobre fotografia em Moçambique Paulo Azevedo recolheu dum artigo de Dezembro de 1952 no jornal Notícias de LM a imagem seguinte da Rua Araújo vista para poente e em frente ao Teatro VarietáOlhando-se com atenção para o lado direito = norte da rua vemos uma loja com letras por cima das portas onde parece estar escrito Lousã & Antunes Limitada. Nesta foto não se via a placa "vintage" nem o candeeiro que aparecem no filme mas as janelas do primeiro andar nessa primeira foto do filme eram do mesmo tipo que nesta foto. 

Rua Araújo perto da Praça 7 de Março antes da esquina do Hotel Carlton
Estas deduções foram posteriormente confirmadas por uma filha do Sr. José Antunes que informou que a primeira loja do pai ficava na Rua Araújo em frente ao Teatro Varietá e por isso estaria na foto de cima do lado direito e que em 1966 a firma L&A passou deste local para o prédio José Antunes (conhecido por Sanguinhal ou Catembe) .
Com a montagem seguinte e comparando as duas fotos nela incluídas com as de cerca de 1952 do filme e do jornal mostradas em cima podemos ver a evolução do prédio na Rua Araújo, actual Bagamoyo (onde esteve a L&A até 1966) ao longo de cerca 80 anos (prédio marcado a vermelho):
à esquerda: parecia ser um Restaurante Bar. As entradas estavam posicionadas 
sob as janelas do 1o andar como na foto do Notícias de 1952.
à direita: as janelas de agora parecem as mesmas de 1952 mas foi acrescentada
uma cobertura exterior no R/C. O prédio é muito mais longo do que se viu antes.
Parece-me então que apesar das diferenças o prédio que penso não teve alterações recentes é ainda o de 1929, mas que houve certas modificações feitas de 1929 até cerca de 1952 e outras modificações feitas de 1952 em diante.

Comentários

Anónimo disse…
Não posso esclarecer o que quer que seja em relação às imagens de 29 e 52. A única coisa que posso garantir é que a estrutura do prédio não se alterou. Repare que à direita desse edifício, na foto mais recente, se vê um bocado da fachada da sede da COOP, Mealheiro Cooperativo e da Nossa Livraria, creio que construído na década de 60
Nos anos 70 foi ocupado pelo BCCI onde tinha as secções de Letras, Fianças e Estrangeiro, esta já localizada em parte do outro prédio de varanda colonial, em cujo 1º andar era a Contabilidade.
Anónimo disse…
Complementando: "A Reguladora" é (era?) uma empresa de aparelhos de precisão e relógios de parede, com sede em V. N. de Famalicão. A empresa Lousã & Antunes foi representante dos relógios Seiko em Moçambique. Talvez ainda haja quem consiga recordar-se que a montra do lado direito da loja tinha sempre esses relógios em exibição.
Rogério Gens disse…
Caro leitor: Obrigado pela informação. Se bem o entendo o prédio de que se fala aqui e o seguinte para poente - que tinha sido da ZUID - foram parcialmente ocupados pelo BCCI - cuja sede era próxima, na esquina da Praça - a partir de meados dos anos 60. Continua ...
Rogério Gens disse…
Caro leitor: Aqui ao falar da "Lousã & Antunes" assumo que esteja a referir-se às instalações na antiga Av. da República, o chamado prédio Sanguinhal ou Catembe.
Quanto à Reguladora falei aqui porque aparece escrito nos tampos dos pipos. Pensei depois se estaria relacionado com as Comissões Reguladoras de Vinhos e se seria de vinho a granel mas com um certificado. Fica-se sem saber. Obrigado e cumprimentos.
Anónimo disse…
Diria que totalmente ocupado pelo BCCI.
A sede, como bem refere, ficava na Pr. 7 de Março, onde antes tinha sido o Café Nicola. Todavia, as instalações tinham ligação interna entre a sede e a ex-Zuid, pese embora os vários espaços tenham sido adquiridos ao longo do tempo e "emendados" por escadas e corredores.
Rogério Gens disse…
Obrigado. Interessante e só quem andou por lá poderia saber.
Zaen disse…
A firma Lousã & Antunes foi fundada pelo meu pai José Antunes juntamente com um sócio de nome Lousã.
Entretanto a sociedade desfez - se mas o meu pai manteve o mesmo nome.
Nunca conheci o sr Lousã.
Começou como é dito na rua Araújo, vendia essencialmente capulanas e era o representante em Moçambique do vinho sanguinhal, da firma Abel Pereira da Fonseca.
Depressa evoluiu para outras áreas.
Representava tb o leite condensado Mariazinha, cujo rótulo era s fotografia da minha irmã a seguir.
Passou a importar relógios Seiko, Electrodomésticos National, máquinas de costura, roupa confeccionada.
Como o negócio se expandiu bastante, o meu pai decidiu perpetuar o seu nome, construindo o prédio José Antunes, para onde mudou a firma. na av da República, no ano do famoso Claude.
Rogério Gens disse…
Obrigado. Fiz algumas mudanças no texto do artigo e o resto da informação fica nos seus comentários.