Caminho de ferro entre Lourenço Marques e Pretória - pontes depois do km 76 de Chanculo e variante

Continuamos com fotos de pontes pequenas e médias da primeira linha de caminho de ferro construída em Moçambique a partir de Lourenço Marques, actual Maputo. Estas pontes ficavam a partir da estação de Chanculo que fica ao km 76 e até à estação de Incomáti, que fica na margem direita do rio de mesmo nome e a 8 km da fronteira com a actual África do Sul (ao fundo apresento um quadro com os Kms dos apeadeiros e estações da linha e assumo que esteja correcto)
As fotos mais acastanhadas são de Manuel Romão Pereira (MRP) e do Centro Português de Fotografia e foram feitas em 1889/90 durante a reconstrução da linha depois de cheias catastróficas. Apresento-as por ordem crescente relativamente aos seus quilómetros na linha.


FOTO 1
CPF #27 - Nova ponte sobre a ribeira Majojo, km 78,66 (foto de MRP)
Segue-se outra ponte uns 1 300 metros adiante da de cima:

FOTO 2
CPF #28 - Nova ponte sobre a ribeira Faleni, km 79,0 (foto de MRP)
As novas pontes das FOTOS 1 e 2 têm pilares constituidos por cilindros metálicos. É interessante ver que nas que tinhamos visto nas mensagens anteriores sobre a reconstrução se tinham substituido os pilares deste tipo de antes das cheias por pilares feitos em alvernaria. Dá ideia que os substituidos foram reaplicados aqui, talvez fosse julgado terem robustez suficiente para as características deste trecho da linha.  
Na FOTO 3 aparece a única ponte para a qual talvez tenhamos a versão inicial nas fotos de Fowler e a posterior nas de MRP mas a certeza é pouca. 


FOTO 3
Ponte nas fotos de Fowler tal como foi inaugurada
Pela posição no álbum de Fowler (inserida imediatamente a seguir à que foi vista na FOTO 4 do artigo anterior) a ponte da FOTO 3 ficava provávelmente depois de Chanculo como as de MRP que vemos aqui. 
A legenda da foto da ponte seguinte, tirada em 1889/90 depois das cheias, mostra que não era nova:

FOTO 4
CPF # 29 Ponte sobre a ribeira Chicula-o-mo ou Cherandella, 
depois de elevada e consolidada, km 80,0 (FOTO de MRP)
O tramo principal da ponte reconstruida em cima poderá ser o mesmo do da FOTO 3 mas para ser verdade teria de ter havido uma extensão para a esquerda e mais alterações importantes. Um ponto que penso se explica em baixo é como estando essa ponte dentro da variante (ao km 80,0, que fica entre os kms 77,8 e 80,36) como teria ainda assim podido continuar a ser a mesma do traçado anterior, só com modificações.  
Ter sido feita aqui uma variante à linha inicial deve significar que nesta zona o problema não se limitou às pontes como nas reconstruções que vimos anteriormente ou a arranjos na linha que não vimos mas que suponho tenham existido em maior ou menor extensão. Aqui terá sido mais grave porque a própria linha férrea deve ter sido bastante afectada pelas torrentes em mais de dois quilómetros de extensão.
As legendas das FOTOS 1 e 2 dizem que são novas. Se se reconstruiu a linha num novo local (perto ou longe do anterior tanto faz) obrigatóriamente tiveram de se fazer novas pontes (é por isso mesmo que a legenda da FOTO 4 inicialmente me pareceu estranha). O que não sabemos é se teria havido ou não antes das cheias pontes correspondentes às ditas novas ou se não tinha havido e se decidiu a sua construção para prevenir futuros incidentes.
Podemos ver aqui esta zona da linha actualmente no Google Earth (maps) e procurando pela variante, passados mais de 125 anos, parece-me haver ainda indicações do que se passou. Suponho que a linha inicial tivesse sido onde agora está uma estrada do lado direito da linha actual (à actual é que foi chamada variante em 1889/90). Há noutros pontos picadas ao longo da linha mas esta é de traçado muito mais regular e de piso mais homogéneo. O início do afastamento entre a estrada e a linha corresponde ao referido km 77.8 de início da variante referido nas legendas das três fotos de MRP (tendo como referência mais próxima Chanculo ao km 76). 
Esta é foto do Google Earth (GE) na zona que pode também procurar ver à sua maneira através do link posto em cima (ver aqui):


FOTO 5
Seta branca: estrada actual que deve ser no traçado da linha inicial. 
A curva é tão perfeita que não deixa dúvidas que foi feita para o combóio.
Setas carmesim e laranja: duas pequenas pontes, 
suponho que uma aberta por isso a linha estaria encerrada para reparação
Como se vê a linha actual ficou mais afastada do rio que a inicial mas o principal motivo para a mudança terá sido colocá-la cerca de dois metros mais alto pois há aí uma colina elevando-se para a esquerda. Este deve ser um dos casos a que McMurdo se referiu ao dizer que se a linha estava mal desenhada e se foi afectada pelas cheias a culpa não era dele pois seguiu o que lhe foi imposto pelas Obras Públicas. Não sei muito bem como estavam distribuidas as responsabilidades no desenho em pormenor da linha, mas uma coisa é certa o que Mc Murdo fez teve de ser aprovado pelas autoridades antes e depois da construção.


Vê-se então no solo actual o começo do traçado da linha inicial mas pouco depois de se atingir o rio essa marca desaparece. Pelas medidas no GE isso acontece cerca do km 78.6 e teria havido variante até ao km 80,36. Pergunto-me ter-se-á chamado também variante a partir daí mesmo que só se tivesse aumentado a altura da linha? É que isso seria a explicação para o facto de na FOTO 4 ter-se simplesmente levantado a ponte e ser considerada dentro da variante. Se a linha foi levantada e já vinha levantada de trás ao ter subido a colina então a ponte inicial também teria normalmente de o ser.
Uns 500 m mais adiante nesta zona que fica um pouco antes da estação de Incomáti há uma antiga pedreira na encosta do monte de que a pedra muito provávelmente serviu para a construção da linha.
Quanto a pontes, na margem do Incomáti temos actualmente duas de comprimento médio que pode também procurar no GE: 


FOTO 6 e 7
Duas pontes que certamente estarão na posição de duas
das três que vimos em cima em 1889
As pontes das FOTOS 1 e 2 não terão durado muito mas a da FOTO 4 com os pilares em alvenaria era mais sólida. Só procurando lá se poderia ver se ainda resta algo dela nesta zona entre Chanculo e Incomáti mas numa outra mensagem veremos fotos recentes da linha e das suas obras de arte e havia até há pouco partes antigas ainda reconhecíveis. No entanto estão a ser e têm urgentemente de ser mudadas porque já atingiram três vezes mais do que a vida útil que se esperava delas. 

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