Caminho de ferro entre LM e Pretória - pontes pequenas e médias até ao km 76 de Chanculo

Temos até agora falado principalmente das pontes grandes da linha de caminho de ferro entre Lourenço Marques (LM) e Pretória pois eram mais importantes e porque à primeira vista parecia mais fácil encontrar-lhes correspondência entre as fotos de Fowler que não tinham legendas e as de Manuel Romão Pereira (MRP) que tinham. 
As fotos de Fowler foram feitas durante a construção inicial da linha em 1886/87 e as de MRP 1889/90 durante a sua reconstrução em consequência das grandes chuvas de Janeiro de 1889. Essa reconstrução envolveu o reforço de algumas das pontes iniciais, a substituição de outras e também a construção de novas onde se concluiu formarem-se torrentes de água.
Para as pontes grandes afinal foi difícil encontrarem-se essas correspondências (encontramos só para Chicongene e para a Matola que é uma ponte média). Para as pontes pequenas como veremos e como previsto também não é fácil. 
Vamos ver aqui estas obras de arte da linha até ao km 76, da estação de Chanculo, porque daí para a frente entra-se numa situação especial que explicaremos depois. Começamos pelas únicas fotos destas que talvez correspondam. 
No artigo anterior sobre a construção e reconstrução da linha mostrámos a ponte seguinte fotografada por Fowler durante a construção:


FOTO 1
Fowler - ponte provávelmente a seguir à Matola com taludes dos aterros inacabados
Eis uma das fotos de MRP na posse do CPF após as cheias:

FOTO 2
CPF #04 - "Ponte da Ribeira Tamaquetana antes reparações. Km 34"
A ponte na FOTO 2 não tinha sido ainda reparada e nem parecia muito afectada. A foto não deixa ver muitos pormenores, por exemplo os pilares parecem únicos mas sabemos que são duplos. Tentemos então ver as duas fotos com mais atenção e comparemos:

FOTOS 1 e 2 com mais pormenor
Verdes: pontos de ligação de secções dos tramos metálicos
Branco: pontos onde a ligação não era saliente 
Laranja em cima (FOTO 1): selos em relevo
Laranja em baixo (FOTO 2): onde deveriam estar os selos se a ponte fosse a mesma
Vermelho: único ponto de divergência e nem é seguro 
A ponte da FOTO 2 parece assim ser a mesma da FOTO 1. O local é semelhante se considerarmos que passaram dois anos entre elas, as pontes têm comprimentos e alturas parecidos, têm dois pares de pilares ao centro e mais um par em cada ponta e os tramos são em chapa maciça. Nas divisões dos tramos em secções como vimos só há um possível ponto de divergência. Então se aparecessem os selos em relevo também na FOTO 2 de baixo não haveria dúvida que é a mesma ponte ou seja que teriamos localizado na ribeira da Tamaquetana uma (duas de facto) fotos de Fowler. Como parece que só os senhores do CPF têm a FOTO 2 com a resolução completa, dava um jeitaço se fizessem o favor de verificar isso ...

As fotos de Fowler parecem-me ser apresentadas no álbum ordenadas pela localização, de Lourenço Marques (LM) para Ressano Garcia e isso pode ser tomado em conta nas comparações com as de MRP onde a ordenação advém dos kms nas legendas. Por exemplo a FOTO 2 de MRP é segundo a sua legenda ao Km 34 pelo que ficaria a seguir à ponte da Matola (km 26.7) e a FOTO 1 no livro de Fowler aparece logo a seguir às fotos da Matola, por isso parece também haver aí alguma convergência. 
Seguindo essa possível lógica organizativa do álbum de Fowler, a ponte da sua FOTO 3  que não tinha sido ainda publicada no HoM surge no álbum nas páginas a seguir à ponte de Chicongene/Secongene e deve então ser depois do seu Km 61.8. 

FOTO 3
Ponte pequena fotografada por Fowler em 1887
E a pequena ponte da FOTO 4 fotografada por Fowler, que também mostrámos no artigo anterior sobre a construção e reconstrução, seria para o final dos 82 km que a linha teve inicialmente: 


FOTO 4
Ponte pequena, em local desconhecido mas presumo na aproximação ao Rio Incomáti
Antes de passamos às restantes fotos de MRP para comparação com as duas de Fowler mostradas em cima de cima, para nos localizarmos mostro de novo o plano do Engenheiro Machado que embora impreciso tem os nomes de muitas ribeiras da zona e que pelo menos mostra a sua sequência. Como já dissemos certas grafias de locais são ligeiramente diferentes das usadas durante a construção da linha e que chegaram até hoje.

MAPA 1882/84
Castanho: Linha férrea, de Lourenço Marques à direita junto ao mar
até à fronteira do Transvaal à esquerda no interior
Roxo: ribeira da Tamaquetana da FOTO 2 e provávelmente da FOTO 1, ao km 34
Carmesim: ribeira de Bandanine, ver FOTO 5, ao km 51
Azul escuro: ribeira de Ponduíne, ver FOTO 6, ao km 64.5
Passemos então às fotos restantes de MRP que veremos não se assemelham às duas de Fowler de cima. A primeira é da ponte de Bandanine, ribeira e local em que cruza a linha, se ela tivesse sido construída exactamente como ante projectada, que tem a marca carmesim no mapa.

FOTO 5
CPF #06 - Ponte sobre a ribeira Bandanine ao km 51 (marca carmesim no mapa)
A ponte de Bandanine não era parecida com as de FOTOS 3 e 4 de Fowler e pela posição (marca carmesim no mapa) também parecia ser antes delas pois essas deviam ser de depois de Chicongene.
Passemos para a ponte de Ponduine da marca azul no mapa e localizada ao km 64 que era já depois da ribeira de Chicongene. 

FOTO 6
CPF #10 -  Ponte sobre a ribeira Ponduine depois de reparada
 e consolidada. Km 64.5 (marca azul no mapa)
A ponte de Ponduine ao km 64.5 não era parecida com as das FOTOS 3 e 4 do início. 
E as duas últimas fotos são de Itanculo que deve ser uma ribeira tão pequena ou ocasional que parece não estar marcada no mapa.

FOTOS 7 e 8
CPF #20 e 21 - Ponte sobre a ribeira de Itanculo durante 
e depois das reparações ao km 68.1
A ponte de Itanculo ao km 68.1 antes das reparações não é parecida com nenhuma das duas fotos de Fowler. Pelo tamanho podia ser a da FOTO 4 mas diferem no tramo que aqui se vê na foto à esquerda era em malha de perfil metálico e que na ponte da FOTO 4 tinha uma viga maciça ao que se vê daqui.
Quanto ao processo de reparação pode-se ver que se fez um pilar central provisório para sustentar o tabuleiro enquanto se substituíam os pilares iniciais de cilindros metálicos. Depois substituiram-se os tramos laterais por viga onde assentava o carril e esses tramos devem ter sido reutilizados algures. 
Concluindo, desta primeira comparação das pontes pequenas e médias talvez se tenha identificado a FOTO 1 de Fowler - que não tinha legenda -  como sendo de Tamaquetana. Muita ginástica para tão pobre resultado. Continuaremos com mais pontes destas na próxima mensagem.

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