Zona litoral de Lourenço Marques, actual Maputo a ocidente do Cais Holandês

Já vimos três destas imagens (FOTOS 3, 4 e 5) aqui na mensagem sobre a linha férrea para Ressano Garcia mas agora vamos olhar primordialmente para o que a linha permitiu em termos de aterro das zonas pantanosas ou pelos menos húmidas do litoral do estuário a montante e compará-lo com o conseguido junto ao burgo de Lourenço Marques a partir de 1877 e que começamos a ver aqui.
A FOTO 1 é inédita no HoM e como as outras dessa altura de C.S. Fowler é duma fase de preparação para a linha num local encostado à barreira e que tem o estuário para a esquerda = sudoeste. Nesta zona mais ocidental do litoral do estuário a caminho do vale do Infulene se se fizeram aterros foram muito limitados e como se pode ver aqui não pode ter sido a linha a servir de dique contra a entrada de água do estuário. 

FOTO 1
Trabalhos preparatórios da linha férea na aproximação ao vale do Infulene
Como já dissemos o concessionário da linha, Coronel McMurdo, teria contractualmente de começar a operá-la em 1887 mas em 1886 ainda não tinha iniciado os trabalhos. Para adiantar as Obras Públicas (OP) tomaram-nos a cargo em Junho de 1886 e fizeram-no pelo menos até ao Infulene. Assim o plano dos Engs. Machado e Araújo de aproveitar o concessionário para obter um dique melhor que o inicial saiu "furado" pois foram as OP que acabaram por fazê-lo. Quando McMurdo ficou em condições de prosseguir em princípio McMurdo iria pagar o que as OP tinham feito mas como depois foi nacionalizado não sei como ficaram essas contas. Interessante é podermos comprovar estas delicadas manobras técnico-financeiras e 131 anos depois neste detalhe da FOTO 1 e olhando para o carrinho de mão do operário:

Pormenor da FOTO 1
Carimbado OP no carrinho de mão em madeira 
nos trabalhos entre a baixa e o Infulene
Passamos agora a uma imagem de Google Earth muito mais abrangente do que vimos até agora da orla do estuário do Espírito Santo, actual de Maputo. Onde está marcado SUL foi a Ponte ou Cais Holandesa de 1890. Aí com os traços paralelos indico os terrenos que podem ter sido aterrados a partir das três grandes infraestruturas feitas na zona: o dique inicial de 1880 (carmesim), a linha férrea de 1886/87 (vermelho), a ponte-cais Gorjão até 1915 (laranja) e a sua extensão posterior (castanho escuro). Aterros sobre pântano foram feitos só com o dique inicial e a linha férrea, os outros dois tipos de terreno (laranja e castanho escuro) foram já conquistados ao estuário, pelo menos em grande parte. Noto que em muitos locais devia ser indefinido o que era exactamente o terreno que normalmente se refere como tendo sido pântano (podia ser praia, de areias movediças, pântano mesmo, zona inundável, sempre com água).


Imagem GOOGLE EARTH, baixa e zona ocidental de Maputo
Vermelho: linha férrea de LM à esquerda 
para Infulene e Ressano Garcia à direita
Carmesim: dique inicial para drenagem do pântano
Azul e preto: valas do dique inicial do lado ocidental
Verde claro: Av. da República, actual 25 de Setembro
Amarelo: Av. General Machado, actiuual Guerra Popular
Castanho claro: Rua Paulino dos Santos Gil
Cinzento: Av. 5 de Outubro, actual Josina
Branco: zona vista na FOTO 1 da mensagem anterior
Zonas listadas: aterros proporcionados por cada uma das infraestruturas
Rosa: quartel do Alto-Maé
Roxo: antiga Praça dos Pioneiros no fim da Av. 24 de Julho
Na imagem do GOOGLE EARTH de cima é indicado onde e como se tiraram as FOTOS desta mensagem. A FOTO 1 é a única que não o é precisamente pois foi tirada uns dois quilómetros para a direita da seta respectiva. 
A imagem mostra em cima a direcção da ponte-cais mais ou menos na horizontal e a barreira (actualmente ainda notória na faixa arborizada a sul do quartel) fica-lhe paralela uns 1300 metros para o interior. O principal objectivo da imagem é ver-se a linha férrea (vermelho) que saiu dum primeiro pequeno aterro feito para sul da antiga "ilha", no ângulo 1 a flectir para a barreira e no ângulo 2 ao atingir a barreira a flectir de novo para prosseguir para poente encostada a ela. O ângulo 1 é pouco pronunciado de forma a que, passada a vertical entre o SUL e o quartel até à qual havia o dique inicial e onde a linha férrea tinha acrescentado pouco aterro, a linha férrea possibilitasse o acrescento do aterro listado a vermelho, que ficaria entre ela e a barreira e seria necessário nas partes que fossem de pântano. 
O centro da zona listada a castanho na imagem do GOOGLE EARTH - onde se nota da esquerda para a direita o terminal do açúcar, as oficinas dos CFM e o depósito de máquinas moderno - era cerca de 1929 ocupado pelo Cais das Estâncias. Esse terreno foi sendo depois desactivado e aterrado mas nos anos 50 e 60 ainda não estava na situação actual (ver aqui a FOTO 5 desses tempos com as oficinas dos CFM muito mais perto do estuário do que estão agora). 
Na mensagem sobre o Cais das Estâncias está uma mapa de 1903 que mostra o espaço para norte da linha (para baixo na imagem do GE e listado a vermelho) como "antigo pântano drenado". Na FOTO 2 já conhecida e tirada da barreira da Malanga vemos a linha férrea (o combóio vem dum ramal duma das firmas, a linha principal passa do lado de cá do edifício dos CFM) e para cá dela (norte) um antigo pântano plantado com hortas. De facto os cidadãos chineses que depois se ocuparam com grandes resultados da agricultura na zona da Manhiça começaram por aqui.


FOTO 2
Vista da barreira para sul: antigo pântano, estrada, linha férrea, cais das estâncias, estuário e Catembe ao fundo na margem sul do estuário
Finalmente as três fotos de Fowler já conhecidas da construção da linha férrea na zona em questão e cujas direcções e posições são marcadas na imagem de cima do GE.


FOTO 3
Vista da barreira perto da Praça dos Pioneiros para a "ilha" donde vinha a linha
Nesta recta da FOTO 3, ao princípio vê-se que do lado direito havia terra firme por isso por aqui só haveria pântano para a direita = sul e mais para o fundo.
Na FOTO 4 seguinte estamos nessa zona sem árvores que se via distante na FOTO 3. Há uns pequenos arbustos nas próximidades mas há zonas com clareiras que podem ser pantanosas o que é difícil de afirmar-se com estas fotos. Também é de notar que se tivesse havido possibiilidades de escollha este trabalhos teriam decorrido no período do ano de marés mais baixas pelo que as fotos não mostrariam a situação mais comum do local. Na FOTO 4 vê-se bem do lado direito a barreira que vai gradualmente perdendo elevação em relação ao seu máximo que é atingido na zona do quartel do Alto-Maé.

FOTO 4
Ao fundo da recta a linha encontrava a barreira da Malanga
em sentido contrário ao que se vê na FOTO 3
Para o fundo da recta da FOTO 4 ao chegar à barreira via-se assim o ângulo 2 da linha.


FOTO 5
Trincheira aberta para a linha férrea ao chegar à barreira
Do lado esquerdo na FOTO 5 via-se o estuário como se via na FOTO 1 mas aqui uns 2 quilómetros antes, mais para nascente. 
Resumindo vimos aqui nas zonas mais baixas e perto do estuário certas áreas que depois de construida a linha férra podem ter sido drenadas e aterradas e outras área mais próximas da barreira que não o precisaram de ser. No entanto em períodos de chuva intensa zonas normalmente de terra firme podiam transformar-se em pantanosas dado o terreno ser argiloso e dificultar a penetração da água para o subsolo e haver pouca vazão para o lado do estuário. Ficamos também com ideia da pequena área total de aterros que o dique inicial proporcionou em comparação com o tornado possível pelas três infraestruturas subsequentes (linha férrea, ponte-cais Gorjão até 1915 e seu prolongamento posterior).

Comentários