Stiloguedes - (97) - Ampliação com dois blocos para a família de José da Silva de 1957

Num artigo recentemente publicado no site bigslam Nelson R. Santos Silva que aí relata principalmente a vida do seu avô José da Silva revelou que um prédio pertencente à sua família foi projectado pelo Arq. Pancho Guedes (PG), o que até agora pelo que sei era desconhecido dos especialistas. O projecto não faz parte da lista do consulado português, da lista e mapa Guedesburgo, do mapa do arquitecto para as suas visitas e do site artefacts.co.zaPara este artigo Nelson R Santos Silva forneceu infomações adicionais e é peremptório na atribuição, pelas suas recordações pessoais, por Pancho Guedes ser das relações do seu pai e por o assunto ter sido nesses tempos tema de conversas familiares.
projecto deve ser de 1955 ou 1956 pois começou a ser habitado em meados de 1957. Trata-se de dois edifícios que foram rodear a primeira moradia do avô de Nelson R. Santos Silva de modo a que as famílias dos seus quatro filhos passassem a viver consigo. O terreno fica no canto das Avenidas Augusto Castilho, actual Vladimir Lenine e 31 de Janeiro, actual Agostinho Neto. A referida primeira moradia tinha sido construida ao centro do terreno com fachada para a Augusto de Castilho, as ampliações de Pancho Guedes ficaram uma à sua esquerda = sul, ocupando o terreno vago próximo da esquina e outra à sua direita = norte mais para o centro do quarteirão.
Apresentamos duas fotos reproduzidas com a devida vénia do artigo original no site bigslam e que são de autoria de José Manuel Dantas.


FOTO 1 
Fachada do conjunto para a Av. Lenine com a primeira moradia ao centro
e os dois blocos da ampliação por Pancho Guedes de cada lado

Para melhor orientação, na FOTO 1 a esquina com a antiga Av. 31 de Janeiro está à esquerda e a Igreja nova da Malhangalene fica a uns 250 metros para a direita.


FOTO 2
Bloco da esquerda na antiga Av. 31 de Janeiro, actual Neto vendo-se
 até à esquina com a antiga Augusto de Castilho, actual Lenine

Na FOTO 2 nota-se que o terreno na face para a Av. Neto 
desce para o lado esquerdo da foto = poente no sentido da antiga Escola J. Araújo e dos SMV, actual TPM. A entrada para os dois apartamentos deste bloco era onde estão os portões e nota-se a caixa de escada correspondente no edifício. Por trás dela vê-se um pouco das traseiras da primeira moradia.
O desenho desta ampliação não mostra a habitual criatividade e arrojo de PG sendo as formas convencionais e a decoração do tipo modernista, com as fachadas marcadas pela utilização parcial de brise soleil. Nesta posição de terreno os brise soleils eram importantes precisamente onde foram aplicados na FOTO 2, no canto virado a poente e a sul do bloco da esquerda. No bloco da direita que ficava virado a nascente penso que os brise soleil tentaram principalmente dar certa unidade estética ao conjunto. No entanto como a propriedade deve ter sido repartida posteriormente à expropriação destas residências no pós independência e para além dos acrescentos às fachadas umas partes estão pintadas e outras não, actualmente sem a informação de Nelson R. Santos Silva seria dificil relacionar o bloco da esquerda com o da direita, que parece particularmente mal conservado. 
Para edifícios na mesma posição do bloco da esquerda, embora não fossem residências, PG aplicou também brise soleils que ficaram preponderantes nas fachadas embora sem o aspecto de rede que aqui tiveram. Será essa preocupação com o control de temperatura e luz do sol poente um traço de ligação entre este e outros projectos de PG como sejam o Barclays, os três na Praça dos Caminhos de Ferro (SpenceLobo e Abreu) e o da Reunidas em Lhanguene. Outro traço será o pormenor de o prédio ter sido originalmente decorado/pintado de uma forma pouco usual. Onde está o laranja actual era ocre e onde está o amarelo era cinzento, tendo as tintas sido misturadas com areia e provávelmente cimento para se constituir o reboco exterior. De resto por essa altura PG fazia por exemplo a Creche Piramidal, as Geminadas Aurélio Gama e o prédio Isauro Lopesem estilos que se tornaram mais tarde convencionais na cidade mas que nessa época foram percursores.
Para além dos edifícios, que eram a primeira moradia e os dois novos blocos de rés-do-chão e primeiro andar com quatro apartamentos, esta residência tinha ainda jardim, local de estacionamento, quintal, arrumos e quarto e casa de banho para empregados. Entre o muro exterior e o bloco da esquerda havia um espaço de uns 6 metros de largura com canteiros de jardim e um passeio e que está agora ocupado pelas instalações comerciais semi-provisórias que se vê nas fotos. A família tinha considerado a hipótese de ser acrescentado pelo menos um segundo andar aos dois novos blocos e de se ampliar os seus apartamentos, o que não foi concretizado até à sua partida de Moçambique. 

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